domingo, 30 de janeiro de 2011

A História de Adéle H.






A princípio, quando vemos o nome abreviado por “Adèle H.” nem fazemos idéia a que se remete esse “H”, mas então, aos poucos o enredo vai nos fornecendo as informações necessárias e assim descobrimos que Adèle H. é Adèle Hugo, filha do grande escritor francês, Victor Hugo, autor de obras literárias conhecidas e reconhecidas mundialmente.A historia é baseada em diários da filha do escritor, uma obra angustiante e dolorida, minuciosamente dirigida pelo cineasta francês de grande prestigio, François Truffaut.Não pretendo contar toda a historia da trama, mas preciso falar de alguns aspectos do enredo para discorrer meu comentário. O filme relata a historia da jovem Adèle que se apaixona pelo primo Albert, com quem conviveu desde pequena na ilha de Guernsey onde morava com a família. Adèle se entregou para Albert de corpo e alma, porém ele, como era um tenente estava em serviço em Halifax, leste canadense para onde foi embora sem deixar noticias alguma para Adèle. Conclusão: a jovem abandona a família na França, atravessa o Atlântico e vai ao encontro daquele que acreditava ser o seu único e verdadeiro amor.Interessante e um dos temas mais comuns nos filmes de Truffaut a valorização do sentimento feminino, aliás, a valorização do mundo feminino. O diretor francês é um famoso “amante” das mulheres, até quem não conhece sua fama percebe-a em seus filmes, os closer fechados nos lindos rostos femininos que escolhe filmar são praticamente um marco de seus filmes. Há ate quem diga que ele saía com as atrizes que escolhia a dedo para os papeis principais, que fazer filmes era uma forma de “amar as mulheres”, e que a estreante (na época) Isabelle Adjani de apenas 20 anos que faz o papel de Adèle foi a única que não se rendeu aos encantos do diretor.Voltando ao tema de Truffaut, neste filme é igual, o sentimento de Adéle não é só valorizado mas há momentos que possui vida própria, arrebata e é avassalador, a domina angustiantemente. E isso foi muito bem conduzido por Truffaut ao longo da trama. Quando ela percebe o desprezo do amado ao encontra-lo do outro lado do oceano e descobrir que ele havia abandonado ela por motivos óbvios (havia outra mulher na história), Adèle se entrega ao desespero, à angustia e à dor de se humilhar perante um homem que a desprezava.E que momentos angustiantes Truffaut nos proporciona, aquele nó na garganta. Adèle estava tão “cega” de amores, por assim dizer, que chegou pedir ao seu pai, o respeitado poeta com quem nem falava mais, a não ser quando precisava de mais dinheiro, e agora, ela pede ao pai para escrever uma carta dizendo que aceitava Albert como genro.Nós temos nessa trama um pai completamente preocupado com a felicidade da filha, embora não apareça em nenhum momento, as muitas cartas enviadas, o dinheiro que enviava todos os meses, contudo nada disso abria os olhos da jovem frustrada. E assim a trama é conduzida, através do sofrimento que acaba por levar a jovem amante à loucura.O filme acaba de forma sublime e muito bela, embora triste, pois Isabelle fica louca, se perde entre os indigentes, não reconhecia mais ninguém e sua família é obrigada a ir buscá-la para interná-la. E no final ela revive o começo de tudo e não se arrepende de nada do que fez e ainda afirma que faria tudo de novo. Não é um conto de fadas que termina com “e todos viveram felizes para sempre”, mas é uma história muito bela e acima de tudo, bem contada, bem dirigida e bem atuada!O fato do nome do poeta Victor Hugo estar em jogo também, não permitiu que Truffaut caísse no pecado de "louva-lo", não que ele não mereça, todos sabemos que sim, mas a questão aqui é outra, é tratar da filha dele, dos dramas e ressentimentos inclusive em relação ao proprio poeta. Tanto é que genialmente Truffaut se utiliza da escrita, das cartas e diarios para se referir ao poeta, de certa forma, acabou por louva-lo sem cair no pedantismo, atribuindo ate mesmo os dons de Adele, herdados do pai, de também escrever em diarios.Para finalizar, achei fantástico que Truffaut conseguiu um record de tempo de filmagem nesta película, o período em que dirigiu as gravações, as cenas, tudo, foi muito curto, de 8 de janeiro a 21 de março de 1975.Não foi à toa que recebeu indicação ao Oscar de Melhor direção, não só por isso, é claro, mas pela qualidade e genialidade com que sempre conduz suas obras. O filme também recebeu indicação ao Oscar em mais duas categorias, Melhor desenho de produção e também, Melhor trabalho como atriz para Isabelle Adjani que mostrou mais que talento em sua atuação, ela consegue nos contagiar mesmo. A fotografia, como sempre ressalto, é outro ponto forte de beleza no filme.Totalmente recomendável a todos os amantes do cinema!

