domingo, 29 de setembro de 2013

Filme Noites Com Sol: O ponto alto da carreira dos irmãos Taviani...


Hoje à tarde revi o filme Noites Com Sol, dirigido pelos consagrados irmãos Paolo e Vittorio Taviani. Baseado no romance Padre Sérgio, uma das obras-primas do escritor russo Leon Tolstói, Noites Com Sol é um dos mais belos filmes dos Irmãos Taviani. A história se passa no século XVIII, sul da Itália. Um jovem barão é indicado como o novo auxiliar do rei Carlos III. Após uma decepção amorosa, decide se isolar numa modesta casa de campo e iniciar uma vida dedicada à espiritualidade, porém, sua busca existencial é ameaçada por uma sedutora mulher. Com uma soberba trilha sonora de Nicola Piovani, Noites Com Sol é um programa obrigatório para os admiradores da literatura e do bom cinema. Vejam o trailer!

Retratos do Domingo: a voz dos "explorados e oprimidos"...


Em 1970, Simone de Beauvoir, Jean-Paul Sartre e Jean-Luc Godard se reuniram para distribuir pelas ruas de Paris, cópias do jornal maoísta "La Cause du Peuple" depois de ser proibido pelo governo. O jornal foi criado por George Sand no ano de 1948, com o objetivo de dar voz a todos os "explorados e oprimidos", tendo como linha editoria a Esquerda Proletária.

Fonte: Images & Visions.

sábado, 28 de setembro de 2013

Retratos da vida: o olhar de Sergio Larrain na Sicília...


Pesquisando na internet, descobri esta bucólica foto que mostra o olhar doce de uma garotinha em um vilarejo da Sicília em 1959. A fotografia é de autoria do fotógrafo chileno Sergio Larrain (1931-2012), profissional reconhecido por seu trabalho na agencia Magnum no fim dos anos 60. Larrain é considerado o fotógrafo mais significativo da história do Chile.
FONTE: Images&Visions

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

A Religiosa. Cenas claras, porém sem apelação. O pecado, a frustração, o medo, a culpa, tudo num filme só...


Assisti no Museu Geológico da Bahia ao filme francês A Religiosa. Baseado em um livro homônimo de Denis Diderot, narra a história da jovem Suzane, que descobre que é fruto de uma relação extraconjugal da mãe e é mandada para o convento. Durante este período, convive com três madres superioras, cada uma tratando-a de maneira completamente diferente. A primeira é maternal e ameniza os seus sofrimentos. Lá é obrigada a fazer os votos. Com a morte da boa madre, Suzane outra chega ao convento e é aí que a jovem passa a sofrer maus-tratos nas mãos da nova madre superiora. Quando, finalmente, é transferida para uma nova abadia, sua nova superiora se apaixona por ela e a assedia. Como em outros filmes recentes sobre instituições religiosas – Em nome de Deus e Além das montanhas – a crença não liberta, pelo contrário, aprisiona. E, a religião, enquanto instituição parece ir contra exatamente aquilo que prega: generosidade, compreensão e amor ao próximo. Filmes como esses são capazes de levantar uma discussão pertinente. Confira o trailer!

terça-feira, 24 de setembro de 2013

A família. Bom; apenas isso...


Assisti hoje ao filme A Família. A película conta a história de um gângster e sua família que são levados à uma tranquila cidadezinha do norte da França sob o Programa de Proteção à Testemunhas, pois Fred (o mafioso pai), para se livrar de cana pesada resolveu  dedurar a máfia. Embora o agente Stansfield (Tommy Lee Jones) tenha feito das tripas coração para mantê-los na linha, Fred Blake (Robert De Niro), sua mulher Maggie (Michelle Pfeiffer) e seus filhos, Belle (Dianna Agron) e Warren (John D´Leo), não conseguem resistir aos velhos hábitos de resolver seus problemas à moda `da família´. O caos se instala quando seus antigos comparsas da máfia tentam encontrá-los e as coisas acabam da maneira mais improvável possível, nesta comédia subversiva de Luc Besson. Esse longa-metragem  acabou me conquistando talvez por causa do seu lado europeu. Penso que nem todo mundo embarque na aventura, talvez por ser bem violento e por nos apresentar um De Niro como um dos mais "poucos adoráveis" protagonistas em todos os tempos. Confira o trailer!
 

As Sandálias do Pescador. Um livro fantástico escrito por um grande autor que foi consagrado como "profeta"...


