quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Filme “A Luz é para Todos”. Maravilhoso!




Assisti a pouco tempo o belo filme "A Luz é Para Todos", de 1947.  Narra a história de Phil Green, jornalista (interpretado pelo saudoso Gregory Peck) que decide se mudar para Nova York, onde é convidado pela revista a qual trabalha para escrever artigos sobre o antissemitismo nos EUA. Buscando um angulo completamente diferente, ele decide fingir ser judeu. Essa experiência permite a Green descobrir quais os sentimentos das pessoas a respeito do assunto. Ele e seu filho sofrem com a intolerância religiosa. Para se ter uma ideia, ele descobre na própria noiva, a indiferença e omissão. O filme, baseado no livro de Laura Z. Hobson, expõe a forma de ser do preconceito religioso nos EUA do pós-guerra, demonstrando que ele se manifesta não apenas de modo grotesco, mas de forma sutil nas pessoas que ficam indiferentes e omissas às atitudes preconceituosas.  Foi a experiência de ser judeu que permitiu Phil Green apreender as múltiplas nuances do drama humano do preconceito religioso. Imperdível!

A loja de pianos da Rive Gauche



Terrível o calor que faz aqui em Salvador. Mais um pouco e terei a impressão de que estou na Oran, de Camus; onde, como dizia o escritor franco-argelino, “o sol incendiava as casas”. Quero dividir com vocês hoje, o prazer que senti ao terminar a leitura do livro ”A Loja de Pianos da Rive Gauche”, do Franco-estadunidense Thad Carhart. O livro me cativou pela sinceridade do autor ao narrar a sua linda história de amor... Amor pela música, pelo instrumento e por... Paris, que para mim é a metáfora do encantamento em seu mais alto grau. Suas ruas, arquitetura, detalhes, cultura, extrapolam todo e qualquer conceito de desejo, e se ajustam impecavelmente no - com a permissão de Freud - princípio do prazer. Os encantos estão nos detalhes, e a oportunidade que tive em descobrir cada um deles, é um requinte que só os que sabem contemplar o majestoso podem deleitar-se. Apesar de ser fantástico, Não é imprescindível ver “Paris à meia-noite” para desvendar a cidade: basta flanar pelas suas ruas, pelos atalhos e você compreenderá o segredo dessa magia. Foi justamente isso que o autor desse livro delicioso fez: andando pelos arredores de sua casa, na Rive Gauche (que traduzindo para o português significa margem esquerda), deparou-se com uma pequena, porém graciosa loja de pianos. Não uma loja qualquer, mas um ambiente de consertos (e também de concertos, por que não?), de peças de colecionador, de raridades, arte e boa prosa. Como bem diz o autor, a frente da loja de pianos tem (...) “um charme sonolento do século XIX”. Fala de um tempo onde não há pressa, onde cada detalhe dos pianos é cuidado com a polidez das fadas, onde há o registro dos que dedilharam as teclas dos antigos Pleyel e outros pianos maravilhosos. Há a descrição particularizada do interior do instrumento, mas não uma descrição com imagens. Trata-se de uma observação sobre a alma que está na essência de cada peça.
Ao ler o livro, compreenderemos que cada piano trás na sua história, informações tão ou mais humanas, quanto a descrição de pessoas: os deprimidos, por exemplo, condenados a ficarem calados, quer pelo mau trato de seus donos, quer pelo desinteresse ou falta de aptidão de quem o toca, são lamentados. Um piano fadado ao silencio, (...) “é como se confinassem numa solitária alguém que tem muito a dizer”. O personagem Luc, uma espécie de médico dos pianos é uma criatura de alma linda, que trabalha com a sensibilidade de cada uma de suas peças de uma maneira carinhosa, sutil e entusiasmada. Tanto que, naquela loja, apenas algumas pessoas eram permitidas de entrar. Não há aquela ânsia capitalista de vender, lucrar e acumular. Para adquirir um piano, você tem que ser especial. Cada uma das pessoas que frequenta a lojinha, trás um enriquecimento ao leitor e adiciona detalhes, os quais escapam da mera observação de uma restauração, pois Carhart apresenta a essência de cada um e de cada passo: (...) “saber tocar as notas, é só o início; o trabalho de verdade só começa depois, quando quem toca acrescenta algo de si à intenção do compositor”.
Para concluir, digo que esse livro é um poema delicioso que nos ensina a nunca olhar um piano da mesma maneira. Um livro sobre a vida; suas descobertas, suas frustrações, seus encantos. Um livro difícil de parar; que se lê bem devagar para que ele não acabe logo. Para isso (...) “bata à porta, seja paciente e Paris poderá oferecer-lhe mais um de seus inestimáveis prazeres”.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Léo Ferré e a canção "Avec le temps"


“Léo Ferré é incontestavelmente um importante escritor do nosso tempo. É também um músico talentoso”.
Robert Hoville