A MULHER DO LADO






Truffaut era mesmo o "cineasta do amor". Mas se há uma linha mais fundamental a ser seguida em sua obra é a da autobiografia. Isso, desde seus primeiros filmes o curta Les Mistons (algo como Os Pivetes) e o longa Os Incompreendidos. Estão lá, disfarçados e retrabalhados na ficção, os acontecimentos de vida de quem foi delinqüente, teve problemas com uma mãe tida como promíscua e rondou perigosamente a criminalidade, até ser resgatado pela mão amiga do grande crítico André Bazin. Literalmente: Truffaut salvou-se do naufrágio pelo cinema. Mais tarde, já consagrado, ele faria uma homenagem à arte que abraçou no belíssimo A Noite Americana. Livremente autobiográfica é toda a série Antoine Doinel, nome do alterego interpretado por Jean-Pierre Léaud em diversos estágios de sua vida, com Os Incomprendidos, Beijos Proibidos, Domicílio Conjugal e Amor em Fuga. Além disso, Truffaut dialogou com o noir em Atirem no Pianista e A Noiva Estava de Preto, com a ficção científica em Fahrenheit 451, e criou uma estranha ode mórbida em O Quarto Verde.
Teve bastante diversidade em sua vida, mas é verdade que a chave memorialística foi nele a mais pronunciada. E, como era um grande amoroso, um homme à femmes, é natural que isso se destaque em sua obra. Mesmo a série "Antoine Doinel", com exceção do primeiro, quando o personagem era ainda criança, refere-se às aventuras amorosas do alterego. Truffaut mostrou o paradoxismo da paixão em um filme tão belo quanto Adele H. E analisou a compulsão de conquista em O Homem Que Amava as Mulheres, muito bem interpretado por Charles Denner. Neste se releva o que seria uma filosofia da sedução para Truffaut. Denner é um aficionado, um adicto do sexo oposto. Em nenhum momento, no entanto, procede com a vulgaridade de um dom-juan, ou a frieza de um Casanova. É um artista, sabe que o refinamento é amigo do desejo. Por exemplo, gosta de escutar a música de uma meia de seda roçando na outra quando uma bela mulher caminha. Coisa de connaisseur. Portanto, um cineasta do amor, em que pese à limitação da afirmativa. E, mesmo nesse domínio em que era especialista talvez Truffaut não tenha atingido ponto mais alto do que em A Mulher do Lado. Aliás, foi seu último grande filme. Depois dele fez o apenas mediano De Repente num Domingo, e morreu prematuramente, com 52 anos, atingido por um tumor no cérebro.A Mulher do Lado é daqueles filmes em que tudo funciona. Da história enxuta à química entre o par central. Do clima misterioso a um desfecho surpreendente, que atinge e comove o espectador. Mas, sobretudo, pela delicadeza com que a história é narrada. Uma história no fundo simples. Mathilde (Fanny Ardant) e Bernard (Gérard Depardieu), que foram amantes no passado, reencontram-se anos depois. Ele vive com a família em Grenoble e Mathilde muda-se para a casa vizinha com o marido. Reencontram-se, convivem, tornam a se amar. Voltam a cair nas mesmas armadilhas que os separaram anos atrás. Não conseguem ficar juntos. Não conseguem se separar. "Ni sans toi, ni avec toi" (nem contigo nem sem ti), comenta outra personagem, esta no papel de narradora da trama, uma espécie de coro grego que comenta a ação trágica. Porque no fundo, é bem de uma tragédia amorosa que trata A Mulher do Lado. No entanto, uma tragédia de bolso, por assim dizer, acessível a cada um de nós, porque, entre outras coisas, Truffaut também foi um extraordinário cineasta do cotidiano. Sabia que a complexidade da vida se tece na ação, nos amores e nos ódios da gente comum - mesmo que essa gente "comum" seja encarnada na tela por mulheres como Catherine Deneuve, Fanny Ardant, Jeanne Moreau, Isabelle Adjani.Fanny e Depardieu são jovens, são belos, atraentes. Mas não parecem pertencer a outra raça e outro planeta. São pessoas que poderíamos encontrar em qualquer esquina, ter como vizinhas e amigas. Vieram ao mundo abençoado e condenado por uma paixão recíproca sem remédio. A violência dessa atração fatal não exclui a delicadeza como é narrada. É outra das magias de Truffaut - sabe ser elegante mesmo quando trabalha à beira do abismo. No fundo, praticava uma grande arte, que talvez não tenha sido devidamente reconhecida em seu tempo. Por isso é bom revê-lo. O filme, de 1981, não apresenta uma única ruga visível.


sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

DEPOIS DO ENSAIO





“Depois do Ensaio”. Dirigido por Ingmar Bergman, com Erland Josephson, Ingrid Thulin, e Lena Olin. Acho que já fazia tempo que um filme não exigia tanto de mim, em todos os sentidos. Antes de tudo, é necessária a devida atenção a um Bergman; cada diálogo, cada frase é importante. É estranho ter que dizer isso, mas é preciso, nestes tempos em que os filmes não passam de “chiclete visual” (definição do Nelson Motta para os videoclips) - e mental. Há muito mais coisa não dita, subentendida, do que propriamente dita, explícita no roteiro. Não há muito de cinema, tecnicamente falando - é quase como se estivéssemos vendo uma peça de teatro filmada. Somente os três atores, durante todo o filme. Francamente, isso não faz diferença - talvez seja até melhor assim. O bom cinema é, antes de tudo, roteiro.Josephson faz Henrik Vogler, um diretor de teatro prestes a estrear sua montagem de "O sonho", de Strindberg. Em um de seus costumeiros cochilos, após o ensaio, é interrompido pela jovem Rakel, Lena, espetacular em seus vinte e poucos anos, que o procura, inventando a desculpa de que esquecera um bracelete . A jovem atriz, insegura com a magnitude de seu papel e o que sente pelo diretor, pede a ele que a ajude com trechos da peça. A partir daí, é a impressionante avalanche de sentimentos, as explosões do inconsciente que tipificam os diálogos de Bergman, que culminam com o velho diretor relembrando vivamente, através da jovem atriz, o relacionamento adúltero que tivera anos antes com a mãe dela, também dirigida por ele, e já devidamente morta pelo álcool. Atuação é direção, alguém já deve ter dito; e Bergman sempre nos deixa estarrecido - não há nada como um bom diretor para extrair o que um ator tem de melhor. Duvido que Lena Olin tenha tido algum desempenho sequer comparável em outro trabalho seu no cinema - em especial na cena em que encena Strindberg em frente ao espelho, sob a orientação do diretor – e Ingrid Thulin consegue colocar todo o exagero, na medida exata, que seu papel pede. Liv Ullman, “musa” e protagonista de tantos outros filmes de Bergman, também só atuou bem sob sua batuta.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