Li o maravilhoso livro “As Sandálias do Pescador”, de Morris West, publicado em 1963 no auge da Guerra Fria. Muita gente considera este trabalho do West profético, pois ele escreveu e publicou quinze anos antes do início do pontificado de João Paulo II, sacerdote vindo de um país comunista do leste da Europa. O livro descreve a história de Kiril Lakota, padre ucraniano que depois de vários anos preso em um campo de trabalhos forçados na Sibéria por conta da sua fé, é mandado de volta para Roma. Lá, ele é nomeado cardeal pelo próprio papa que o antecedeu, já na beira da morte. Só que a vida desse defensor da liberdade e da fé cristã tomou um rumo que ele jamais imaginaria. Depois que o Papa morreu, Kiril assumiu o trono de Pedro (O Pescador) quase que ao mesmo tempo em que o seu maior torturador na Sibéria, o Kamenev, assume o poder na URSS. Perigos de conflitos atômicos, debates entre ciência e religião, amor e pecado são constantes neste que foi considerado um dos maiores fenômenos da literatura na segunda metade do século XX. Segundo alguns especialistas, West era um dos escritores mais lidos pelo Papa João Paulo II. Uma das coisas mais incríveis, e é por isso que Morris é chamado de profeta, é o fato de que o Papa do livro possuía uma personalidade semelhante à de JP II; fora o fato de que ambos vieram do leste europeu, e foram escolhidos “jovens” para ocupar o posto de vigário de Cristo. Até o fato de ambos terem sido atletas e de terem, de certa forma, aberto as portas do Vaticano para o mundo, iniciando uma verdadeira jornada pelos continentes. Recomendo!

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Construção – Chico Buarque. Morreu na contramão atrapalhando o tráfego...


Foi com o disco Construção, em 1971, que Chico Buarque nos brindou com um novo estilo, deixando de compor músicas com modos mais latentes de bossa nova para passar a compor músicas mais reais, com críticas claras à ditadura.

A faixa-título do álbum é sem dúvida uma crítica muito clara sobre um homem que trabalhou até sua morte. Quem ouve Construção fica admirado com a capacidade de Chico de manter uma letra concisa trocando apenas os versos de lugares. Coisa de fenômeno. Obra de um gênio chamado Chico Buarque de Holanda!

 

terça-feira, 17 de setembro de 2013

A Coleção Invisível. Um filme superior e sensível, que emociona até o mais duro dos corações...


Assisti na UFBA ao filme Baseado no conto homônimo de Stefan Zweig, A Coleção Invisível. A chance de poder ver o desempenho do grande ator Walmor Chagas — que faleceu no início deste ano — já valeria muito a pena. Mas o filme vai além. Com delicadeza o espectador vai seguindo a evolução do personagem central, Beto, vivido por Vladimir Brichta.
Beto, depois de passar por um grande trauma, em que perde vários amigos em um acidente automobilístico estúpido, resolve ajudar a mãe, que passou a administrar o antiquário que era do marido. Beto fica sabendo que um colecionador comprou por intermédio de seu pai, em 1973, um lote de gravuras raras e valiosas do pintor Cícero Dias e resolve investigar o paradeiro das peças. Parte para o sul da Bahia, mais precisamente para Itajuípe, região da fazenda do colecionador, vivido por Walmor Chagas. Entre as peripécias para poder chegar à coleção, Beto faz um mergulho para dentro da sua própria história de vida. Triste e deprimido, deixa Salvador e vai para a região do cacau, que se abateu com a praga da vassoura de bruxa: o que se vê em Itajuípe é abandono e destruição. Mas as dificuldades não param por aí; Beto tem de enfrentar a agressividade tanto da mulher como da filha do velho colecionador, que fazem de tudo para evitar que o rapaz tenha acesso à coleção e ao seu dono.
Sem saber o porquê de tanto cuidado com a vida do patriarca— que está cego (assim como já estava o veterano ator) —, Beto consegue romper o cerco e o velho fica alegre em conhecer o filho de um grande amigo. Marca um almoço para o dia seguinte e, como o combinado, Beto não perde a hora. Este encontro familiar vai modificar profundamente o personagem assim como o rumo do filme.
História simples e muito bem contada, com interpretações sublimes de Walmor e Vladimir, que pôde mostrar sua veia dramática — o grande público o reconhece como um grande comediante, mas neste filme Brichta revela sua diversidade interpretativa. Confira o trailer!
 

domingo, 15 de setembro de 2013

Retratos do Domingo. Uma criança e sua metralhadora de brinquedo...