Léo Ferré. Totalmente desconhecido da minha geração, o que é um terrível pecado, é simplesmente uma das vozes que consegue tocar mais fundo o coração humano. Poucos foram os cantores no mundo que viveram para a poesia e a música como ele. A grande força desse homem é a de ter exercitado, com o mesmo talento, a escrita literária, a composição musical e a interpretação.
Nascido em Agosto de 1916 em Mônaco, aos 14 anos já descobria o sentido da palavra 'Anarquia' enquanto o século prosseguia duma guerra à outra.
Com o pensamento inteiramente aberto e seu verbo absolutamente violento, sem concessões, inicia-se nos porões de Paris declamando poesias. Autodidata, estuda música com amigos imigrantes. Nos anos 50 grava seu 1º disco e começa um longo entrosamento com programas de rádio. E nos anos 60 marca o encontro com um trio que perduraria por 15 anos, ao lado de Maurice Frot e Paul Kscastanier. A partir de 1982 passa a produzir e realizar seus próprios discos.
Desafeto de muitos, sofreu até uma campanha de infâmia por suas letras demasiadamente fortes na década de setenta, Ferré pode sim ser considerado como um dos grandes poetas franceses do século XX. Sua poesia atacava a todos, ao Papa em, aos Maoístas em e em pleno Maio de 68 grava o hino 'Les Anarchistes'.
Para muitos um rebelde; talvez a impressão se deva por ter sido ele um poeta, compositor do pensamento libertário. Deixou-nos em 14 de Julho de 1993, aos 77 anos.
Uma das canções mais lindas desse grande artista francês é a tocante Avec Le Temps, lançada em 73 no álbum 'La Vie D'artist', e regravada por diversos artistas na França e no Canadá.
Infelizmente o Brasil de um modo geral, pouco sabe sobre esse artista fabuloso. Nas minhas modestas reflexões sobre música, conseguia ouvir suas canções sendo interpretadas nas vozes latinas de Maria Bethânia, Ney Matogrosso e Chico Buarque de Holanda, Mas...

Avec le temps...

 Avec le temps, va, tout s'en va.

(Com o tempo... com o tempo tudo se vai).

...Alors vraiment

Avec le temps on n'aime plus.

(Então, realmente, com o tempo não se ama mais).


Filme "Ó Jerusalem". Fantástico!


Maravilha de filme! Acabei de assisti agora o filme "Ó Jerusalém", que remonta minunciosamente a histórica batalha que rodeia a fundação do Estado de Israel em 1948. No centro destes acontecimentos estão dois jovens amigos Americanos, um Judeu e o outro Árabe. O seu envolvimento leva-os das ruas de Nova Iorque para a Terra Santa, onde arriscam as suas vidas e realizam inexplicáveis sacrifícios, para que possam lutar por aquilo em que acreditam. A história é narrada a partir dos pontos de vista alternativos dos Judeus, Árabes e Britânicos, todos eles colidindo na sua peleja pelo controle de Jerusalém. O filme, baseado nos relatos históricos do romance best-seller Oh Jerusalém, da autoria de Larry Collins e Dominique Lapierre, oferece um retrato rico de um conflito explosivo que ecoa, ainda, na situação que se vive no Médio Oriente dos dias de hoje.

 

As rosas não falam...


“Queixo-me às rosas, mas que bobagem; as rosas não

falam”.


Num sábado desses, estava assistindo a um programa sobre samba num canal estatal. Não lembro bem qual o programa, só sei que é apresentado por Diogo Nogueira. Durante o programa, o filho do João contou uma história muito interessante sobre esta bela obra-prima do Cartola. Certo dia Dona Zica, companheira de Cartola, recebeu de presente um buquê de rosas. Plantou no seu jardim e no dia seguinte ficou surpresa ao ver que muitas rosas já haviam germinado. Chamou Cartola e perguntou para ele sobre o fato. O poeta respondeu que não sabia, afinal, as rosas não falam. Após dizer isso, Cartola percebeu que isso tudo poderia “dar samba”, e ficou com aquela frase na cabeça. Pegou seu violão e em poucos minutos a canção estava acabada.
A história é engraçada, mas só se transformou em música porque aconteceu com um gênio chamado Cartola. Mesmo sem estudo acadêmico, o compositor sempre teve facilidade enorme para compor canções de amor e sambas bastante realistas.
As rosas não falam é uma de suas maiores obras. Foi cantada por grandes artistas da nossa música e já foi trilha sonora em três novelas. Tudo isso é uma prova de que as composições de Cartola são perpétuas. A letra da canção não tem muito a ver com a história que inspirou o compositor. Na música, um homem está desesperado por não ter o amor de sua amada. Resolve queixar-se para as rosas, entretanto as queixas não adiantam em nada, afinal as rosas não falam.
Quem gosta de samba, poesia e romance não pode deixar de ouvir Cartola. Para ser ainda mais direto, NINGUÉM pode deixar de ouvir Cartola.
 

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Mais que uma canção; um hino de louvor, uma declaração de amor a um lugar especial que faz parte da história dos franceses e do mundo. Ou todos esqueceram o que aconteceu em Maio de 68 do século passado?


Interpretada pelo poeta Léo Ferré, a canção Quartier Latin evoca toda a poesia de um lugar; momentos que jamais se apagarão da memória de quem viveu e de quem vive nessa parte especial de Paris. Um bairro jovem, recheado de universidades, cafés e gente inquieta, sempre interessada em mudança. Um grande templo a céu aberto onde habitam intelectuais e artistas de todo o tipo; poetas, músicos, artistas plásticos e uma série de livrarias e lojas de discos. Muitos cafés dão um charme especial a esse lugar. Às vezes fico a imaginar a efervescência em dias de aula, o burburinho em frente a praça da Universidade Sorbonne e é nesse momento que me pergunto, como devem ter sido aqueles dias primaveris em maio de 68? E o legado para o mundo? 44 anos depois pude viver a minha experiência no Quartier Latin. Emociono-me sempre ao lembrar, pois tudo ainda está muito vivo em minha memória... E ao ouvir esta bela canção interpretada com a alma em chamas por Ferré o coração se enche de saudade. Convido todos então ao deleite máximo ouvindo Quartier Latin, nesta que é uma das maiores vozes da música francesa.
 

