segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Emoção e literatura - O Que o Dia Deve a noite



Uma lágrima rolou. Não pude segurá-la ao findar a leitura deste soberbo livro do franco-argelino Yasmina Kadra. Já havia lido outras obras dste autor - fantásticos trabalhos por sinal - mas nunca senti tanta emoção como agora. Uma cachoeira de emoções. Neste trabalho, Kadra nos oferece um poderoso romance ambientado na Argélia colonial (entre 1936 e 1962) - uma Argélia torrencial, apaixonada e dolorosa - e lança uma nova luz numa escrita soberba e com a generosidade que já conhecemos em trabalhos anteriores, sobre a separação de duas comunidades apaixonadas por um mesmo país. O livro conta a história de um rapaz que nasceu nos campo da Argélia onde sua família tinha uma propriedade e sobreviviam do que plantavam. Cero dia, alguém criminosamente ateia fogo na plantação de trigo e sem poder pagar os credores são obrigados a dixar as terras que seu pai havia hipotecado. Partem para acidade de Orã, onde viverão no subúrbio, tendo como vizinhos apenas a miséria. Younes (esse é o nome do personagem principal que é também o narrador da história), porém tem a sorte de ganhar a simpatia de um tio que propõe ao seu pai criá-lo, pois pelo menos ele terá uma chance de ter um futuro diferente do de seus pais. Novos caminho são abertos para esse jovem que passa a conviver com uma realidade bastante diferente da que conhecia, novas pesoas entram em sua vida e um turbilhão de acontecimenos -que vão desde a guerra pela independência - até o amor deixarão marcas indeléveis e eternas. Ambientes de pobreza e riqueza são postos lado a lado, confrontos interiores, amores proibidos, loucura dos jovens, tudo isto num romance histórico que lança uma nova luz sobre a Argélia das décadas de 30 a 60. Vale apena ler.

De moto pela América do Sul - O livro que inspirou o filme “Diário de Motocicleta”, de Walter Salles



Organizado por Ernesto Che Guevara, em formato conto, graças às suas anotações minudenciadas, é a narrativa da viagem feita por Che e o seu amigo Alberto Granado, da Argentina até a Venezuela, em 1952.
Peripécia e sentimento intercalados por meditações sobre diversos aspectos da América latina, a indigência dos índios, o sobressalto de conhecer o mar, o mundo compreendido pelos olhos de um jovem de 23 anos, disposto à surpresa e à compaixão, mas também querendo achar sua verdadeira vocação, aproveitar a vida, apaixonar-se verdadeiramente.
Tudo isso enquanto a motocicleta segue pelos caminhos poeirentos e arriscados, perdendo peças, provocando tombos e episódios pilhéricos. O livro traz um roteiro detalhado da viagem cartas, mapas e fotos tiradas pelo próprio Che, além de um resumo biográfico. A vida de Ernesto Che Guevara (1928-1967) e sua experiência político-revolucionária são do conhecimento de todos. Menos popular é sua mocidade – seus pensamentos e aventuras desta época, apresentados neste livro. Sem dúvida, um capítulo fundamental para a compreensão de sua biografia. O cúmplice de andanças de Che, Alberto Granado Jiménez, nasceu em Córdoba, Argentina, em 1922. Em 1948, depois de anos de militância estudantil e de uma temporada na prisão, formou-se em Medicina e passou a se dedicar à pesquisa científica. Depois do triunfo da revolução, reuniu-se a Ernesto em Cuba, onde ocupou posição no Ministério da Saúde. Alberto Granado viveu em Cuba de 1961, até março deste ano quando veio a falecer aos 88 anos de causas naturais. Foi bastante respeitado por seu trabalho e dedicação política.
“A pessoa que está agora reorganizando e polindo estas mesmas notas, eu, não sou mais, pelo menos não sou o mesmo que era antes. Esse vagar sem rumo pelos caminhos de nossa Maiúscula América me transformou mais do que eu me dei conta. (…) A menos que você conheça as paisagens que eu fotografei em meu diário, será obrigado a aceitar minha versão delas. Agora, eu o deixo em companhia de mim, do homem que eu era…” Ernesto Che Guevara
Na garupa de uma motocicleta velha, rumo à desconhecida América, este é o retrato exato do momento em que começa a se formar um mito. E, ao mesmo tempo em que descobrimos indícios do grande revolucionário que iria se revelar, lemos a narrativa de um moço como qualquer um de nós: pé na estrada, mochila carregada de sonhos.