De Repente Num Domingo









Trago para vocês essa grande obra de Truffaut. O último filme de sua carreira. Juntamente com A Noiva Estava de Preto, Truffaut deixa explícito a sua admiração por Hitchcock. Em Marseille, quando Jack Massoulier é morto com um tiro na cabeça, durante uma caçada, Julien Vercel, diretor de uma agência imobiliária, é considerado o principal suspeito do homicídio porque estava caçando naquele dia, na mesma área, conhecia a vítima e deixou suas impressões digitais no carro da mesma. Por outro lado, através de telefonemas anônimos, Vercel toma conhecimento de que sua mulher, Marie-Christine, era amante de Massoulier. Quando esta chega de Nice, onde tem um Salão de Beleza, Vercel a questiona sobre o assunto, ocasião em que ela confirma que era amante do morto e que não pretende se divorciar.Por solicitação do Comissário Santelli, Vercel vai à Polícia, onde é preso por 48 horas para averiguações. Por telefone, entretanto, ele se comunica com seu advogado, Dr. Clément, que consegue libertá-lo. Diante da situação em que se encontra, agora agravada com o assassinato de Marie-Christine em sua própria casa, Vercel decide fugir a fim de tentar descobrir os últimos passos de sua mulher em Nice, procurando inclusive saber se ela tinha ligações com outros homens. Antes de viajar, ele se reúne em sua agência imobiliária com sua fiel secretária, Barbara Becker, a fim de estabelecerem algumas ações a serem tomadas. Bastante cansado, ele adormece na agência e Barbara decide ir em seu lugar, à Nice, para ver o que descobre.Viajando no carro de Vercel, ela o deixa estacionado junto às instalações da polícia localizadas no Aeroporto de Nice. Em seguida, de taxi, vai até o endereço do que seria o Salão de Beleza, mas lá encontra “O Anjo Vermelho”, um estabelecimento ligado à prostituição, comandado por um tal de Louison. Considerado pelo taxista um local extremamente perigoso, ela decide seguir diretamente para o Hotel Garibaldi, onde consegue se hospedar no mesmo apartamento em que Marie-Christine esteve até a véspera de sua morte. À noite, Barbara acorda com um ladrão entrando em seu apartamento para mexer em seus pertences. Ela acende as luzes do cômodo e, ao vê-la, o ladrão inicia sua fuga, mas ela consegue ficar com um pedaço de seu terno rasgado, onde encontra um cartão da Agência de Detetives Lablache. Na manhã seguinte, ela procura o Dr. Lablache, que lhe pede desculpas pelo ocorrido, e lhe diz que sua Agência foi contratada há três dias para seguir os passos da Sra. Marie-Christine.Enquanto isso, o Comissário Santelli não tem dúvidas de que Vercel é também responsável pelo assassinato de sua esposa. Na tentativa de localizá-lo e prendê-lo, ele recebe um telefonema da polícia de Nice informando-lhe que o carro de Vercel foi localizado estacionado no Aeroporto da cidade, dando a entender que ele já se encontra bem longe da França. Barbara retorna de ônibus à Marseille, onde é recebida por Vercel com um tapa na cara. Ela o ameaça com um revólver enquanto lhe diz que descobriu que há três dias ele contratou a Agência Lablache de Nice, o que mostra que ele já suspeitava de Marie-Christine. Depois de dominá-la, Vercel lhe diz que a investigação deve ter sido contratada pelo assassino de sua mulher. Analisando a situação, Barbara acredita que a solução do caso passa pelo “O Anjo Vermelho” e está disposta a seguir essa pista, mesmo sabendo dos riscos que terá de enfrentar. Com dificuldades, consegue chegar a Louison, que a coloca pra fora do local. Antes de sair, escondida em um toalete, Barbara assiste ao assassinato de Louison. Ela ainda consegue falar com ele, que lhe pede para avisar Paule Delbecq, uma mulher importante da organização que normalmente é vista no Caixa do Cine Eden, que serve de fachada para uma cadeia de cabarés.Barbara foge finalmente do local e procura o Dr. Clément. No escritório do advogado, toma conhecimento que ele não se encontra no momento, ocasião em que ela diz à secretária que vai esperá-lo em seu gabinete. Uma vez lá, Barbara encosta-se casualmente numa estante de livros e esta gira, levando-a para o antigo Salão de Beleza de Marie-Christine. Ainda surpresa, ela encontra um cartão da Agência Lablache em um móvel e, sobre um espelho, uma foto de Marie-Christine nos braços do advogado.Na Polícia, tais fatos não deixam dúvidas de que o Dr. Clément é o verdadeiro assassino que tanto procuram. Sentindo que o cerco está se fechando contra ele, o advogado entra numa cabine telefônica, que se acha grampeada pela polícia, de onde telefona para o Sr. Lablache oferecendo-lhe 30.000 francos para que não encontre o envelope que ele lhe enviara poucos dias antes. Pede ainda ao detetive que não rasgue uma fotografia de Marie-Christine, que ele a matou porque ela não mais o amava. Confessa ainda que matou Massoulier a pedido dela, e Paule Delbecq porque esta descobriu tudo. Finalmente, ao verificar que um grupo de policiais se aproxima da cabine telefônica onde se encontra, ele se suicida com um tiro na cabeça.
Baseado no livro "The Long Saturday Night" do escritor Americano Charles Williams, “De Repente, Num Domingo” é um ótimo filme do cineasta francês François Truffaut, embora não chegue aos níveis de suas grandes obras, tais como “A Noite Americana”, “Jules e Jim”, “Os Incompreendidos”, “Beijos Roubados” e “A Noiva Estava de Preto”. O filme marca ainda a despedida desse grande cineasta, já que o mesmo viria a morrer, em outubro de 1984, vítima de um tumor no cérebro.
A história gira em torno do diretor de uma agência imobiliária, considerado o principal suspeito de ter assassinado sua mulher infiel e o amante desta, e, principalmente, do esforço realizado por sua dedicada secretária, na luta para provar a inocência do patrão, a quem ela silenciosamente ama.
Além da direção, Truffaut participa da elaboração do roteiro e da produção do filme, que nos brinda com uma surpresa em seu final. Com ele, o outro grande nome a brilhar em “De Repente, Num Domingo” é o de Fanny Ardant, maravilhosa no papel da incansável secretária Barbara Becker. Jean-Louis Trintignant, no papel do suspeito dos assassinatos, realiza um bom trabalho.