Seduzida e Abandonada é um filme sem vergonha de ser exagerado. Porque não dá para não ser exagerado diante de tanto horror...


O riso vem com um gosto azedo...

Ontem, após assistir esta bela película dirigida por Pietro germi, tive a impressão de que Germi filmou aquilo com horror – e embaraço.
A Sicília dos anos 1960 que ele mostra é uma sociedade que apresenta um comportamento bárbaro, apegada a conceitos inexplicavelmente idiotas, sem sentido, sem lugar no mundo. A saber: mulher que se entregou (mesmo que por amor) a um homem uma vez sem ter antes se casado é puta, pervertida, desqualificada. O próprio homem que se envolveu tinha todo o direito de se recusar a casar com ela. Sem o hímen, a moça tira a honra de toda sua família, faz com que os seus mergulhem na mais profunda desonra.

 
A sedução é mostrada de cara, nos cinco primeiros minutos....

Na primeira cena, aparece uma cruz, numa esquina de uma acanhada e pobre vila siciliana. Duas mulheres, vestidas de negro de cima abaixo, caminham ligeiramente pelas ruas. Agnese (Stefania Sandrelli) e a empregada dos Ascalone, Consolata (Rosetta Urzi). Enquanto isso vai rolando os créditos iniciais e a voz de um cantor, empostada, antiga, tipo Vicente Celestino, apresenta o drama.
 Diz a letra da música, que vamos ouvindo enquanto rolam os créditos e a musa Stefania Sandrelli anda depressa pelas ruas ao lado da criada:
 “É uma história que quero contar, a da austera família Ascalone. Não é fruto da fantasia, mas uma história verdadeira. A família Ascolone foi ofendida na honra por Peppino, o belo jovem. E Agnese, toda paixão, foi falar com o padre e contar em confissão para descontar o pecado.”

Na tela, dá-se inicio a cena que Agnese relata para o vigário. Na casa dos Ascolone, quase todos dormem a sesta, após um farto almoço. Na sala, Matilde caiu no sono sentada no sofá. Peppino Califano, o noivo dela, retira cuidadosamente a xícara da mão da moça, e a leva para a mesa. Coloca o cigarro aceso no cinzeiro, e se aproxima de Agnese, a irmã mais nova de Matilde, a noiva adormecida. Agnese estuda, sentada à mesa. Na verdade ela está ali cumprindo a ordem paterna de tomar conta do casal.
Peppino asquerosa, nojenta. Veste um terno troncho, com gravata, naquele verão escaldante da Sicília, e por isso tem o rosto suado. Um bigodinho assombroso. Uma figura triste. Ele pergunta onde está Consolata, a empregada, a outra única pessoa acordada na casa. Agnese diz que ela está fora, lavando roupa.

 É nessa hora que Peppino ataca e Agnese tenta se refugiar na cozinha.

 Peppino ataca e Agnese diz não sem vontade alguma de dizer não. Um copo cai no chão. Peppino espera um momento – o silêncio continua então isso é um sinal de que ninguém acordou. O macho louco Ataca novamente. Puxa Agnese para o quintal, no meio das roupas estendidas no varal. As roupas brancas ficam entre a câmara e o cunhado que ataca a garota de 16 anos.

Ao se confessar com o padre; mais humilhações... Chamada dos piores nomes por aquele a quem achava que receberia conforto.

O pai da moça, ao saber do fato, tenta evitar o vexame das maneiras mais estapafúrdias, ampliando cada vez mais o desastre. Estamos num terreno muito próximo das tragédias morais de Nelson Rodrigues.

Seduzida e Abandonada Traz à discussão temas como o ridículo, inominável machismo, a questão da virgindade, da fidelidade eterna e incondicional (das mulheres, é claro). Todos aqueles costumes primevos, que teimavam em permanecerem vivos em plena década de 1960, a que mudou quase tudo no mundo.

Com esse filme, o diretor Pietro Germi não apenas achincalha das grotescas tradições sicilianas. Ele mostra o ridículo delas. Ele as exibe com horror, com nojo e com constrangimento por elas existirem. No “Extras” do DVD, em entrevista, Germi declara que Seduzida e Abandonada (...) “É um filme muito curioso. As pessoas que o viram em sessões privadas tiveram reações muito contrastantes. Alguns saíram rindo muito, enquanto outros saíram transtornados. Ou seja: é um filme divertido e perturbador. (…) Eu diria que é uma espécie de cassata à siciliana, feito de muitos elementos. Boa, mas um tanto indigesta para quem não tem estômago forte”.

O diretor falou também sobre a sua insistência em trazer a tona os costumes e tradições sicilianas. Para ele (...) “Na Sicília são exageradas a características dos italianos em geral. Ouso dizer que a Sicília é a Itália duas vezes. Todos os italianos são sicilianos e os sicilianos são italianos um pouco mais. (…) No fundo, creio que gostaria que as pessoas, ao ver este filme, dissessem: que estranho, rimos muito, mas estamos assustados.”.