domingo, 28 de agosto de 2011

Sob os Tetos de Paris



Eis um dos grandes filmes da primeira metade do século XX. Sei que muitas pessoas não gostam muito de filmes mudos ou preto e branco, mas nessas obras fantásticas podemos absorver riquezas culturais e artísticas abundantes. "Sob os Tetos de Paris" é um desses trabalhos que além de tudo que falei, tem a assinatura do grande diretor francês René Clair. Narra a história de Albert, um cantor de rua, e Louis, um vendedor ambulante, que são grandes amigos. Certa noite, quando se acha cantando nas ruas de um bairro proletário da cidade, Albert se sente atraído por uma bela jovem que se acha com seu companheiro, Fred, entre o grupo que se formou para ouvi-lo. A jovem chama-se Pola e é romena, enquanto Fred é um gângster local.Certa noite, Albert e Louis encontram-se em um Clube Noturno quando vêem Pola sentada em uma mesa, sozinha. Louis propõe ao amigo que disputem, através de um jogo de dados, o privilégio de se sentar com a jovem. Louis ganha o jogo, mas ao se dirigir para a mesa de Pola, verifica que ela não se acha mais sozinha, e sim, acompanhada de Fred. Desolados, os dois amigos deixam o local. Na calçada, se despedem, mas Albert continua ali por perto.Na Casa Noturna, tudo está bem até que outra jovem vai até a mesa onde se acham Pola e Fred, senta-se ao lado dele e os dois se beijam. Indignada, Pola se retira e, ao sair, encontra-se com Albert. Este a acompanha até a casa dela, onde Pola descobre que não se encontra com sua chave. É que Fred a roubara enquanto se achava na Casa Noturna.Ao vê-la sem outra opção, Albert a leva para seu quarto e eles passam a noite juntos. Por ter apenas uma cama, ele tenta dividi-la com Pola, mas esta, já deitada, reage e se levanta chorando. Inicia-se uma discussão entre os dois que termina com Albert insistindo para que ela volte para a cama, enquanto ele vai dormir no chão. Por outro lado, usando a chave que roubara de Pola, Fred vai ao quarto dela, encontrando-o vazio.No início da manhã, um batedor de carteiras, conhecido de Albert, bate à sua porta. Depois de jogar vários cobertores por cima da cama, a fim de evitar que ele descubra a presença de Pola em seu quarto, o cantor abre a porta para o conhecido, que traz uma bolsa com produtos roubados e pede a Albert para guardá-la, enquanto estiver viajando. Depois que ele se retira, Pola se apronta, agradece a gentileza de Albert e vai embora. Entretanto, minutos depois, quando o cantor abre a porta para voltar às calçadas do bairro, ele se depara com a jovem. Quando lhe pergunta por que ela ainda está ali, Pola lhe confessa que não quer ir para casa.Assim, naquela manhã, a jovem acompanha Albert pelas calçadas do bairro onde, enquanto ele canta, ela vende aos que o ouvem, cada canção por um franco francês. Fred chega ao local e se junta ao grupo. Entretanto, incomodado com o barulho, um senhor que mora num andar superior, joga pela janela um jarro d’água, dispersando a pequena multidão. Albert e Pola se refugiam no prédio, onde se beijam. Irradiando felicidade, ele comunica a Émile, o acordeonista que o acompanha, que vai se casar. Enquanto a jovem vai à casa dela para fazer suas malas, Albert compra vários presentes para sua amada. Nesse ínterim, Fred escreve um bilhete para ele, ameaçando-o caso não se afaste da mulher que ama.Ao retornar das compras, Albert é preso pela polícia que, ao dar uma batida em seu quarto, encontra a bolsa com as mercadorias roubadas pelo batedor de carteiras. A poucos metros do local, carregando suas malas, Pola vê quando ele é levado pelos policiais.Reunido num Bar com o batedor de carteiras, Fred diz que o melhor é eles passarem um tempo fora da cidade. Nesse período, com Albert na cadeia e Fred fora de Paris, Pola termina se aproximando de Louis. Quando o verdadeiro ladrão é preso, este confessa que Albert nada tem a ver com o caso, o que faz com que o cantor seja solto. De volta ao seu quarto, Albert encontra, debaixo da porta, o bilhete com o qual Fred lhe ameaçava. Na Casa Noturna, Louis e Pola estão felizes até que ela desconfia que ele esteja flertando com outra jovem. Sem pensar duas vezes, ela se levanta e vai embora. Na calçada, encontra Fred, que acabara de voltar à Paris. Embora contra sua vontade, Pola se vê obrigada pelo vilão a retornar à Casa Noturna para dançar com ele. É nessa hora que Albert chega ao local e se dirige ao balcão. Ao vê-lo, Pola larga Fred e se dirige ao cantor, mas este se mostra indiferente com ela. Fred vai até eles e ameaça mais uma vez Albert. Este decide enfrentá-lo, levando Pola até o centro do salão para dançarem uma valsa.Terminada a dança, Albert é desafiado por Fred a enfrentá-lo na rua. Ele aceita o desafio e vai até o bandido, que se acha rodeado por seus cúmplices. A luta é dura e, no final, a polícia chega e, com exceção de Albert, todos vão presos.Ao voltar para a Casa Noturna, Albert descobre que Pola se acha na realidade apaixonada por Louis. Este declara que não sabia do envolvimento da jovem com seu melhor amigo. Nesse clima, Louis pega os dados e os joga. Albert, por sua vez, trapaceia para não quebrar a felicidade do amigo. Parabenizando o casal, Albert se retira para, na manhã seguinte, retomar sua rotina como cantor de rua. Escrito e dirigido pelo cineasta René Clair, “Sob os Tetos de Paris” é uma ótima comédia do cinema francês. Sua trama gira em torno de três homens que disputam o coração de uma jovem mulher: dois grandes amigos e um gângster.Ao realizar o filme durante a fase de transição entre os cinemas mudo e falado, Clair utiliza, de forma magnífica, as duas técnicas, alternando cenas sem som, mas com um gestual que o dispensa, e outras com o conhecido som sincronizado do cinema moderno. Os movimentos da câmera são impressionantemente perfeitos. Merecem ainda atenção, a bela fotografia , bem como, as atuações dos quatro principais atores, com ênfase para as de Albert Préjean e Pola Illéry.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011



