sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Série Maigret Simenon - A Velha Senhora


Percebam pela capa que este livro em especial não faz parte da coleção que apresento nos artigos anteriores. É que comprei este livro em um sebo de São Paulo, diferente dos outro que são da editora Nova Fronteira em parceria com a L&PM. A história contida aqui é bastante singular. O comissário emprestará o seu talento no interior da França, mais precisamente na cidade de Étretat. Valentine Besson, viúva do famoso criador dos produtos de cosméticos Juva, pede a Maigret para ir até a sua cidadezinha a fim de averiguar a morte de sua criada que, segundo ela, morrera em seu lugar. A morte foi por intoxicação e o veneno foi colocado no copo com sonífero líquido que ela tomava todos os dias à noite antes de dormir. A dosagem era feita por ela e sempre no mesmo copo, única peça restante de um jogo. Nesse dia, por achar o remédio mais amargo que de costume devolve-o para Rose que, sem que a patroa percebesse, resolveu bebê-lo.
Como era seu aniversário, Valentine, que mora sozinha, recebeu nesse dia sinistro a visita de sua filha que veio de Paris e os filhos de seu finado marido que também resolveram visita-la juntamente com mulheres e filhos. O que chama mais atenção nessa história é que, a primeira vista, não havia motivo que justificasse a morte de Valentine e tampouco a de sua criada. Seu relacionamento com os familiares é o melhor possível. Não é uma idosa afortunada, mora numa pequena casa deixada pelo esposo e vive com uma acanhada pensão. As lindas e valiosas joias que um dia tivera há muito haviam sido substituídas por cópias e vendidas para pagar dívidas da fábrica de cosméticos.
Depois de levantar todos esses dados, Maigret se questionou: O que está por trás disso tudo?  É aí que o nosso bom comissário acaba descobrindo dramas pessoais e conflitos encobertos entre os personagens. Mais uma vez comprovamos Simenon em grande forma. Vale a pena conferir!

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Porto - Bergman e os devaneios da juventude

Porto é uma raridade na carreira de Ingmar Bergman: neste trabalho, o diretor de Morangos Silvestres bebeu da fonte neo-realista, estilo criado na Itália, através de diretores como  Rosselini, Visconti, De Sica e tantos outros. Percebe-se nesta obra do mestre sueco a forte influencia desta vertente italiana do pós-guerra. Com toda certeza Bergman gostou da sensação provocada por Ladrões de Bicicleta, de Vittorio de Sica, outro gênio neo-realista.  Neste longa-metragem, o diretor sueco trata com o mesmo senso de documentarismo, a vida dos operários do porto de uma pequena cidade na Sueca. A fita começa com uma tentativa de suicídio da jovem Berit, que se joga nas águas do mar, sendo salva por um marujo. Ela é levada, aos brados de protesto, para uma casa de correção para jovens infratores, onde ficará por dois anos, isso depois de ter acabado de sair de um período de um ano em outro reformatório.
Quando deixa a internação forçada, percebe que a perspectiva de qualidade de vida é ruim, não só pelo emprego miserável, pela falta de esperança na cidade pequena, mas principalmente por causa da mãe, está sempre à espreita para que, ao menor deslize, ela seja levada ao reformatório novamente. O conflito entre as duas lembram um pouco um dos clássicos de Bergman entitulado Sonata de Outono, em que mãe e filha fazem um dos mais duros acertos de conta do cinema.
A película não tem nada de conservadora; é abertamente erótica e aborda a questão do aborto de uma maneira que para a época foi considerado uma aberração. Porto ficou proibido por dez anos na Suécia e só foi liberado nos EUA no início dos anos 60.
Bergman filmou tudo sem esconder nada. Devo dizer que Porto não se trata de sua maior obra, mas, nesta obra podemos perceber o quanto fervilhava a mente de um diretor jovem, idealista, rebelde, cheio de ideias, não se importando nem um pouco para as convenções sociais. Vale a pena conferir.
 