Foi justamente o que senti ao ver esse filme. É um filme que nos faz rir  e nos assusta.

Num filme repleto de piadas – em palavras e em gestos –, há uma que Pietro Germi usou duas vezes, e que expressa muito do que o realizador pretendia dizer. Por duas vezes, o delegado do povoado diante de um mapa da Itália, tapa com a mão a Sicília. “Esconde” a Sicília, e olha para o mapa com uma cara como se quisesse dizer assim: ah, como esse país seria melhor…

 Creio que os sicilianos não devem ter gostado muito de Seduzida e Abandonada.

 Danem-se eles. É uma maravilha de filme.

 

 

 

 

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Amor (Amour)... Michael Haneke e a tentativa de expor uma visão amarga e dolorosa da vida e do amor...



"O impulso da vida e o impulso da morte habitam lado a lado dentro de nós. A morte é a companheira do amor. Juntos eles regem o mundo."

Sigmund Freud


Em 2012 um dos filmes que mais foram citados nas listas internacionais dos melhores do ano foi “Amor”, de Michael Haneke. O longa-metragem chegou ao Brasil respaldado por numerosos lauréis e sendo avaliado por muitos, um dos preferidos ao Oscar de melhor filme estrangeiro – mas será que o filme é verdadeiramente tudo isso?
Sim e não, tudo vai depender de seu conceito sobre o amor, a vida, o casamento. Tanto é que ao vê-lo, explica-se porque o filme dividiu opiniões por onde passou. O fato é que o filme merece sua atenção, para que possa ter assim, sua avaliação sobre esse intrigante conto de amor.
A narrativa é sobre o casal de idosos, Georges e Anne que vivem sós num grande e belo apartamento em Paris, em rotina normal de pessoas com idade avançada, até que um dia Anne apresenta os primeiros sinais de que algo de ruim está acontecendo com sua saúde. Desse momento em diante a harmonia existente entre eles é pouco a pouco modificada pelo agravamento da enfermidade de Anne, colocando em prova o amor desses dois anciãos.
O roteiro também de Haneke volta a mostrar sua particularidade mais aguda, que é causar no expectador incomodo e inquietação emocional. Na visão do diretor alemão, o amor verdadeiro só existe quando é colocado a prova, na aflição, no sofrimento. Talvez nunca essa máxima tenha sido tão fortemente representada nas telas do cinema como nessa história de Georges e Anne.
A maneira lenta em que tudo acontece é um dos recursos que o cineasta utiliza para causar ainda mais incomodo a quem assiste ao filme (falo com propriedade). Vemos os planos longos do sofrimento de Anne carregado de detalhes. Observamos sua determinação em ter novamente a independência física, e, no entanto o que sobrevém é uma degradação de seu corpo e sua saúde psíquica, e mesmo assim seu companheiro de toda a vida está ali, do seu lado, passando por tudo isso junto, sustentando sua jura de amor eterno.
Destaco a atuação da experiente atriz Emmanuelle Riva (Anne), até porque sua composição dessa mulher que vai perdendo o vigor físico é ótima - e isso é visto em tudo, no olhar, nos jeitos e na forma como o corpo se transforma, chega a ser assustador. A interpretação do veterano Jean-Louis não fica atrás. Impressionante. Ele é o coração; seu amor por sua esposa é tão intenso e sincero que fica difícil não se emocionar com esse personagem criado brilhantemente pelo ator.
Eu em alguns momentos, me emocionei, já que no mês passado fiquei alguns dias no hospital acompanhando, até os últimos dias de vida, a minha avó e pude sentir como é “triste” a perda de nosso vigor físico, e essa total dependência de alguém para práticas muitas vezes tão particulares, que antes se fazia com grande facilidade.
Um ponto importante que gostaria de destacar é o cenário (apartamento) que por vezes faz o papel de personagem, já que lá é uma espécie de solitária onde o casal resolveu estar para passar esse período de suas vidas. Um isolamento forçado pela condição de Anne.  Para Haneke é outra prova de amor; basta lembrar-se dos diálogos onde Anne pede para Georges que nunca deixe ela em um asilo ou hospital ela quer passar os últimos dias de vida em seu lar.
Pronto... Depois de colocar para fora tudo o que senti ao assistir esta película, quero que você assista e decida qual a visão que mais se aproxima de seu conceito e decidir se gosta ou não de “Amor”.
 

domingo, 27 de janeiro de 2013

Um espanto, um encanto, uma beleza absurda, forte, acachapante. A Dançarina e o Ladrão é um brilho, uma obra-prima.