Estamos chegando ao desfecho da série Antoine Doinel. Tenho certeza que vocês gostarão muito dessas películas maravilhosas dirigidas pelo genial e imortal Truffaut. O Amor em Fuga, é o quinto e o último filme protagonizado pelo personagem Antoine Doinel, o alter-ego do mestre François Truffaut. Após oito anos de vida em comum, Antoine e Christine Doinel decidem divorciar-se. Aos trinta e cinco anos, Antoine Doinel continua o mesmo adolescente de sempre. Ele se encontra com Christine, sua mulher, para assinarem os papeis da separação. A imprensa procura entrevistar o casal nas escadarias da Corte (esse é o primeiro divórcio ocorrido na França). No meio da multidão que se forma na ocasião, encontra-se Colette, o primeiro amor de Antoine, hoje uma grande advogada em Paris. Antoine está agora apaixonado por Sabine, mas continuamente a desaponta. Quando ele quebra a promessa de ver seu filho na estação (uma promessa feita à Christine), ela acha que não deve mais continuar com essa relação. Na estação, Antoine vê Colette num dos trens que vão rumo ao sul e, sem pensar duas vezes, ele consegue pegar o tal trem. Colette tem o livro de Antoine em suas mãos e, à medida que o trem se desloca, ela vai virando suas páginas, ao mesmo tempo em que relembra os velhos tempos dos dois. Antoine e Colette finalmente se encontram e, juntos, discutem o passado e tentam entender se suas vidas estão agora melhores ou não. Christine e Colette encontram-se quando ambas tentam persuadir Sabine a se reconciliar com Antoine, por quem elas ainda têm grande afeição. O interesse de O Amor em Fuga está nos reencontros de Doinel com velhos conhecidos da série – Colette, sua primeira namorada, Christine, a mulher com quem ele se casou, e Lucien, o amante de sua mãe.

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

E Não Sobrou Ninguém



Primeiro levaram os judeus,

e eu não protestei porque não sou judeu.

Depois levaram os comunistas,

e eu não protestei porque não sou comunista.

Então levaram os sindicalistas,

e eu não protestei porque não sou sindicalista.

Então me levaram,

e já não havia ninguém para protestar por mim



Pastor Martin Niemöller

A "Travessia" de Milton Nascimento




“Eu não quero mais a morte, tenho muito que viver.”






Chove bastante aqui em Salvador. Esta frase não combina nada com a minha querida cidade, pois a capital baiana em dias de chuva é tão triste e melancólica como os programas de televisão aos domingos. E nesta horas a melhor coisa a fazer é ouvir música; então resolvi ouvir Milton nascimento e a sua bela canção "Travessia". Música que trouxe o reconhecimento nacional para Milton Nascimento, em 1967, quando ficou em 2º lugar no Festival Internacional da Canção, Travessia é uma das canções mais românticas das criadas por compositores brasileiros. A música fala de amor, sofrimento, morte, vida, angústia, sonho e tentativa de superação, sem deixar de usar alguns versos que criticassem a ditadura militar que imperava na época. A canção traz um homem que sofre por uma separação e chega até a pensar na morte. Entretanto, ele é consciente, sabe que pode amar de novo e que tem muito a viver ainda. A separação foi dura, mas isso não quer dizer que tudo acabou. A crítica à ditadura acontece nos versos “minha casa não é minha e nem é meu esse lugar”. A impressão que se tem, ouvindo a música em seu contexto, é a de que o homem não consegue viver sem sua amada, nem na sua casa, mas, se levarmos em conta que na ditadura a liberdade era praticamente nula, os versos trazem um duplo sentido. Travessia tem uma importância na história da música brasileira. Trouxe um grande intérprete e compositor, o romantismo de volta e a prova de que, mesmo nas separações mais difíceis, a superação pode e deve acontecer. Veja o link abaixo. Até.



