terça-feira, 30 de outubro de 2012

Retorno a Hansala



Ontem à noite assisti num canal a cabo este belo filme espanhol chamado “Retorno a Hansala”. O longa-metragem narra o drama de imigrantes africanos que arriscam a vida para chegar ilicitamente à costa sul da Espanha. Quando um barco com diversos jovens marroquinos naufraga no litoral da cidadezinha portuária de Algeciras, dezessete corpos são encontrados. E é nesse exato momento que começa a saga de um dono de funerária e a irmã de um dos mortos, uma árabe que mora há mais de cinco anos na Espanha, para levar o corpo de volta para o vilarejo de Hansala no Marrocos, sua terra natal. Os dramas vividos em terras africanas e que fazem com que esses jovens se arrisquem para atravessar o Gibraltar são retratados nesta película. Simplesmente emocionante.
 

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Cinema, frescor e poesia - A Viagem do Balão Vermelho


A Viagem do Balão Vermelho é uma alegoria sublime para meninos e meninas de 8 a 80 anos transformada em majestosíssimas locações pelo diretor Hou Hsiao-Hsien. Ele se fundamentou no filme que sempre apreciou e que assistiu quando ainda garoto,e que com certeza emocionou a muitos, "O Balão Vermelho", de Albert Lamorisse, sendo uma forma humilde de homenageá-lo. A fita de Albert Lamorisse ganhou o Oscar de melhor Roteiro Original na década de 50. É uma narrativa cinematográfica sobre um garoto sem amigos que encontra um balão vermelho na rua. O balão estava amarrado a um poste de iluminação e ao soltá-lo ele passa a segui-lo pelas ruas da capital francesa, no metrô, nas avenidas, na escola e até a sua casa, como se fosse um cãozinho de estimação apegado ao dono. O filme de Lamorisse tem mais de 40 anos e continua fazendo a alegria e nutrindo o encanto essencial ao imaginário infantil.

A Viagem do Balão Vermelho de 2007 é a recriação dessa história. Simon é um pequeno de sete anos e tem como companheiro inseparável um emblemático balão vermelho que o segue por Paris. A mãe, Suzanne (Juliette Binoche), é uma atriz de fantoches que utiliza as suas aptidões vocais para trazer à vida os shows que ela escreve. Suzanne contrata uma moça para tomar conta de seu filho. Essa jovem é uma estudante de cinema.

Fantástica essa prosopopeia, a ideia de um balão achar um menino e toma-lo para si como amigo, e não o contrário. O filme é uma epopeia de amor; bucólico, fascinante, de uma candura e inocência que comove o mais duro dos corações.

Assistir a esse filme é navegar pela nossa memória trazendo à tona lembranças da nossa meninice. O próprio adulto costuma dizer que fala com seus botões, onde, conclui-se que, não é nenhuma insanidade conversar com plantas, com o vento, ou adotar um balão como amigo, ao invés de adotar um animal para ser amigo.

Alguns podem pensar que pelo fato de A Viagem do Balão Vermelho ser uma espécie de recriação (não remake), esse pode ser o típico filme "sem história", mas basta mergulhar no universo daqueles personagens para identificar várias: a história da babá oriental aventurando-se a achar uma voz entre estranhos, da mãe perdida, longe do esposo, da criança que aprende a contemplar e amar sozinho o mundo que o abraça. O longa-metragem anda a esmo entre essas vidas como um balão solto na brisa, sem hierarquizá-las. Como na vida, o fim pode ser só um início.