sábado, 22 de janeiro de 2011

O CINEMA CUBANO ANTES DOS ANOS 60



A grande ilha, habitada por 17 milhões de habitantes, produziu a sua primeira atualidade, Extinção de um Incêndio , em 1897, e realizou os primeiros filmes de ficção em 1908. O verdadeiro início do seu cinema foi à apresentação, no dia 6 de agosto de 1913, do filme de longa metragem Manuel Garcia, dirigido por Enrique Diaz Quesada, e que narrava os feitos de um herói nacional durante a guerra de Independência. O filme foi produzido por Pablo Santos e Jesus Artigas, proprietários do maior circo cubano. Eles continuaram durante a primeira guerra mundial uma produção que parece ter sido orientada para os assuntos “revolucionários” e “sociais” (La Careta Social, Zafra o Sangre y Azuca, La Manigua o la Mujer Cubana ). Após 1920, Esteban Ramires e Ramon Peon estrearam. O primeiro dirigiu um filme em episódios: Le Génie du Mal , Face à la Vie e Arroyto , cujo herói pertencia ao folclore camponês. Ramon Peon, cujo primeiro filme foi, em 1920, Realidade, conquistou os maiores êxitos comerciais e foi contratado em 1926 por Richard Harlan como diretor em sua nova produtora, a Panamerican Pictures. A empresa logo enfrentou dias difíceis e a produção baixou para um ou dois filmes por ano no fim do cinema mudo. Peon estabeleceu-se então no México, tornando-se um dos cineastas que mais filmavam naquele período. Até a guerra, a produção de filmes falados foi insignificante e consistiu, sobretudo de filmes de curta metragem dançados e cantados. Em 1939-1940, as Pelliculas Cubanas instalaram estúdios nos quais realizaram uma dezena de filmes em dois anos. A empresa por sua vez periclitou, e a produção cubana caiu à zero, durante alguns anos. Um talento, entretanto, revelara-se: Manuel Alonso que dirigiu vários filmes interessantes, como Cecília Valdes (1953) e principalmente Casta de Robles (1953). Vários filmes foram dirigidos em Cuba por mexicanos, entre os quais se deve lembrar Un Golpe de Suerte, encenado por Manuel Altolaguirre (roteirista do filme de Buñuel, Subida al Cielo, 1951 ) e A Rosa Branca (biografia de José Marti, empreendida por subscrição nacional para celebrar o centenário desse revolucionário). O filme, realizado por Emilio Fernandez e fotografado por Figueroa, não parece ter sido um êxito completo. O conjunto da produção cubana (uns cinquenta filmes no total, entre 1940 e 1957) é medíocre, com cômicos que caçoam dos “galegos” (espanhóis), dos “negritos” (negros), melodramas, insípidas histórias sentimentais com canções da rádio, rumbas para turistas, etc.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Atirem (O Tiro) no Pianista



Aproveitei esses dias de folga forçada (fiz uma cirurgia no braço), para estudar mais a fundo a obra deste grande cineasta francês que foi François Truffaut. Consegui na Vintage o restante dos filmes que eu não havia assistido. Qual foi a surpresa ao me deparar com essa bela película, tendo como um dos personagens o grande cantor Charles Aznavour! Gostei muito da sua atuação. O pianista de um bar, Charlie Koller ( Aznavour), é na verdade o concertista Edouard Saroyan, que resolveu mudar de nome após o suicídio de sua esposa, Thérèse (Nicole Berger). Sua vida começa a complicar quando seu irmão Richard Saroyan (Jean-Jacques Aslanian), que é um vigarista, se refugia no bar, pois está sendo caçado por dois gângsters, Momo (Claude Mansard) e Ernest (Daniel Boulanger). Richard é cúmplice de Chico (Albert Rémy), que é também seu irmão e outro pilantra. Charlie começa a temer pela segurança do irmão mais novo, Fido (Richard Kanayan), que mora com ele. Após esta noite Charlie caminha para casa com sua colega de trabalho, Léna (Marie Dubois). Ele se sente interessado nela, mas não tem coragem de segurar sua mão. Charlie retorna para seu apartamento e passa a noite com Clarisse (Michèle Messier), uma amigável prostituta que mora no mesmo andar e cuida de Fido. Seu apartamento continua sendo vigiado por Momo e Ernest, que planejam seqüestrar Fido no caminho da escola. Porém os bandidos acabam mesmo pegando Charlie e Lena. Eles conseguem escapar quando o carro é parado por um policial, em virtude de uma infração provocada por Lena, mas os problemas deles estão bem longe de terminar. As filmagens foram realizadas entre 30 de novembro de 1959 e 22 de janeiro de 1960. - Lançado em DVD no Brasil como "O Tiro no Pianista".

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

A Chuva


A tarde bruscamente se aclarou,
porque já cai a chuva minuciosa.
Cai e caiu. A chuva é só uma coisa
que o passado por certo freqüentou.
Quem a escuta cair já recobrou
o tempo em que a fortuna venturosa
uma flor lhe mostrou chamada rosa
e a cor bizarra do que cor tomou.
Esta chuva que treme sobre os vidros
alegrará nuns arrabaldes idos
as negras uvas de uma parra em horto
que não existe mais. A umedecida
tarde me traz a voz, a voz querida
de meu pai que retorna e não é morto.