Domicílio Conjugal




Sempre que posto um filme do François Truffaut aqui no blog acabo me empolgando. O fato do iniciador da Nouvelle Vague ser o meu diretor francês predileto é uma influência neste caso. O filme de hoje é o divertidíssimo Domicílio Conjugal. É o quarto filme protagonizado pelo personagem Antoine Doinel, o alter-ego do cineasta François Truffaut. Antoine Doinel acaba se casando com a ajuizada Christine Darbon. Enquanto ela dá aulas de violino, ele ainda corre em busca de um emprego fixo (na verdade Doinel passa toda a série correndo como um louco). A rotina do casal é alterada radicalmente com a gravidez de Christine e um caso extraconjugal de Antoine com uma bela japonesa. Será que o domicílio conjugal irá resistir? Vemos presente a eterna inquietude de Antoine, que em determinado ponto atinge Cristine também. Este filme é maravilhoso, um dos meus prediletos de toda a série. Expõe o olhar afetuoso, pilhérico e astuto do diretor Truffaut sobre o casamento e a paternidade.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Série Antoine Doinel - Beijos Proibidos





Mais uma vez uma dica legal da série Doinel. Neste que é o terceiro filme da série , Antoine acaba de ser dispensado do serviço militar. Está apaixonado por Cristine Darbon (a bela Claude Jade Que depois do filme acabou se envolvendo com o diretor Truffaut que sempre teve a fama de se envolver com as musas dos seus filmes. Foi assim com Jade, Jane Moreau e Fany Ardant), e além disso, tenta se estabelecer profissionalmente - como guarda noturno, detetive particular e vendedor de sapatos. Aqui ele descobre o amor e fica explícito seu eterno desiquilíbrio, cheio de graça, emocional e profissional. As trapalhadas de Doinel são divertidíssimas. Um lance bacana que já começou a aparecer no curta anterior e fica mais evidente aqui é que o Antoine sempre se apaixona não só pela mulher, mas principalmente pela família. Sei que posso estar sendo repetitivo, mas não posso me calar e não falar da lindíssima trilha sonora interpretada pelo saudoso Charles Trenet cantando a canção "Que reste-t-il de nos amours". Fenomenal!

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Antoine e Colette: Amor aos Vinte Anos



Estamos de volta para continuar a série de filmes de François Truffaut com o personagem Antoine Doinel. Diferente da primeira película, quando o personagem é um garoto entrando na adolescencia, neste momento de sua vida Doinel já é um adolescente de desesseis anos e independente. . Curiosamente esse episódio é o menor filme da série com aproximadamente 20 minutos; praticamente um curta em que Doinel trabalha em uma grande loja de discos (esse é um dos muitos empregos que o jovem terá na vida profissional que por sinal é bastante instável). Em Paris, durante um concerto, Antoine ousa abordar Colette, a quem admira em segredo há muito tempo. É muito bem recebido pelos pais da moça e deixa bem claro as suas intenções de namorar sério com ela, mas Colette para desespero de Antoine o deixa sempre em companhia dos seus pais para sair com outro rapaz. São as primeiras confusões de um garoto que começa a exergar o mundo e tem que se virar nele sozinho.

domingo, 21 de agosto de 2011

Série Antoine Doinel - "Os Incompreendidos"