Uma senhorita morena de cabelos negros sorri no alto de uma montanha. Um garoto sai de um reformatório e um veterano assaltante de caixa-forte é liberado da prisão. O destino vai encarregar-se de promover um encontro entre três diferentes personalidades, mas com desejos em comum. A Dançarina e o Ladrão mostra através do roteiro, a política como pano de fundo no novo filme do diretor espanhol Fernando Trueba, de “Quero Dizer Que Te Amo”, “A Garota dos Seus Sonhos” (1998), entre outros. Após o final da sangrenta ditadura de Augusto Pinochet, o governo do Chile decreta anistia aos presos com delito sem sangue. Os resíduos deste período histórico de 1973 a 1990 estão presentes diretamente na vida dos três personagens do filme. Talvez o trauma mais evidente em “A Dançarina e o Ladrão“, seja da morena de cabelos encaracolados (Miranda Bodenhöfer). Com o sugestivo nome de Victoria, ela é hoje uma tímida bailarina, que após ver seus pais serem assassinados na sua frente e ainda criança, ela perdeu a fala.
O garoto Ángel Santiago é o típico cara de bom moço, porém todo cheio de espertezas, malandragem, temperamental e mentiroso, tão conhecido por nós brasileiros. É justamente como o jeito latino que Ángel conquista a Victoria. Juntos eles formam um casal de extremos. Ángel planeja um ambicioso e arriscado assalto; para isso terá de contar com a ajuda de Nicolás Vergara Grey (Ricardo Darín). O veterano ator argentino, Ricardo Darín deixa sua marca ao interpretar um introspectivo e deprimido ladrão de bancos. Vergara Grey sai da cadeia e tenta resgatar sua reputação para reconquistar sua família.
Em “A Dançarina e o Ladrão”, o diretor Fernando Trueba usa o lúdico para romancear a dura vida e as ações de seus personagens.

Retratos do Domingo... O cigarro de Albert Camus.


Foto de Loomis Dean/Time & Life Pictures. Albert Camus. Paris, 1955.


Esta fotografia mostra o escritor franco-argelino Albert Camus fumando um cigarro na varanda do escritório de seu amigo e editor Michel Gallimard em Paris, em 1955. Cinco anos depois, em 1960, Camus morreu em um desastre de automóvel, aos 46 anos, junto com Gallimard, que estava dirigindo. Camus não iria fazer a viagem de carro com Gallimard, ele iria de trem com o poeta René Char. Mas, por insistência de Michel, Camus decidiu ir de carro junto ao seu editor. Camus já tinha sua passagem de trem comprada quando foi convencido a ir de carro. No acidente, o carro de Michel se espatifou contra uma árvore. Apenas Camus morreu na hora. Michel morreu no hospital cinco dias depois.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Por Onde Andei... A oração do perdão.

“Amor eu sinto a sua falta e a falta é a morte da esperança...”


Nando Reis ficou famoso por ter feito parte de uma das maiores bandas do rock nacional de todos os tempos, a banda Titãs.
Porém, Nando também é um grande compositor; para muitos, o melhor desde
que Renato Russo e Cazuza morreram.

Confesso ser difícil escolher uma música de Nando Reis e dizer que essa é a canção mais bonita do seu extenso repertório, afinal, a obra de Nando  é rica em músicas de amor, vida e família.

Dentre todas estas vou destacar uma que ouvi hoje em um canal de TV a cabo e me fez entender situações em relação ao amor e até, porque não dizer, a outros sentimentos.

Refiro-me a canção “Por onde andei”, que foi gravada pela primeira vez, no primeiro álbum de Nando Reis após deixar o Titãs...

  O álbum MTV Ao Vivo trazia grandes sucessos da carreira deste cantor paulista, mesmo assim, a canção conseguiu se destacar e hoje é um dos seus maiores sucessos.

A letra retrata a vida de alguém arrependido por ter deixado ir embora amor da sua vida.

Só percebeu o quanto o outro fazia falta, após a relação ter acabado...



Compreende que a vida é muito frágil e só é possível viver se for por amor.
A música é um hino ao amor; um humilde pedido de perdão, e uma oração feita com muita fé; esse sentimento ambíguo, mas nesse momento é a única companheira daquele que acredita que pode recuperar o tempo perdido.

Para isso, reconhece que agiu como uma criança se doou menos do que poderia, matando aos poucos a sua história de amor.
Para quem em algum momento já se arrependeu das atitudes tomadas em um relacionamento, Por onde andei surge como um verdadeiro pedido de perdão.

Uma espécie de suspiro; um conforto para a alma, lembrando que nem sempre tudo está perdido e que o primeiro passo para a uma nova vida é a mudança de atidude.
Encerro este texto com as sábias palavras do mestre Rubem Alves:
“Mas é preciso escolher. Porque o tempo foge. Não há tempo para tudo. Não poderei escutar todas as músicas que desejo, não poderei ler todos os livros que desejo, não poderei abraçar todas as pessoas que desejo. É necessário aprender a arte de “abrir mão” – a fim de nos dedicarmos àquilo que é essencial.”


quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Apenas um Rapaz latino-americano...

“isso é somente uma canção, a vida realmente é diferente. Quer dizer… a vida é muito pior!”


Início de noite e eu ouvindo o homem do bigodinho...

Como a música é algo interessante; nos faz viajar no tempo e aportar em terras e épocas que muitas das vezes não vivemos, mas que parecem vivas na nossa mente.

Para muitos o pessimismo do grande cantor não tinha explicação.

Como pensar tão para baixo se aquela era a época auge da "paz e amor"?

 Seria melhor afirmar que o o nosso artista cearence sofria de "Alucinação"...

Era esse o nome do disco lançado por ele em 1976.

E a música que ficou marcada neste álbum foi Apenas um rapaz latino-americano.

Esta foi uma canção que que caracterizou, de maneira irônica, o Brasil do período.

 Em 1976, cantores e compositores que eram contráios ao regime eram presos, muitas vezes iam embora  para outro país para não sofrerem punições mais severas, muitas delas físicas e em inúmeros casos, a morte.

Belchior utlizou um pouco de sua história e da história contada no período para poder expressar tudo o que o povo brasileiro, principalmente os cantores, sentiam naquele momento.

