quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Se com Tempos Modernos Chaplin mostrou como a industrialização estava levando o homem à alienação social, Meu Tio mostra os resultados desta época...


Assim como a imagem de Charles Chaplin ficou perpetuada no consenso popular através do personagem Vagabundo e seus característicos bigode, bengala e chapéu, a primeira relação que pode ser feita ao nome de Jacques Tati é de uma figura alta, de cachimbo e chapéu, vestindo um longo casaco e com um característico modo de andar. Não se trata de uma descrição do ator e diretor francês, mas sim de seu personagem, o Sr. Hulot, que fez sua primeira aparição no filme As Férias do Sr. Hulot de 1953. Meu Tio, o filme subsequente do diretor, apresenta o retorno do cômico personagem, desta vez entrando em conflito com a cultura consumista importada dos EUA que invadiu a França no período pós-guerra. Seguindo a linhagem de Chaplin, que produzia obras com um viés político e social, através de Meu Tio, Tati tece uma crítica à modernização, à perda de valores interpessoais e à criação de uma sociedade hedonista que busca o prazer através do consumo. O filme nos apresenta a família Arpel, composta pelo Senhor e a Sra. Arpel  e seu jovem filho Gerard. Localizados em um bairro de classe alta do subúrbio de Paris, os Arpel vivem em uma residência cuja construção poderia ter sido extraída diretamente de um catálogo de Art Déco: uma enorme mansão composta por vastos cômodos, uma garagem de porta mecanizada, uma vasta fachada com um jardim cercado por altos muros e, o símbolo máximo da ostentação, uma fonte em formato de peixe que a Sra. Arpel se orgulha em exibir aos visitantes. Todas as manhãs, o Sr. Arpel dirige o pequeno Gerard para a escola a caminho do trabalho, enquanto a matriarca mecanicamente cuida dos serviços domésticos. Em um bairro mais humilde da cidade, mas onde o charme e a simplicidade da velha França ainda não cederam à modernização, encontra-se o Sr. Hulot (Tati), irmão da Sra. Arpel. Contrastando com a moradia perfeita da irmã, ele vive em uma vila onde os moradores moram próximos uns aos outros e inevitavelmente se cumprimentam todas as manhãs; onde o gari varre as ruas e conversa incessantemente com o ocasional pedestre e onde as pessoas se unem ao redor das barracas de frutas e legumes para não perderem a última oferta da feira.
Naquele dia, o Sr. Hulot ficou encarregado de tomar conta do sobrinho. Após buscá-lo na escola, ele leva Gerard para um passeio nos arredores de seu bairro. Logo fazendo amizade com as crianças locais, o menino descobre o prazer de atividades simples como comer doce do vendedor da rua e fazer brincadeiras como distrair os pedestres na rua para que estes caminhem de encontro a um poste. Gerard vê então em seu tio uma válvula de escape do estilo de vida de seus pais, tendo a oportunidade de ser uma criança como as demais. No bairro do Hulot as pessoas conversam, fofocam, brigam, xingam, mas, acima de tudo, confraternizam e se divertem juntas. Cercados por altos muros, as relações do casal Arpel com o mundo esterno se resumem aos amigos de trabalho do marido e à vizinha de classe alta que acabara de se mudar. As relações burguesas são formadas por jogos de aparências, conversas superficiais, sorrisos falsos e laços emocionais arranjados. Meu Tio é uma maravilha do cinema que, assim como Tempos modernos, merece ser vista sempre.
 

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Café dos maestros. Tudo que se faz com amor é digno de respeito e paz no coração. Obrigado ao tango por momentos de puro deleite...


Assisti no Canal Arte1 ao maravilhoso trabalho cinematográfico argentino “Café dos Maestros”. Espetacular! Com o retorno da democracia, a Argentina experimentou o renascimento esplendoroso da sua música tradicional, o Tango. Café dos Maestros é o encontro das grandes lendas vivas deste admirável gênero musical. O aclamado músico, produtor e compositor Gustavo Santaolalla permite, enfim, reencontrar estes mestres únicos. São homens e mulheres extraordinários, com idades entre 70 e 95 anos, que nos revelam os mistérios e a essência desta música sensual e contagiante. Reconstruindo arranjos musicais históricos e gravando pela primeira vez materiais inéditos, esta reunião culmina com uma grande apresentação no famoso Teatro Colón. Recomendo!

domingo, 27 de outubro de 2013

Retratos do Domingo: "Meu Tio", de Jacques Tati...


Jacques Tati atuando no filme “Mon Oncle”, 1958.

 Esta é uma notável cena do filme Mon Oncle (1958), que no Brasil se intitulou Meu Tio. O filme dirigido e protagonizado por Jacques Tati representou uma verdadeira chacota à mecanização e à modernidade tecnológica. Em 1959, “Mon Oncle” venceu o Oscar na categoria de melhor filme em língua estrangeira.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

O Canto dos Pardais. Uma das jóias do cinema iraniano...