Como prometi, começamos hoje a nossa série de filmes de Truffaut com o personagem Antoine Doinel. Bom, pra começar, o Antoine Doinel era uma espécie de alter ego do próprio Truffaut. Então, tem umas coisinhas sobre ele que vale a pena contar. O Truffaut teve uma infância e adolescência bem sofrida: nunca conheceu o pai biológico, foi rejeitado pela mãe e criado pelos avós maternos até os 10 anos. Quando a avó morreu, voltou a viver com a mãe e um padastro – que lhe emprestou o sobrenome, mas que ainda o rejeitavam violentamente. Ia mau na escola, até abondoná-la, quando começou a praticar pequenos furtos. Enfim, a essas alturas, já tinha uma paixão muito grande pelo cinema, plantada pela avó falecida, e com 14 anos fundou um cine-clube. Óbvio, o clube não deu certo, mas fez barulho. E um grande crítico e também dono de cine-clube, André Bazin, se sensibilizou com o menino cinéfilo e o ‘adotou’. Virou um tutor intelectual e pai adotivo de Truffaut. Livro daqui, filme dali até que o Truffaut se transformou num dos grandes nomes da Novelle Vague, primeiro como crítico e depois como cineasta, revolucionou o cinema francês e influencia, até hoje, gente no mundo inteiro, com suas obras fantásticas, eternas. Mas eu comecei falando do Antoine Doinel, que é o personagem – atenção, não se percam! Um dos primeiros filmes do Truffaut, o primeiro autobiográfico e o que projetou seu nome no mundo, foi o Le 400 Coups, ou Os imcompreendidos - que conta a infância e adolescência do Doinel. Para o papel, ele escalou Jean-Pierre Léaud, então com 14 anos. É claro, a história se repetiu e Léaud transformou-se também em pupilo e meio que filho de Truffaut. E assim o Truffaut seguiu fazendo filmes com o Jean-Pierre por mais 20 anos, com ou sem o Antoine Doinel. A série começa com "Os Incompreendidos", seguido de um curta chamado "Antoine et Colette", que compõe o filme "Amor aos 20", uma coletânea de curtas de vários diretores. Depois vem "Beijos Proibidos / Baisers Volés", que apresenta a encantadora Claude Jade, por quem o Truffaut caiu em perdição, largou a mulher milionária e se casou, perdido de amor. Na seqüência, também com a dupla campeã Jean-Pierre/Claude Jade, "Domicílio Conjugal". A série encerra com "Amor em Fuga", que traz de volta a não menos linda Collete, de quase 20 anos antes. Todos os filmes são maravilhosos.
Tudo me encanta nos filmes do Truffaut: os roteiros perfeitos, inteligentes, sensíveis, a narrativa fluente, a fotografia deslumbrante, as trilhas sonoras, uma mais perfeita que a outra, e por aí vai. Dava pra falar muito dele, mas aí entramos em outra seara. Já me estendi demais. Vamos ao filme de hoje





Este é o primeiro da série e a história dele já está bem contada lá em cima. O Antoine Doinel é maltratado pela mãe e pelo padastro e começa a aprontar deliciosas travessuras na escola - a cena em que a turma sai para um passeio na cidade e, pouco a pouco, todos fogem do professor, é ótima. Apanha da mãe, é expulso, vai para um reformatório, enfim... É a infância do Truffaut retratada em filme. Fantástico. Quem conseguir este DVD que está aí na foto, poderá ver também o curta Antoine e Colette, de 1962. Aqui Doinel volta à Paris para morar sozinho, arruma pequenos bicos, reencontra amigos e se apaixona, por música, arte e por Colette. É o início da juventudade e da saga de amores de Doinel. De todos os outros filmes da série ste é na minha ponião aquele que mais me chamou atenção em relação a qualidade da trilha sonora que casa perfeitamente com o movimento de câmera. A cena de abertura é simplesmente perfeita, revelando uma Paris em preto e branco, charmosa até mesmo no inverno, sensacional! Amanhã trarei o segundo filme da série. Até!





























sábado, 20 de agosto de 2011

BILHETE



Se tu me amas,
ama-me baixinho.

Não o grites de cima dos telhados,

deixa em paz os passarinhos.

Deixa em paz a mim!

Se me queres,enfim,

tem de ser bem devagarinho,

amada,

que a vida é breve,

e o amor

mais breve ainda.

Mario Quintana

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Quando olhava da janela lateral do quarto de dormir...

Mais um dia começando e eu aqui sem sono. Aproveitei para ouvir música e claro, música de qualidade. Fui surpreendido por uma canção no rádio que há muito tempo não ouvia; Paisagem na Janela, do famoso Clube da Esquina. Esta música fez parte do disco Clube da Esquina no ano de 1972.O disco é cheio de clássicos da nossa música: "Tudo Que Você Podia Ser", "Cais", "O Trem Azul", "Cravo e Canela", "Um Girassol da Cor do Seu Cabelo", "San Vicente", "Nada Será Como Antes" e outras. Uma das mais belas de todas é "Paisagem da Janela". Esta música foi composta por Lô e Fernando Brant em um quarto de hotel em Diamantina, quando os integrantes do Clube foram chamados para fazer uma reportagem para a revista "O Cruzeiro", durante o processo de composição do álbum. A vista para a Serra do Espinhaço influenciou Brant a escrever uma das letras mais bonitas do álbum.
Poesia e emoção foram as grandes companheiras desses músicos mineiros que com seus sonhos de adolescentes encantarm sua geração e hoje encantam a minha. Lô Borges, Fernando Brant Milton Nascimento, Beto Guedes, Flávio Venturini e tantos outros que elevaram a música mineira a um grande patamar. Muitos estudiosos colocam esses caras ao lado de estilos consagrados como a Tropicália, não só pela poesia e pela criatividade nas canções, mas pelo engajamento na luta contra o sistema vigente na época que foi a ditadura militar. Na sequencia, a bela canção Paisagem na Janela acompanhada de belíssimas imagens das Gerais, Mais precisamente Ouro Preto, o símbolo desta terra linda e poética. Até!


quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Truffaut - Série Doinel a partir de domingo



Para os amantes do cinema francês, especialmente dos trabalhos do mestre François Truffaut, a partir de domingo postaremos uma série sobre os principais filmes do cineasta que foi a série de filmes estrelados por Jean-Pierre Léaud onde ele interpreta o personagem Antoine Doinel. Serão cinco filmes da série, , mais o curta 'Os Pivetes. Vocês vão adorar as dicas. Aguardem!

Agiotagem (Mário Chamie)



um



dois



três



o juro:o prazo



o pôr / o cento / o mês / o ágio



p o r c e n t a g i o.



dez



cem



mil



o lucro:o dízimo



o ágio / a mora / a monta em péssimo



e m p r é s t i m o.



muito



nada



tudo



a quebra:a sobra



a monta / o pé / o cento / a quota



h a j a n o t a



agiota.

Som Imaginário




Este foi um dos livros que li durante o périplo que fiz pelo recôncavo durante as férias. Com uma linguagem objetiva mas ao mesmo tempo poética, o autor nos faz sonhar e ao mesmo tempo compreender o que foi o Clube da esquina. No final da década de 1960, as esquinas de Belo Horizonte tornaram-se o lugar perfeito para que jovens compositores criassem uma nova musicalidade que alterou os rumos da canção popular brasileira. A partir desse local propício para os mais diversos tipos de encontros, o Clube da Esquina lançou também um outro olhar sobre o mundo público. Em suas canções, a cidade – pensada para além de sua materialidade física – voltou a ser imaginada como um espaço essencial para o desenvolvimento humano, devido às suas possibilidades de diálogo, à pluralidade de ideias e, principalmente, ao fortalecimento da amizade. A poesia bem como a militâncioa estiveram lado a lado nesse processo. Cantores como Milton Nascimento, Lô Borges, Beto Guedes, Marcio Borges, e tantos outros que inspirados pela canção dos Beatles emocionaram o Brasil... E ainda hoje emocionam. A minha canção preferida é ...

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Ternura (Vinícius de Moraes)


Eu te peço perdão por te amar de repente

Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos


Das horas que passei à sombra dos teus gestos


Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos


Das noites que vivi acalentado


Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo


Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.


E posso te dizer que o grande afeto que te deixo


Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas


Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...


É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias


E só te pede que te repouses quieta, muito quieta


E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar estático da aurora.




Cinema Cubano




Sabe aqueles livros que te abrem o horizonte de tal maneira que muitas vezes você tem a impressão de ver o mundo todo de cima? Foi assim que me senti quando li pela primeira vez este maravilhoso livro. Cinema Cubano não é um simples album com pequenas sinopses; é muito mais, é um verdadeiro trabalho científico. Este livro discute a política cultural em Cuba entre 1959 e 1991 a partir da trajetória do Instituto Cubano Del Arte e Industria Cinematográficos (Icaic). A historiadora Mariana Villaça analisa as angústiass que envolviam as complicadas e tensas relações arte/política ou, no caso cubano, arte/revolução. Através de um amplo levantamento abalisado nos documentos institucionais, na revista Cine Cubano, em declarações, críticas e, principalmente, filmes, é possível debater e compreender esse polêmico assunto em um dos períodos mais emblemáticos da América Latina contemporânea.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Homens e Deuses

Hoje vamos fazr uma indicação de cinema. A película de hoje, tive o prazer de assistir no último sábado no cinema da UFBA aqui em Salvador. Trata-se do filme "Homens e Deuses", que continua em cartaz às 20:30. Mais uma vez a França é destaque na indicação de hoje. A história se passa na Argélia em plena década de 90. Um grupo de oito monges franceses vive em um mosteiro localizado no alto de uma montanha . Liderados por Christian (Lambert Wilson), eles vivem em perfeita harmonia com a comunidade muçulmana local. O exército dispõe os seus serviços de segurança contra as ameaças que surgem, mas os monges a recusam. Preferem levar sua vida de forma simples, dando continuidade à sua missão independente do que vier a acontecer com eles. A história dos monges é verídica e tocante, a narrativa também tem uma sensibilidade bonita, boa para ser apreciada. Quem estiver em Salvador pode comparecer na sala do Canela na UFBA e conferir. No restante do Brasil, o filme já entrou em cartaz há um bom tempo. Até.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Heresia - Um suspense histórico