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

O Dia Em Que Eu Não Nasci


É terrível constatar que as mazelas de um regime totalitário conseguem, em muitas pessoas, deixar marcas, feridas que jamais cicatrizam. O visivelmente inexaurível baú de histórias sobre a ditadura na argentina entre os anos 70 e 80 ganha uma carregada e digna discussão na película “O dia em que eu não nasci”.
O filme narra a história da jovem Maria Falkenmayer de 30 anos, que vive com o pai, Anton na Alemanha. Ela faz uma viagem à América do Sul. Esperando no saguão do aeroporto de Buenos Aires por sua conexão para Santiago do Chile, Maria ouve uma canção de ninar. Para seu assombro, ela, que não fala e nem nunca havia falado espanhol, começa a cantarolá-la, despertando uma lembrança triste.
Muito perturbada, ela faz uma pausa nos seus planos iniciais de viagem e resolve conhecer mais sobre a capital argentina, onde uma jornada de angústia está começando. Ela descobre que furtaram seu passaporte e tem que ficar ali alguns dias à espera do novo documento. Quando seu pai é informado do incidente, tem uma reação explosiva e desembarca em Buenos Aires, no hotel em que a filha se hospeda. O cordato Anton, depois de ver a filha angustiada por perceber que possui muitos elos com Buenos Aires, acaba por confessar que mentiu a vida toda para Maria. Na verdade, admite Anton, ela não é sua filha biológica. Foi adotada por ele e pela mulher, Liliana, já falecida, quando ela tinha três anos, e seus pais biológicos desapareceram na repressão da ditadura militar.
Na época, o casal alemão morava em Buenos Aires. Liliana, mulher de Anton, trabalhava na creche da empresa em que Anton e o pai de Maria também eram funcionários. Um dia, ninguém apareceu para buscar a menina, a quem Liliana era muito apegada. Pouco depois, souberam que os pais haviam sido presos. Em seguida, o casal voltou à Alemanha, levando Maria.
Esta é apenas uma pequena parte da verdade. A outra parte, Maria vai descobrir averiguando por conta própria, já que Anton está firme na decisão de não ajudá-la a encontrar possíveis familiares que possam ainda viver na cidade, embora ele fale espanhol e ela não. A sorte a ajuda a encontrar, pela lista telefônica, seus tios verdadeiros, com quem ela tem um encontro em que a barreira linguística é superada pela identificação imediata da imagem de Maria às fotos de sua mãe – de quem nunca mais se teve notícia, bem como do marido.
Habilmente, o diretor vai descortinando esta dolorosa desconstrução da identidade de Maria com um emocionalismo contido, traduzido quase sempre apenas pelo expressivo rosto da atriz Jessica Schwarz. A câmera colada no seu corpo, que caminha obsessivamente pelas ruas de Buenos Aires e nada numa piscina pública, onde lava suas lágrimas, igualmente testemunha seu abalo emocional, pelo desmoronamento de tudo o que ela pensava saber sobre si.
Um detalhe curioso é o relacionamento de Maria com um policial, Alejandro, que fala alemão e, por isso, torna-se uma espécie de guia para ela. Ocultar a ocupação de Alejandro num dia em que ele a acompanha como tradutor à casa da tia é apenas mais um capítulo desse jogo de verdades e mentiras que Maria joga com a realidade imediata, que tão mal lida com o passado próximo. Também Alejandro não quer perguntar ao próprio pai, policial igualmente, o que andou fazendo durante a ditadura argentina.
Maria e sua tia, no entanto, querem saber mais sobre tudo. Especialmente quando fica claro que Anton pode ter agido de forma desonesta e criminosa na adoção da menina. Nitidamente, este é um momento de sentimentos divididos para os dois lados, especialmente quando a tia quer o apoio de Maria num processo civil e criminal contra Anton, que a tia considera como um sequestrador.
Vencedor de vários prêmios, o filme de Cossen não deixa de tecer, nas entrelinhas, uma referência aos fantasmas de todos os autoritarismos que existiram e outros que ainda existem.
 

domingo, 7 de outubro de 2012

Do Outro Lado

Do outro lado,  filme do diretor alemão Fathi Akin, nos dá uma percepção de como os destinos podem mudar dependendo de pequenos momentos, de pequenos acontecimentos. Impactante, a película nos mostra um sentido para a morte (como parte da vida). Narra a saga de três famílias; duas turcas e uma alemã. Seus membros estão espalhados entre os dois países. Yeter é uma prostituta quarentona turca que vive na Alemanha. Ela envia dinheiro para sua filha, Ayten, uma ativista política que vive em Istambul, na Turquia. Nejat é um professor numa universidade Alemã, seu pai, Ali, é um turco aposentado que inicia um romance com a prostituta Yeter. Lotte é uma jovem estudante universitária que vive com sua mãe, Susanne, na Alemanha. Os destinos dessas três famílias se cruzam de uma forma dramática e inesperada. O final em aberto nos dão um leque de possibilidades, onde cada espectador poderá encontrar a sua "do outro lado". Recomendo.