 
Conhecido por histórias que dialogam com a fantasia e, ao mesmo tempo, apresentam questões atuais e latentes, o diretor iraniano Majid Majidi usa a singeleza para imergir nos conflitos presentes em O Canto dos Pardais (2008). O filme conta a história de Karim, um devotado trabalhador de uma fazenda de avestruzes que leva uma vida pacata, até que uma das aves foge e ele perde o emprego. Para suster sua família, Karim vai para Teerã, capital do Irã, onde acaba se tornando moto-taxista. A mudança do campo para a região metropolitana vai aos poucos transformando seu caráter, e ele se torna um individuo ambicioso e ausente aos valores que antes reverenciava. Quando um imprevisto familiar coloca sua vida em risco, ele reavalia seu comportamento. A partir daí, a trama provoca reflexões sobre corrupção, princípios e religiosidade. O conflito entre campo e cidade, família e indivíduo, espírito e matéria se faz presente o tempo inteiro e garante universalidade à história de Karim, que, como todo mundo, busca uma forma de ser feliz.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

7 Dias em Havana. Bom, apenas isso...


Assisti ontem ao filme “7 Dias em Havana”. Este trabalho é na verdade um olhar sobre Cuba, em especial sua capital, Havana. Sete diretores de cinema consagrados foram convidados a rodar um curta sobre o país, cada um com aproximadamente quinze minutos, que ao todo vão formando os eventos que acontecerão em uma semana. Só achei que o filme poderia adentrar mais na vida da cidade e de seus moradores. Ficou muito apenas no olhar do estrangeiro que se delicia com a cultura local e com as lindas e deliciosas mulheres. Faltou um pouco daquela coisa de tentar entender mais a vida do povo, as entranhas da cidade de havana. Passou (superficialmente) pela questão do embargo americano e as constantes tentativas de fuga através de balsas, nada mais. A fotografia e a trilha sonora são maravilhosas, nos fazem ficar com vontade de arrumar as malas e partir para o aeroporto e embarcar com destino a esse lindo e contraditório país. Confira o trailer!
 

domingo, 20 de outubro de 2013

Retratos do Domingo. O protesto de Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir...



© Foto de Jacques Cuinières/Agência Roger-Viollet. Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir. Paris, c1970.


Nesta foto vemos o casal Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir participando de um protesto contra a tortura na Argélia na década de 1970. “Meu dever intelectual é sempre protestar contra tudo aquilo que oprime o homem”, costumava afirmar La Beauvoir.

 

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Carrossel de Esperança. O mundo poético do interior da França...


 
Minha dica cultural de hoje é mais um filme de Jacques Tati intitulado “Carrossel de Esperança”. Nesses últimos dias tenho me deliciado com os trabalhos deste grande cineasta francês. No filme, uma vez por ano uma feira traz, para a acanhada aldeia de Sainte-Sévère, no interior da França, atrações como um cinema ambulante. Numa das sessões, François, o carteiro do local, assiste à projeção de um documentário sobre o serviço postal norte-americano e decide colocar o método em prática para fazer o correio chegar mais rápido. Quanta trapalhada em um filme só; muita diversão e risos garantidos.
 

 
 

domingo, 13 de outubro de 2013

As Férias do Sr. Hulot: fantástico!


Assisti ao maravilhoso filme do diretor Jacques Tati, As Férias do Sr. Hulot. Um trabalho magnifico desse diretor francês que, assim como Charles Chaplin e Carlitos (guardadas as devidas proporções), criou um simpático personagem que ele mesmo representa chamado de Hulot; uma figurinha simpática, porém bastante atrapalhada que sempre provoca confusão aonde chega. Tati fez vários filmes tendo Hulot como personagem principal. Nesta película, o desastrado Mr. Hulot (Jacques Tati) sai de férias para um hotel próximo a um balneário francês, provocando uma onda de confusão, encarada com estranheza e simpatia por outros hóspedes, burgueses em busca de descanso.  Confira o trailer!
 

domingo, 6 de outubro de 2013

Retratos do Domingo: Vinicius de Moraes e o gato do vizinho...

 
Esta é uma rara e bela imagem do poeta Vinicius de Moraes abraçado ao gato do vizinho, na sala de jantar da sua casa na Gávea, no Rio. A foto foi tirada em 1976, por Marta Rodríguez Santamaria (oitava esposa de Vinicius), que o poetinha conheceu no Uruguai, um ano antes, quando ela tinha 23 anos de idade. Vinicius, segundo Marta, tinha muito amor e respeito pelos animais, que serviram de inspiração na composição da poesia "A Arca de Noé".
 
Fonte: Images & Visions.