Além da minha paixão pela literatura, tenho na história um caso de amor eterno (sou estudante do 5° semestre de história). Ao visitar as livrarias, se por acaso me deparo com trabalhos onde a história e a ficção são equilibradamente trabalhados pelo autor, logo tenho interesse em ler e analisar. Foi assim quando li o maravilhoso livro de S. J. Parris (pseudônimo de Stephanie Marrit). A história contada se passa na Inglaterra, no ano de 1583: a nação enfrenta um período perturbado, marcado por conluios para arruinar a rainha Elizabeth, que é protestante. Muitos de seus vassalos estão contrariados com a liderança e ambicionam pelo retorno do país à religião católica. Em meio a esse clima de tumultos religiosos, o monge italiano Giordano Bruno chega a Londres, tentando escapar da Inquisição, que o acusou de heresia por sua fé num Universo heliocêntrico. O filósofo, cientista e estudioso de magia logo é recrutado pelo chefe do serviço de investigação real e enviado a Oxford. Oficialmente, ele vai participar de um debate sobre as teorias de Copérnico, mas, em segredo, deve se incutir na rede oculta dos católicos e descobrir o que puder sobre um plano macabro para arruinar a rainha. No entanto, quando um dos componentes mais velhos de Oxford é brutalmente trucidado, a missão secreta do filósofo é desviada de seu curso. Enquanto ele tenta revelar o crime, outro homem é morto e Giordano Bruno se vê enredado numa aterrorizante perseguição. Alguém parece estar resolvido a executar uma sofisticada vingança em nome da religião. Mas, afinal, de qual religião? À procura de pistas, o monge percorre os labirintos da biblioteca de Oxford e visita tabernas infames e livrarias misteriosas fora dos muros da universidade, chegando a lugares que ele nunca soube que existiam e fazendo descobertas que poderiam ameaçar a estabilidade da Inglaterra. Envolvido em uma rede de intrigas e traição, ele percebe que às vezes nem mesmo os mais sábios conseguem discernir a verdade da heresia. Alguns, no entanto, estão dispostos a matar para defender suas crenças. Baseado em fatos reais da vida de Giordano Bruno, Heresia exigiu uma pesquisa minuciosa da autora, que investigou a fundo a trajetória do monge e o contexto político e religioso da época em que ele viveu. O resultado é um suspense histórico repleto de reviravoltas surpreendentes.

domingo, 14 de agosto de 2011

Grandeza...




O Céu de Lisboa



Essa película me fascinou desde o primeiro minuto de exibição. Tive o prazer de assistir pela primeira vez em 2006, porém não me saiu da cabeça. Belo trabalho de um diretor que em muitos momentos de sua carreira teve o seu trabalho criticado pela tal "imprensa especializada", só que na minha opinião as críticas foram todas injustas feitas por pessoas sem um pingo de sensibilidade. O filme prossegue na mesma linha dos outros trabalhos de Wenders sobre a vulgarização das imagens, mas é um belo – embora propositadamente lento e sem qualquer ação, mas cheio de monólogos – manifesto de amor ao cinema no ano do seu centenário, à Europa unificada, à interligação entre culturas diferentes.
Manoel de Oliveira, o veteraníssimo diretor português, faz um monólogo sobre imagem e vida, e depois imita Carlitos numa ladeira de Lisboa. Um sósia de Fernando Pessoa aparece sem que o cineasta e seu atrapalhado mas competente engenheiro de som percebam. Há longas leituras de textos de Pessoa, e cenas inteiras dedicadas à beleza da música do Madredeus e de sua solista, Teresa Salgueiro. Wenders se apaixonou pelo Madredeus e o lançou para o mundo, esse conjunto extraordinário que canta nesta língua bárbara.
E essa arrebatadora conexão com a trilha sonora não é inovação na obra de quem pegou todos os mais importantes conjuntos de rock/pop para tentar entender qual será o som no final da década e do milênio em Até o Fim do Mundo. Portugal também não é novidade na sua obra, pois esteve presente em O Estado das Coisas e no próprio Até o Fim do Mundo.
O alemão que recusa o passado nazista do conceito de raça superior faz o elogio da cultura do país mais pobre da nova Europa. E termina com uma moral otimista: não interessa que a imagem tenha sido banalizada, é preciso procurar a bela imagem no meio de tanta asneira produzida pela indústria cultural.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Godard, Truffaut e a Nouvelle Vague