terça-feira, 28 de agosto de 2012

A Ilha de Bergman


Ontem a noite assisti esse maravilhoso documentário intimista e cheio de emoção. Foram poucas as vezes que vi um homem abrir seu coração ao público de forma tão direta  como  fez Bergman  ao relatar sua vida neste documentário. Pela primeira vez, o mestre do cinema sueco , três anos antes da sua morte, revela seu mundo na desolada e misteriosa ilha de Fårö, no Mar Báltico. O portão azul de sua bela casa traz o aviso em sueco: “Área Privada. Cuidado com os cachorros”. O mais curioso é que não há nenhum cachorro vivendo lá há mais de trinta anos. O aviso quer dizer é que ali existe um homem que quer ser deixado em paz, e cujas únicas amizades são o mar e os próprios demônios. Então com 88 anos de idade, o diretor revê sua vida e os mais de 60 anos dedicados ao cinema, além da longa trajetória no teatro e na TV, em meio a trechos de seus filmes e raras cenas de bastidores tiradas de seu arquivo pessoal. O documentário é um passeio pelas praias e paisagens da Ilha de Farö; uma conversa sincera de Ernst Ingmar Bergman (1918-2007) com Marie Nyreröd sobre sua vida, obra e demônios que o acompanharam sempre. Fala sobre a saudade de Ingrid, a última esposa, que morreu 8 anos antes, admite erros na vida pessoal e discute sua criatividade.
Em 2004, após 5 casamentos e 9 filhos, Ingmar Bergman optou por retirar-se para esta pequena ilha , onde podia conviver com a paisagem, o mar e o maravilhoso silêncio. Os habitantes eram amáveis e protegiam-no, dizendo aos turistas que desconheciam o lugar em que ele residia. No documentário há trechos de filmes, fotografias de família e cenas raras dos bastidores de vários trabalhos, tiradas do seu arquivo pessoal . E o que dizer sua sala particular de cinema? A sala de cinema de Bergman em Farö é um lindo sonho! Em forma de um pequeno anfiteatro com espaço elevado para o projetor e capacidade de 15 amplas poltronas verdes. sempre que chegava o dia 14 de julho, data do se aniversário,   a casa se enchia de crianças e Ingmar Bergman amava exibir "O Circo", de Chaplin. Com certeza este é um trabalho que ficará para a posteridade, revelando ao mundo todo o sentimento de um dos maiores cineastas de todos os tempos.

Série Maigret Simenon - Maigret e o Homem do Banco


Voltamos com a nossa série de artigos sobre a literatura de Simenon, especificamente os livros que contam a saga do comissário da polícia judiciária, Jules Maigret. Este é mais um caso dentre muitos que Simenon derrama abundantemente todo o seu talento de escritor/psicólogo. Li este livro a dois anos atrás e é impressionante como ainda me lembro dos principais diálogos, bem como dos pontos chaves da trama. Só um Simenon tem este poder. Em 'Maigret e o homem do banco', o assassinato de um homem que vivia sentado nos bancos das ruas de Paris revela ao comissário Jules Maigret um caso muito singular. O morto não era um mero desocupado pelo fato de passar as tardes sentado em um banco de praça, mas alguém que buscava uma válvula de escape para a monotonia da vida cotidiana. Louis Thouret é o nome dele. Para o nobre comissário não basta apenas conhecer o seu assassino e a sua vítima.  Maigret está sempre em busca do homem por trás do crime, divide sua atenção entre a investigação do assassinato e sobre as ilusões e decepções humanas. Leiam!