Impedidos de se posicionarem enquanto cidadãos, osartistas eram vistos como um dos principais opositores ao regime militar. Para Belchior, eles eram apenas rapazes latino – americanos,que não tinham muito dinheiro e não estavam satisfeitos com o que viam.

A canção é forte; mais que isso...

valendo-se da subjetivivade, Belchior deu o seu recado. como a música é grande e rica, separei os trechos que considero fundamentais, assim o entendimento da crítica do compositor será mais fácil.  

Eu sou apenas um rapaz latino – americano sem dinheiro no banco e vindo do interior – Nesses versos, Belchior  faz uma auto descrição; descrição essa que bem poderia se encaixar no perfil da maioria do povo brasileiro...

(...) Mas trago de cabeça uma canção do rádio, em que o antigo compositor baiano me dizia que tudo é divino, tudo é maravilhoso – Nesses versos, Belchior cita Caetano Veloso e o movimento tropicália, mas precisamente a música É proibido proibir, que fala que tudo é maravilhoso.

(…) Não tenho um amigo sequer que ainda acredite nisso, não! – tudo muda! e com toda razão - Aqui, Belchior deixa registrado a insatisfação com o Governo e que o povo não vê perspectiva de que as coisas mudarão.

(…) Isso é somente uma canção. A vida realmente é diferente. Quer dizer… a vida é muito pior! – Agora, Belchior fala diretamente com os ouvintes e diz que tudo que é retratado na letra da canção ainda é pouco, perto de como as dificuldades e a opressão eram maiores e mais profundas.

(...) Mas se depois de cantar, você ainda quiser me atirar, mate – me logo! – Mais uma vez é feita uma crítica à forma como o governo militar tratava os artistas da música que, através do seu trabalho, lutavam contra o regime.

(…) Mas sei que nada é divino, nada é maravilhoso, nada é sagrado, nada é misterioso – A música encerra com versos contrários aos cantados  por Caetano em algumas de suas canções.


Pela crítica, ironia e coragem de Belchior, Apenas um rapaz latino -americano foi adorada pelo público da época, porém ninguém podia dizer isso, afinal as punições eram fortes.



Quem sabe isso quer dizer amor...

Já dizia a saudosa pimentinha... "Se Deus cantasse, cantaria com a voz de Milton Nascimento"...

Elis acertou na mosca. Está cada vez mais raro encontrarmos cantores que nos façam suspirar.

Meditar durante dias, e porque não, durante a vida inteira em uma canção.

Milton embalou os sonhos de gerações inteiras com sua voz.

E continua a embalar...

São várias as canções que poderíamos citar.

mas hoje escolhi uma das mais novas do seu repertório.

Digo que é nova porque em uma carreira de aproximadamente meio século, dez ou doze anos é uma filhinha caçula...

"Quem sabe isso quer dizer amor", do Álbum Pietá de 2002.

O disco Pietá foi um marco na vida artística de Milton Nascimento.

A canção Quem sabe isso quer dizer amor, composta por seus amigos de Clube da Esquina, Lô Borges e Márcio Borges, se consolidou como a principal canção de um disco que trouxe grandes novos sucessos.

O tema, como o próprio nome da canção sugere, é tentar explicar o que é o amor.

Como, através de atos e sentimentos é possível amar e se sentir amado.

 “Falar da cor dos temporais, de céu azul, das flores de abril. Pensar além do bem e do mal, lembrar de coisas que ninguém viu”...

são coisas que só fazemos quando sentimos amor.

Quem sabe isso quer dizer amor entrou no hall de sucessos de Milton Nascimento e já é, para muitos críticos, uma das suas 20 melhores canções.

 A melodia suave e a letra precisa e bem escrita tornaram essa música uma verdadeira obra de arte na belíssima voz do anjo negro das Minas gerais (graças a Deus por Milton ser negro)...




quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Fresa y Chocolate... Uma linda trilha sonora para um grande filme.

Senel Paz; orgulho dos cubanos...


Fresa Y Chocolate deixaram marcas profundas...

Fui buscar e achei sua essência.

O que achei?

Além da explosão de sentimentos e uma vontade de amar mais...

Encontrei um livro maravilhoso que indico com o coração...

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Uma das grandes trilhas sonoras do cinema de todos os tempos... "O Piano".

Sempre fui um grande apreciador de trilhas sonoras de filmes. Em alguns momentos até, os filmes me emocionavam mais pelas suas canções que pela história como um todo. Mas aqui está um grande filme abençoado por uma gende música; linda, inesquecível, eterna. Eterma como a magia que emana do poderoso facho de luz e deságua na tela grande. Refiro-me a magnífica trlha sonora que Michael Nyman compôs para o filme "O Piano". Coisa divina, só poe ser. Ouça, emocione-se, transborde...

domingo, 20 de janeiro de 2013

O valor da amizade...

Para mim já deu; é hora de ir para cama, mas antes, para o nosso final de domingo ficar mais emocionante, escrevo-lhes um trechinho do prólogo do livro “Os Doze Contos Peregrinos”, de Gabriel García Márquez. "Gabo", como o autor colombiano é conhecido por seus amigos, narra ter sonhado que assistia ao seu próprio enterro, a pé, caminhando ao lado de um grupo de amigos da América Latina, todos vestidos de preto, em sinal de luto, mas em clima festivo. Ele também se sentia feliz com a oportunidade que a morte lhe dava de estar entre amigos antigos e queridos. Quando a cerimônia terminou, as pessoas começaram a sair do cemitério e ele também se pôs a caminhar de volta com os amigos. Foi quando um deles disse-lhe, com severidade, que para ele a festa havia acabado: “ Você é o único que não pode ir embora”.García Márquez conclui: “Só então compreendi que morrer é não estar nunca mais com os amigos”. Boa noite a todos os amigos... Amo vocês!!!