Hoje trouxe para vocês um maravilhoso trabalho de pesquisa cinematográfica. Trata-se do filme "Godard, Truffaut e a Nouvelle Vague", do diretor francês Emmanuel Laurent. Celebrando os 50 anos da Nouvelle Vague, este bellíssimo documentário resgata à memória de todos a apresentação da película "Os Incompreendidos", de Truffaut, no festival de Cannes no ano de 1959, e a produção do filme "O Acossado", de Godard, registrando o nascimento do grande movimento cinematográfico que mudaria radicalmente a forma de fazer e entender o cinema na França, e apresentou ao mundo dois dos grandes gênios do cinema europeu e mundial de todos os tempos, Truffaut e Godard. O documentário traz ao conhecimento de todos detalhes da amizade naquela época entre esses dois artistas de personalidades e comportamentos completamente diferentes, bem como os motivos que levaram ao rompimento definitivo desta relação. Tive a oportunidade de assistir a esse grandioso trabalho há três semanas atrás, no 7° Seminário Internacional de Cinema de Salvador, e confesso que preencheu as minhas espectativas quanto ao seu conteúdo objetivo e completo; fantástico!

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Os Escrúpulos de Maigret

Esta é mais uma das excelentes histórias envolvendo o lendário comissário da polícia judiciária francesa Jules Maigret, porém esta é sem dúvida a mais estranha para o nosso bravo policial e sua equipe. Normalmente Maigret se envolve nos acontecimentos após um delito ser perpetrado, como parte de suas atribuições de comissário da Polícia Judiciária. Neste livro, entretanto, é procurado por Xavier Marton, um vendedor de brinquedos de uma grande loja. Marton começa por informar que buscou auxilio de um médico antes de procurar Maigret, para ter certeza que não é insano. E que está convicto de que a esposa deseja matá-lo. Ele não tem provas, nem deseja fazer uma denúncia formal, quer apenas comunicar a Maigret.Passar a existir então uma situação complicada: sem um delito, queixa ou indícios, ele não tem pretextos para se envolver. Aliás, o promotor geral o adverte explicitamente que ele não se envolva. É obvio que Maigret desobedece e coloca seus inspetores para averiguar a vida de Marton e a esposa.Quando um crime ocorre, Maigret o resolve prontamente, apesar da solução não ser tão óbvia para o leitor. Como de costume, mais extraordinário que a solução do crime é o retrato da condição humana (ou mais precisamente das fraquezas humanas). Esse é um daqueles livros que ao final você fica pensando um pouco na pequena tragédia e se perguntando se você também não está seguindo mecanicamente um caminho errado.Uma indiscrição mencionada por Maigret (e que não sei se continua se aplicando nos dias de hoje) é a preocupação da polícia em refrear os custos das investigações que não sejam requeridas pelos promotores. Já os promotores se inquietam menos com os custos, pois pela lei eles serão reembolsados pelos culpados.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Mascarados (Cora Coralina)



Saiu o semeador a semear
Semeou o dia todo
e a noite o apanhou ainda
com as mãos cheias de sementes.
Ele semeava tranqüilo
sem pensar na colheita
porque muito tinha colhido
do que outros semearam.
Jovem, seja você esse semeador
Semeia com otimismo
Semeia com idealismo
as sementes vivas
da paz e da justiça

Zazie no Metrô



Olá pessoal, tudo bem? Depois de mais um intervalo volto cheio de energia para interagirmos através deste espaço. Desta vez o motivo da longa ausência não foi minha e sim do computador da minha casa que me deixou na mão; estou clicando do laboratório de informática da faculdade onde estudo. A dica literária de hoje vem da França, é um livro publicado a muitos anos e que vocês vão gostar. Chama-se "Zazie no Mtrô", escrito pelo francês Raymond Queneau. Elogiado pela crítica e pelo público, que só na França já comprou mais de um milhão de exemplares, Zazie no Metrô é um romance debochado e original que conta as façanhas da menina Zazie que mora em uma pequena cidade no interior da França e vai à Paris passar alguns dias na casa do seu tio Gabriel. Zazie tem dois sonhos bem definidos: andar de metrô e vestir calça jeans pela primeira vez, porém uma greve dos trabalhadores dos transportes de Paris impede que Zazie faça o seu tão sonhado passeio subterrâneo e para ganhar a calça jeans, ela se vê as voltas com um sujeito que não sabemos se é um tarado ou um policial. A garotinha passeia pela Paris dos anos 50, uma cidade diferente da capital da alta cultura que conhecemos, na companhia de amigos um pouco estranhos de seu tio, que passam o dia enchendo a cara e jogando conversa fora. O modo de escrever, bem como os diálogos deste empolgante livro o fazem estar na lista dos maiores da literatura francesa do século XX. Agora é com vocês. Boa leitura!