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

A Barca da Esperança

O filme exibido hoje, encerra o Festival Varilux de cinema francês aqui em Salvador com chave de ouro. “A Barca da Esperança”. Narra a saga de um grupo de pessoas pertencentes a uma aldeia de pescadores no Senegal, que devido as péssimas condições de vida e a falta de uma melhor perspectiva aceitam a entrar ilegalmente na Europa em busca de algo melhor. O problema é que a viagem é feita em uma acanhada barca (que no Senegal é chamada de piroga). Essa travessia é uma constante nos países da costa oeste da África, principalmente o Senegal e a Costa do marfim. Arriscando suas vidas, esses homens e mulheres juntam todas as economias e pagam caro para pessoas inescrupulosas que arranjarão o tal barco para a viagem. Depois de travessias, muitas vezes mortais, eles chegam às ilhas Canárias em território espanhol, e de lá para o continente. Baye Laye é capitão de uma piroga de pesca; ele é um exímio conhecedor do mar. Ele não quer partir, mas não tem escolha. Será obrigado a levar 30 homens para a Espanha. Muitos não conseguem se entender, pois são de tribos e até de países diferentes, alguns nunca viram o mar e nenhum deles sabe o que os aguarda. O filme traz uma reflexão sobre a questão da imigração ilegal e os motivos que tornam esse processo uma constante. Esse eu indico de olhos bem abertos, é claro... Até.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

A música-poesia de Milton Nascimento

Série Georges Simenon - Morte na Alta Sociedade


Morte na Alta Sociedade“, escrito em 1960, é mais um exemplo de histórias de crimes e assassinatos ocorridos no seio da aristocracia parisiense. Nesta bela história, o comissário, está preocupado em resolver o, misterioso, assassinato do conde de Saint Hilaire. O panorama do crime coloca Maigret muito mais perto da aristocracia parisiense e seu código de conduta social que, em certas ocasiões, coage o competente policial.
Porém, a resposta pode estar naquelas cartas de amor que o conde trocava a longos anos com uma princesa. Detalhe: a suposta amada ainda permanecia casada com o príncipe. Seria esse o motivo do assassinato do conde com quatro perfurações feitas por uma pistola 7.65. ? É exatamente isso que o comissário precisa descobrir. Ao longo das páginas você vai se deliciando com a leitura e sendo envolvido pelo drama humano que envolve os personagens. Reviravoltas acontecem e, sem dúvida, uma coisa é certa, George Simenon é daqueles escritores, que fisgam o leitor do início ao fim da história.


quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Série Georges Simenon - Uma Sombra na janela

Muitos leitores da chamada “Literatura policial ou Noir”, normalmente se habituam a achar que os casos e as histórias retratadas nos grandes romances só acontecem nos subúrbios das grandes cidades, tendo como personagens gente simples ou marginalizada. Na Paris onde a maioria dos casos investigados por Maigret acontecem não é bem assim. É muito comum na obra de Georges Simenon, acompanharmos situações onde a aristocracia parisiense vive os seus dramas e seus dilemas morais. Neste livro, é assim que acontece. Também nesta história (como na maioria), Maigret fica fora do gabinete a maior parte do tempo. Nesta trama, o cenário principal é a charmosa Place des Vosges, um dos lugares mais glamorosos de Paris. Em um dos prédios que circundam a praça, um rico empresário é encontrado morto, vítima de arma de fogo no momento em que preparava o pagamento dos empregados. A princípio, o assassinato poderia ser consequência de um assalto, porém uma tênue pista leva o nosso comissário ao bairro de Pigalle – o mundo da prostituição da capital francesa. A morte desse homem de negócios é a deixa para Simenon retratar pessoas de diversas classes sociais. Três mulheres fazem parte da vida do falecido: sua ex- mulher, a atual e a amante. Até um ex-embaixador, cuja mulher está a dar à luz, o que leva à zeladora do prédio a comunicar o crime em voz baixa e pedir discrição à polícia. É todo este ambiente e o perfil destas pessoas, seus dramas pessoais, suas índoles que movem a história, muito mais que o interesse em descobrir o assassino. Mais uma vez Simenon nos leva ao âmago da alma humana; um verdadeiro operário da história!