UMA JÓIA RARA




Na semana passada, descobri aqui em Salvador uma locadora de vídeo muito especial. Vintage é o seu nome. Um diamante incrustado no coração da Barra (bairro boêmio de Salvador). A Vintage Vídeos, é uma locadora de DVD especializada em clássicos e cults, com um acervo de mais de 3000 filmes, incluindo os mais significativos da história do cinema, dirigidos por F.W.Murnau, Jean Renoir, Orson Welles, Akira Kurosawa, Ingmar Bergman, Michelangelo Antonioni, Federico Fellini, Luchino Visconti, Vittorio De Sica, entre outros. Literalmente, o termo inglês vintage quer dizer “safra de vinho”. Mas, com o passar do tempo, ultrapassou esse sentido e ganhou novos significados, entre eles clássico, antigo; de época; bom, excelente, valioso; de alta qualidade; da época de ouro. Ao entrar pela primeira vez na Vintage pude experimentar uma sensação especial, como se estivesse descobrindo um grande baú esquecido em alguma caverna, ou no fundo do mar, que nem vemos em alguns filmes (O Conde de Monte Cristo, para ser mais exato). Me senti convidado à partilhar do prazer de se encantar ou reencantar com filmes de expressão mundial, nacionais e estrangeiros, alguns inéditos nos cinemas baianos, inclusive aqueles exibidos nas salas de arte da cidade. Adorei o espaço. Para nós, cinéfilos, fica muito difícil assistirmos filmes desse tipo em Salvador, pois as casas especializadas nesses gêneros são quase inexistentes. Valeu vintage!
Para quem quiser dar uma olhada no acervo da locadora, é só clicar: http://www.vintagevideos.com.br/

domingo, 16 de janeiro de 2011

UM ANO NA PROVENCE


Certamente, para muitos, abandonarem as tensões diárias das grandes cidades e sumir com a família para uma bela casa no campo, é um sonho que se nos douram poucos minutos vagos. Peter Mayle, um profissional do naturalmente agitado meio publicitário londrino, resolveu apostar na realização do sonho, abandonando tudo em troca de uma das aventuras mais charmosas e sofisticadas que um estressado sonhador urbano poderia imaginar. Ao contrário de se contentar com simples férias bucólicas, Mayle decidiu comprar uma tão incomum quanto antiga (século XVIII) casa na Provence, a mais encantadora região da França. O livro conta a história dessa mudança radical, oferecendo ao leitor uma viagem inesquecível às singularidades da região, às hilariantes situações por conta da reforma da casa e, sem dúvida, ao melhor da cozinha francesa. Desde o açougueiro que se recusa a simplesmente vender carne sem ensinar como prepará-la, servi-la e com quais acompanhamentos saboreá-la, passando pelo padeiro que apresenta seus menus de pães, até a descoberta de como "caçar" as trufas frescas do Vaucluse, antes de chegarem, caríssimas, ao seu lar espiritual nas cozinhas de Bocuse ou de Troisgros. Um refinamento que vai além das fatias de maigret dispostas em leque nas mesas requintadas da nouvelle cuisine. Escrito num tom misto de livro de viagens, reportagens e romance, Um ano na Provence foi escolhido como melhor livro de viagens na Inglaterra, em 1990, e transformado em filme pela BBC.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Um Lugar na Platéia









Um filme de acompanhar com brilhos nos olhos. Um conto de fadas da atualidade. E não apenas para um dos personagens. Pois de um jeito ou de outro, a geração mais velha que já viveu a sua grande história, ainda deixa um espaço para que outros brilhem também no palco da vida. Como também, continuam abertos a aprenderem com eles.
Tudo se inicia com uma avó muito simpática, Madame Roux (Suzanne Flon), que mesmo tendo apenas a sua neta por perto, a incentiva a ir viver a sua história. Não ali, naquele cenário bucólico, e até deprimente sob seu ponto de vista. Mas sim na capital, mas precisamente na parte chique de Paris: nos arredores da Avenida Montaigne. Assim, Jessica (Cécile de France) incentivada pela avó que adora o luxo, vai parar em Paris. E consegue uma vaga de garçonete num Barzinho muito especial.
Quebrando a tradição do lugar de não contratar mulheres, o dono a emprega. Pois além de estar com dois funcionários de licença, encontra-se às vésperas de três grandes Eventos que irão acontecer na mesma noite nos arredores do seu pequeno, e movimentado Bar. São eles:
- um Grande Leilão do Acervo de uma única pessoa, Jacques Grumberg (Claude Brasseur). Seu filho Fred (Christopher Thompson) tenta entender o porquê. Ambos tentarão também um jeito de afinar essa relação pai e filho, de vez.- a estréia de uma peça de Teatro, cuja atriz é muito estimada pelo público por sua personagem na TV. Sendo Bipolar, leva ao estresse seu Agente e o Diretor da peça. Além dela querer ganhar o papel para ser a Simone de Beauvoir no filme de Brian Sobinski (Sydney Pollack).- e a apresentação única de um renomado pianista, Jean-François Lefort (Albert Dupontel). Esse passa por uma crise existencial. O que faz abalar também seu casamento.
Além deles, Jéssica também ganhará a simpatia de outros mais. Sua curiosidade, mas por conta da sua naturalidade, faz com que ela acabe até ajudando há alguns deles, como também arrumar um lugar para dormir. Ah! Tem também um príncipe encantado. Mas que então, viverão outra história. Essa é da Jéssica sozinha conhecendo o burburinho de Paris.
Amei o filme! Esse com certeza vou querer rever.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011


segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

O Fabuloso Destino de Amélie Poulain







O fabuloso destino de Amélie Poulain (no original Le Fabuleux Destin dAmélie Poulain), de 2001, é uma ótima dica de filme. Com uma história encantadora, conquista pelo diferencial apresentado, com graça e charme. Destaque para a brilhante atuação de Audrey Tautou (Código da Vinci), que se consagrou como uma das melhores atrizes francesas. O tema abordado não escapa do clichê do amor, mas é mostrado de maneira atraente e divertida.
A vida de Amélie é mostrada desde a fecundação do óvulo de sua mãe, assim como diversos acontecimentos naquele momento. Durante os primeiros minutos de filme alguns personagens são apresentados, com momentos divertidos de Amélie quando criança, como quando ela ganha de sua mãe uma máquina fotográfica, e um vizinho a convence de que sempre que ela tira fotos algum acidente acontece. A garota então fica apavorada, mas logo descobre que a história não passava de mentira e resolve se vingar do tal vizinho, interrompendo o sinal de TV dele na hora de um jogo de futebol.
Logo depois de mostrar sua infância, o foco fica na vida da sonhadora menina. Após perder a mãe em um trágico acidente, Amélie depara-se com um pai ausente, que se refugia em um mundo de apatia. Anos depois, já crescida, Amélie resolve mudar-se para um apartamento no centro e tentar a vida, conseguindo um emprego de garçonete. Os dias da jovem sonhadora são vazios e sem grandes emoções, até que acidentalmente, ela encontra uma caixinha escondida em seu apartamento. O conteúdo dela a deixa surpresa: lembranças da infância de alguém, como carrinhos, fotografias, e outros objetos.
Após a descoberta, Amélie coloca-se em uma busca incansável para achar o dono da caixinha, e ao realizar essa aventura, acaba interferindo de forma positiva na vida de outros personagens, mas acaba esquecendo um pouco de si mesma. Com certo trabalho, ela encontra o dono da caixa, e fica emocionada ao vê-lo feliz com suas lembranças. Pouco depois, ela encontra um álbum de fotografias dispensadas das máquinas de foto rápidas, que por algum motivo, alguém faz questão de recolher e juntar os pedaços das mesmas, colocando em um álbum.
Amélie descobre quem é o dono do álbum, e também fica sabendo de certo mistério que o rapaz tenta descobrir: Uma pessoa que sempre tira fotos nas cabines fotográficas, mas sempre as joga fora, estando boas ou não. Essa é a deixa para ela resolver devolver o pertence do rapaz, mas com muito mistério envolvido, desde telefonemas anônimos a bilhetes para encontrá-la. O tom de suspense e mistério dá mais pontos ao filme. Depois do esforço do rapaz em localizar Amélie, ela precisa decidir se revela ou não sua identidade a ele, se entregando de vez ao amor, coisa que sempre quis.
A originalidade do roteiro é o maior mérito do longa. Fazer uma história simples ser altamente cativante não é para qualquer um. O filme é sem dúvidas uma das melhores histórias já contadas no cinema. Com uma belíssima fotografia, um roteiro e direção impecáveis, “O fabuloso destino de Amélie Poulain” fica na memória de quem assiste, sem dúvida! Sucesso de crítica e público, Amélie é um clássico do cinema.