Paraiso a Oeste... Um drama sobre a realidade dos imigrantes ilegais na União Europeia.

Soberba película esta. Faz-nos rir e chorar com as histórias de pessoas simples, que bem poderiam ser um de nós. O longa-metragem dirigido por Costa-Gravas narra a saga de Elias, um jovem estrangeiro de país não revelado, que tenta chegar a Paris para tentar ganhar o pão nosso de cada dia. Em seu caminho muitas confusões e perseguições, que revelam a triste condição de imigrante em um país como a França, que se intitula “aquele que abre as portas aos pobres do mundo”, mas todos sabem qual é o tratamento dado ao estrangeiro. Elias, vivido pelo ator italiano Riccardo Scamarcio de “Meu irmão é filho único”, é uma espécie de Carlitos pós-moderno, pois assim como Charles Chaplin em Tempos Modernos, o ator passa grande parte do filme calado, já que não tem muita segurança em falar o idioma francês. Outra clara analogia com o personagem chapliniano é a forma como ele enfrenta as hostilidades de autoridades e da população de forma inventiva e indiferente. Mesmo sendo uma fita descontraída na maior parte do tempo, a produção também conta com algumas cenas fortes, em uma delas Elias é obrigado a desentupir o tubo de uma latrina sem o uso de desentupidor. Além de algumas metáforas desumanas, como na cena em que Elias é jogado dentro de uma privada em um número de mágica ou a forma como todos querem se aproveitar do personagem, visando ganho financeiro ou realizações sexuais. Segundo o diretor em entrevista concedida durante um evento de cinema aqui no Brasil, Costa Gavras declarou ter tentado reproduzir o problema da imigração de forma menos dramática que em algumas produções atuais como Código Desconhecido e Entre os Muros da Escola, ambos os filmes de nacionalidade francesa. Na mesma entrevista o diretor resumiu: “Jacques Tati dizia que não precisava de gags para fazer comédia, bastava olhar para a sociedade”. Finalmente, depois de refletir sobre esta maravilhosa obra de arte, posso afirmar que Paraiso à Oeste pode não ser tão impactante quanto seus filmes antigos, porém a forma como Costa-Gavras trabalha as oscilações dos níveis de
tensão continua a mesma de sempre, só que ao invés de só tencionar a platéia agora o diretor também faz rir um bocado.

sábado, 19 de janeiro de 2013

À Saint Germain des Prés ... Toda emoção de Léo Ferré

Já postei no blog em outras oportunidades  a linda canção "À Saint Germain des Prés", cantada pelo grande Henri Salvador. Não há como não se emocionar e lembrar de Paris, e dos dias felizes que vivi nesta maravilhosa cidade. Só que hoje trago outra intepretação desta canção: Léo Ferré empresta sua bela voz e toda a sua emoção para interpretar esta bela música. Creio ser impossível cravar qual é a melhor interpretação; se a de Henri ou a de ferré... Só posso afirmar que são dois grandes cantores que souberam como ninguém expressar todo o sentimento e nos presentearam com interpretações magistrais.
 

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Amanece, que no es poco... A peculiaridade latina no cinema


Este é mais um interessante filme produzido em terras de Espanha; “Amanece, que no es poco”, de 1989. Assisti num domingo desses na TVE, sempre às 23h00min na sessão “Soy Loco Por Ti Cinema”, que prestigia os filmes produzidos na América, dita, Latina e na Penísula Ibérica. Este longa narra a saga de Teodoro, um engenheiro espanhol, professor na Universidade de Oklahoma (EUA), que volta ao seu país de nascimento para curtir um ano sabático. Ao chegar, ele descobre que seu pai, matou a sua mãe. Para compensar a perda, o pai compra uma motocicleta com um sidecar para viajar com o filho. Juntos, Jimmy e Teodoro partem para um povoado, em área longínqua das montanhas, repleta de particularidades, pessoas estranhas e situações surpreendentes. Amanece que no es poco é uma comédia do absurdo que tornou-se cult e até hoje é venerada em vários círculos, em especial pelos moradores da região de Albacete, na Espanha, que, até, na época das gravações, tiveram a chance de atuar como figurantes no filme. Coincidência ou não, a cidade é a terra natal do diretor do filme que apresenta casos surreais e revela cenas que alternam entre o bucólico e o grotesco.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Fresa y Chocolate... Delicioso!!!