terça-feira, 14 de agosto de 2012

Domingo no Parque... Música e cinema

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

O Caso Saint-Fiacre


Resolvi começar esta série de artigos sobre a literatura de Georges Simenon por este livro, pelo fato de ter sido o primeiro dele que li; o primeiro de muitos. Confesso que me apaixonei completamente pela literatura desse belga, e por todos os seus personagens. Como me considero um leitor contemplativo/meditativo, é comum que depois da leitura de um livro eu passe alguns dias em estado de graça por conta de tudo que li: dialogo com os personagens, bem como com o escritor, concordo ou discordo de seus atos e, vez por outra, até consigo arrumar um lugarzinho para mim na trama. Em se tratando de um Simenon então, o êxtase é dobrado. Suas histórias, bem como seus personagens de cunho psicológico conseguem tocar fundo na alma humana. De toda a sua vasta obra, Maigret é o seu personagem mais popular, pois foram 84 romances protagonizados pelo mais humano dos detetives. Para o grande Jules Maigret, acima de glórias e vaidades encontra-se o ser humano; esse ser tão complexo que “sabe a dor e a delícia de ser o que é”.
O livro começa impactante:
 “Comunico-lhe que um crime será cometido na igreja de Saint-Fiacre durante a primeira missa do Dia de Finados.”

Uma carta inominada chega até a Polícia Judiciária de Paris. Ao Lê-la, Maigret toma um interesse pessoal no caso, pois, Saint-Fiacre é a sua cidade. Foi nesse pequeno e bucólico lugar que ele passou a infância; lugar repleto de memórias. Durante a missa matutina, em meio ao frio intenso, um crime realmente é perpetrado. A condessa de Saint-Fiacre é encontrada morta e pelas primeiras investigações, tem-se certeza de que foi assassinada. Crime cruel e detalhadamente esboçado. Como fazer para descobrir o assassino? Não há provas contra ninguém e oficialmente o crime está fora da alçada da lei, mesmo assim o velho e bom Maigret resolve por conta própria iniciar a sua investigação.
Trama excitante e envolvente, protagonizada por este que é provavelmente o mais humano dos grandes detetives da ficção (nessa seleta lista estão os nomes de Poirot, Padre Brown, Sherlock Holmes...). Suas histórias não são marcadas por situações cotidianas e golpes incríveis de gênio, mas, sobretudo por uma boa dose de humanidade. Todos os personagens são muito reais, muito humanos em suas motivações.
A tensão cresce ao longo do livro, de forma quase imperceptível. A cena da revelação é conduzida de forma perfeita, tanto que, algum tempo depois de ter escrito o livro, Simenon concedeu entrevista e declarou que “estava sob o signo de Sir Walter Scott”: os suspeitos reunidos em um velho e decadente castelo, sob o frio invernal da noite.
Este livro é para se ler de um fôlego só. É Simenon em estado de graça!




domingo, 12 de agosto de 2012

Retratos do Domingo...


Foto de Marc Riboud. "A sister of Saint-Vincent de Paul". Paris, 1953.

O Expresso Cultural voltou aos trilhos...

Olá amigos que curtem este bloginho. Sei que ultimamente estou em dívida com vocês. Aconteceram muitas coisas que impediram o nosso encontro, mas a partir de amanhã estaremos de volta. Durante o mês de agosto trarei para vocês uma série de pequenos artigos sobre a obra do grande escritor belga Geoges Simenon. Confesso que sou um fã de carteirinha desse saudoso escritor. Na última sexta-feira, conheci um belga radicado no Brasil chamado Raphael Rustendal que assim como eu é um apaixonado por Simenon e pelo cartunista Hergé. Rustendal me incentivou para que eu escrevesse a série sobre a obra do pai do comissário Maigret, e depois de muito pensar, resolvi aceitar. Há cada semana serão três livros comentados desse que foi o escritor da alma humana. Não me limitarei apenas aos romances´envolvendo Maigret; os psicológicos serão destaque na série. Espero que vocês gostem. Até amanhã!