domingo, 9 de janeiro de 2011

COMO ERA VERDE O MEU VALE






Huw Morgan, um homem de mais de 50 anos, prepara-se para deixar a pequena cidade onde cresceu situada num belo vale do País de Gales.Em flashbacks, Huw recorda sua infância e juventude ao lado da família. Seu pai, Gwilym Morgan, e seus irmãos mais velhos trabalham na mina de carvão local. Sua mãe, Beth, cuida da casa juntamente com sua irmã, a bela Angharad, que é secretamente apaixonada pelo jovem pregador da cidade, o Sr. Gruffydd. Seu irmão mais velho, Ivor, casa-se com sua noiva, a Srta. Bronwyn.
Quando o mercado de carvão enfraquece, o proprietário da mina, Sr. Evans, decide reduzir os salários dos trabalhadores. Estes reagem entrando em greve por 22 semanas. O pai de Huw se coloca contra o movimento, mas seus irmãos e a grande maioria dos outros homens se mantêm irredutíveis. O resultado é que seus quatro irmãos solteiros se vêm obrigados a sair de casa.Huw e sua mãe saem numa noite fria de inverno para uma reunião dos grevistas, onde Beth critica duramente estes pelo tratamento que têm dado ao seu marido. Ao voltarem para casa, os dois caem num riacho congelado mas são resgatados pelos grevistas. Huw fica temporariamente paralítico da cintura para baixo. Quando a greve é encerrada, os salários permanecem baixos e os trabalhadores que eram mais bem remunerados ficam de fora, por medida de economia.O Sr. Evans procura o Sr. Morgan para acertar o casamento de seu filho, Iestyn, com Angharad. Quando esta toma conhecimento do ocorrido, procura Gruffydd e declara todo o seu amor por ele. Este, embora a ame, dá uma desculpa por acreditar que não tem condições de dar uma vida digna à Angharad. Esta o beija e se afasta chorando. Em seguida, casa-se contra a vontade com Iestyn.Huw vai estudar na Escola Nacional, onde é humilhado pelo sádico professor Jonas e, em seguida, por um aluno que, repetindo as humilhações do professor, ainda bate fortemente em Huw. Quando este volta pra casa, seu pai, acreditando que o garoto deve aprender a se defender, pede a Dai Bando, um vitorioso lutador de boxe, que ensine ao filho a arte de lutar.Ao voltar à Escola, Huw vai à desforra com o garoto que o agredira, mas o professor Jonas o castiga batendo-o fortemente com uma bengala. No dia seguinte, Dai Bando vai à Escola e dá uma lição no professor Jonas, deixando-o nocauteado.A família Morgan começa a diminuir quando Owen e Gwilym Morgan Jr. decidem largar tudo e tentar uma vida nova na América. Por outro lado, quando Ivor morre num acidente na mina, Bronwyn, sua mulher, em meio à tragédia, dá a luz a um filho.Depois de vários meses, Huw recebe um Certificado de Graduação e é cumprimentado pelo pai, que deseja uma vida melhor para ele. Entretanto, contra a vontade deste, ele decide trabalhar na mina de carvão.Angharad volta de Cape Town sozinha e vai para a casa grande de Evans no topo da colina. Quando Huw a visita, ela logo pergunta por Gruffydd. Rapidamente, um boato se espalha pela pequena comunidade, afirmando que Gruffydd tem um caso com Angharad.Na Capela cheia, o pregador se defende dos boatos, demite-se do seu cargo e condena sua congregação. Gruffydd deixa a Capela e Huw o segue. Em seguida, ele escreve um bilhete de despedida para Angharad e presenteia Huw com seu relógio de algibeira de estimação.Um novo acidente ocorre na mina e todos correm para lá. Os homens entram no local, que se acha parcialmente inundado. Engatinhando por uma estreita passagem, Huw encontra seu pai, ainda com vida, mas que, logo depois, morre em seus braços.
"Como Era Verde o Meu Vale" é um daqueles filmes que ficam na lembrança para sempre. Acho que, mesmo para quem já o assistiu revê-lo é reviver as mesmas emoções movidas pela história do jovem Huw e de sua família. Há quem diga que ele era o preferido do diretor John Ford, muito embora se saiba do valor que ele dava a outros filmes seus, como 'As Vinhas da Ira' e 'Depois do Vendaval'. Talvez uma das grandes causas do sucesso desse filme seja o fato dele criar, de alguma forma, um forte sentimento de família que persiste mesmo enfrentando a pobreza, greves, acidentes na mina, etc.A Direção de Arte, assinada por Richard Day e Nathan Juran, merece uma menção particular. A cidade de mineradores do País de Gales foi totalmente criada nas colinas do rancho da Fox, nas Montanhas de Santa Mônica.Com um ótimo roteiro, John Ford contou ainda com um excepcional elenco. A maravilhosa e bela Maureen O'Hara tinha apenas 20 anos quando as filmagens começaram. Já era o seu oitavo filme e quando o primeiro de uma série de cinco que faria com o grande John Ford.