Resolvi
começar esta série de artigos sobre a literatura de Georges Simenon por este
livro, pelo fato de ter sido o primeiro dele que li; o primeiro de muitos.
Confesso que me apaixonei completamente pela literatura desse belga, e por
todos os seus personagens. Como me considero um leitor
contemplativo/meditativo, é comum que depois da leitura de um livro eu passe
alguns dias em estado de graça por conta de tudo que li: dialogo com os
personagens, bem como com o escritor, concordo ou discordo de seus atos e, vez
por outra, até consigo arrumar um lugarzinho para mim na trama. Em se tratando
de um Simenon então, o êxtase é dobrado. Suas histórias, bem como seus
personagens de cunho psicológico conseguem tocar fundo na alma humana. De toda
a sua vasta obra, Maigret é o seu personagem mais popular, pois foram 84
romances protagonizados pelo mais humano dos detetives. Para o grande Jules
Maigret, acima de glórias e vaidades encontra-se o ser humano; esse ser tão
complexo que “sabe a dor e a delícia de ser o que é”.
O
livro começa impactante:
“Comunico-lhe que um crime será cometido na
igreja de Saint-Fiacre durante a primeira missa do Dia de Finados.”
Uma carta
inominada chega até a Polícia Judiciária de Paris. Ao Lê-la, Maigret toma um
interesse pessoal no caso, pois, Saint-Fiacre é a sua cidade. Foi nesse pequeno
e bucólico lugar que ele passou a infância; lugar repleto de memórias. Durante
a missa matutina, em meio ao frio intenso, um crime realmente é perpetrado. A
condessa de Saint-Fiacre é encontrada morta e pelas primeiras investigações,
tem-se certeza de que foi assassinada. Crime cruel e detalhadamente esboçado.
Como fazer para descobrir o assassino? Não há provas contra ninguém e
oficialmente o crime está fora da alçada da lei, mesmo assim o velho e bom
Maigret resolve por conta própria iniciar a sua investigação.
Trama
excitante e envolvente, protagonizada por este que é provavelmente o mais
humano dos grandes detetives da ficção (nessa seleta lista estão os nomes de
Poirot, Padre Brown, Sherlock Holmes...). Suas histórias não são marcadas por situações
cotidianas e golpes incríveis de gênio, mas, sobretudo por uma boa dose de
humanidade. Todos os personagens são muito reais, muito humanos em suas
motivações.
A tensão
cresce ao longo do livro, de forma quase imperceptível. A cena da revelação é
conduzida de forma perfeita, tanto que, algum tempo depois de ter escrito o
livro, Simenon concedeu entrevista e declarou que “estava sob o signo de Sir
Walter Scott”: os suspeitos reunidos em um velho e decadente castelo, sob o
frio invernal da noite.
Este
livro é para se ler de um fôlego só. É Simenon em estado de graça!
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