A mil por hora...
Explosão, explosão, explosão...
Bem, como posso dizer...
Foi como me senti depois de ter assistido esta... Sem palavras; não tenho como classificar de imediato.
 Vamos lá: é um filme belíssimo, em primeiro lugar porque é inteligente, sensível, extremamente bem feito, em todos os níveis, e porque é uma emocionante ode às coisas que de fato tem um imenso valor na vida: o amor, a amizade, o respeito ao outro... enfim um hino de louvor a liberdade...
Em segundo lugar, porque é uma obra
de arte feita com uma colossal paixão pelo ser humano, pelo que ele pode conseguir de belo; e um enorme, magnânimo, gigantesco amor pelo país dos artistas que a realizaram. Fresa y Chocolate é uma declaração de amor a Cuba, a Havana, aos cubanos.
Em terceiro lugar, porque é um filme extremamente corajoso em todos os aspectos. O filme questiona a revolução, em muitos momentos expõe as chagas todas, a falta de liberdade, a força da burocracia, a falta das coisas básicas, o mercado negro, o regime policialesco sufocante, a vigilância dos vizinhos, a necessidade do dedo-durismo. E porque, ainda por cima, trata de assuntos  que o regime - que me perdoem os revolucionários - sempre abominaram.

domingo, 13 de janeiro de 2013

Retratos do Domingo - O pequeno Freddie Mercury


O quadro Retratos do Domingo de hoje publica uma rara imagem do cantor Freddie Mercury ainda bebê, acompanhado de uma das suas babás. Seu nome de batismo era Farrokh Bulsara, mas foi como Freddie Mercury que conquistou o mundo. O menino Farrokh Bulsara nasceu em 05 de setembro de 1946, numa ilha tropical na costa leste da África chamada Zanzibar, uma antiga colônia inglesa. Seu pai Bomi trabalhava para o governo como caixa do Superior Tribunal. Na época o pai era bem pago e a família tinha diversos servos e um padrão de vida relativamente elevado. Com a idade de um ano e pouco, Farrokh experimentou o gosto da fama quando sua fotografia de bebê ganhou um concurso local como “Foto do Ano”.

sábado, 12 de janeiro de 2013

A voz apaixonante de Henri Salvador - Saint Germain-de-Prés

Maravilha de canção!!! para mim que sou um apaixonado por Paris, esta tem sido a minha música de consolo nos momentos em que a saudade aperta... Sinta-se embalado pela voz do grande Henri...
 

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Gainsbourg; o "Maluco beleza" francês...


Penso que só aqueles que viveram na França de 1969 sejam capazes de entender o furor e o alvoroço que causaram os gemidos de Jane Birkin na famosa canção “Je t’aime... moi non plus”, que ela gravou com Serge Gainsbourg – com quem se casou e teve uma filha, a hoje atriz Charlotte Gainsbourg. O filme Gainsbourg – O homem que amava as mulheres” até tenta, mas não consegue dar a compreensão exata do que representou essa canção que, ao longo das décadas, se tornou uma espécie de hino internacional do erotismo. Nem dá conta da real expansão do carisma de seu compositor.
Escrito e dirigido pelo desenhista Joann Sfar, a película foi baseada numa história em quadrinhos de sua autoria. Raramente a história encontra a complexidade humana de Gainsbourg, cujo nome de batismo era Lucien Ginzbourg e que nasceu em Paris em 1928.
Filho de judeus russos, seu pai era um exímio pianista, apaixonado por música clássica e tocava nos bares parisienses. Ainda garoto, sua vida foi muito afetada pela ocupação nazista na França. Ser judeu tornou-se um fantasma que o acossou por toda a vida. Ao menos, pelo menos é assim que mostra o filme, quando seus demônios pessoais literalmente despertam e o atormentam.
Em “Gainsbourg – O homem que amava as mulheres”, Sfar tece uma colcha de retalhos de momentos famosos da vida do cantor e compositor – como seu romance com Brigitte Bardot, que era casada, e uma viagem à Jamaica. Há boas resoluções no filme – especialmente envolvendo animação, o que não é surpresa dada a experiência do diretor.
A crítica negativa que faço é em relação ao subtítulo arrumado pela distribuidora brasileira. O homem que amava as mulheres remete diretamente ao filme de François Truffaut, com o qual este não tem nenhuma relação. Na verdade, o subtítulo original em francês é “vida heróica”, o que tem bastante a ver com a proposta do filme: transformar Gainsbourg – com seus tormentos, poesia e, para usar uma palavra da moda, senso midiático – numa espécie de herói de nosso tempo. Acho que desse modo seria um subtítulo mais honesto com o filme e o público.
 

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

As Aventuras de Pi - Um filme belo e tangível...


“As aventuras de Pi” é um filme sobre identidade, sobre família, sobre amor, sobre perdas, sobre palavras que nunca foram ditas, sobre religião, e sobre fé. Ao contrário do que o título nacional indica o filme não mostra amplas aventuras, e sim lembranças e algumas passagens importantes da vida do ator principal. Pi divide conosco alguns eventos da infância e juventude que o tornaram o adulto de hoje, desde a escolha de seu curioso nome pelo pai e a forma criativa que o garoto achou para não ser alvo de zombarias no colégio por causa de sua graça, as várias religiões adotadas por ele, o encontro com o primeiro amor e a venda do zoológico que culminou na funesta viagem da família.
A maior parte do longa-metragem se passa no bote, com apenas Pi e Richard Parker, o majestoso tigre sobrevivente, em cena. O que fazer quando se está perdido no meio do mar, à deriva, tendo um imenso carnívoro como “companheiro de viagem”? Como Pi logo compreende, a resposta pode não ser tão simples, já que, inexplicavelmente, a sobrevivência de um está diretamente ligada à do outro. Um filme comovente, com um visual fascinante, feito de metáforas e reflexões. Uma ótima forma de começar minhas sessões de cinema em 2013.