 
Este é um maravilhoso registro fotográfico feito pelo fotógrafo Juca Martins durante a greve dos metalúrgicos em São Bernardo do Campo, em 1980. Na imagem vemos um  garoto portando uma metralhadora de brinquedo no momento da movimentação da tropa de choque da PM. Juca Martins retratou as manifestações contra o regime militar, a luta pela anistia, a greve dos metalúrgicos e bancários, entre muitos outros acontecimentos relevantes no Brasil.
 
Fonte: Images & Visions.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Cuíca de Santo Amaro. Um longa-metragem sem reserva para um personagem libertário...


Assisti hoje à tarde na UFBA ao maravilhoso filme Cuíca de Santo Amaro e confesso que me diverti muito. Ri tanto que algumas pessoas até olharam para trás (rindo também). Um documentário excelente que busca recuperar a riquíssima história de José Gomes, o Cuíca de Santo Amaro. Cuíca viveu em Salvador e ficou famoso entre os anos 40 a 60 do século XX pelas poesias que fazia e os livretos que produzia. Escrevia, declamava, distribuía e vendia a varejo e atacado em várias partes do Centro de Salvador, principalmente na Baixa dos Sapateiros a sua poesia cruel, forte, contundente, panfletária e (principalmente) excitante dos usos e costumes, mazelas e glórias da Cidade da Bahia. Cuíca passeia entre o poético e o nefasto, da chacota a denúncia, do drama, daqueles mais burguesinhos ao épico mais engajado; por conta disso fala sobre adultérios, descoberta do petróleo em Salvador, Segunda Guerra Mundial, assim como a história da mulher de Brotas que capou o marido mulherengo, ou então do sujeito que tinha um pênis tão grande que conseguia carregar no bilau trinta quilos sem arriar. Isso sem nenhuma cerimônia, do mais alto ao mais baixo calão.
Talvez alguém possa compará-lo ao personagem de Mario de Andrade, Macunaíma; sem caráter, vendendo versos ainda não escritos para os poderosos, por causa de um ou outro escândalo que descobriu. Algumas vezes até foi pago para inventar histórias escandalosas de alcova. Não foram poucas as vezes que tomou uns tabefes e foi parar na delegacia.
Um trabalho indispensável para a construção da memória do povo da Bahia. Com belas e bucólicas imagens de Salvador na primeira metade do século XX, Cuíca de Santo Amaro é um filme maravilhoso. Confira o trailer!
 

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Lista de Espera conta de forma bem-humorada as pequenas tragédias do dia a dia da população cubana...


Juan Carlos é da geração de cineastas que voltou a colocar a ilha caribenha no cenário internacional com Morango e Chocolate, dirigido junto com Tomáz Gutierrez Alea, em 93. O filme foi indicado ao Oscar e teve 23 prêmios ao redor do mundo.

Na estação rodoviária de uma pequena cidade cubana, um drama está prestes a acontecer. Dezenas de passageiros aguardam ansiosamente a chegada do ônibus, com a esperança de que tenha lugares vazios para eles. A esperança se torna desolação quando o ônibus chega, mas tem uma pane em seguida. Aquilo que seria uma disputa por um lugar vazio, torna-se uma lição de solidariedade. Todos os passageiros tentam dar a sua colaboração para o conserto do veículo. Fernández (o administrador) protesta, e Cristóbal (o funcionário) ameaça, mas Emilio, Jacqueline, o Cego e outros continuam sem seu esforço a tecer uma estranha e terna história através da qual vão sentir-se pela primeira vez donos de sua própria vida.

Uma divertida metáfora à ilha de Cuba, Lista de Espera recebeu o prêmio de Melhor Ator Coadjuvante (Jorge Perugorría), no Festival de Cinema de Cartagena; Melhor Roteiro no Festival de Cinema de Havana; e Melhor Atriz (Tahimi Alvariño) no Festival de Málaga, Espanha.

domingo, 8 de setembro de 2013

La Frontera. Filme mostra o drama de um homem exilado em seu próprio país...


Um belíssimo filme este. Produzido em terras chilenas, porém muito próximo da nossa realidade. Narra uma história ocorrida durante os últimos anos do governo militar no Chile, quando o professor de matemática Ramiro é condenado a relegação, uma espécie de exílio em seu próprio país. Ele é levado para a região conhecida como La Frontera, uma fria e isolada extensão de terras que foram o limite entre os índios Mapuche e os conquistadores, uma zona cuja história está repleta de lendas e maremotos. Nesta parte inóspita do país, o jovem Ramiro descobre uma nova dimensão da vida, que o faz atravessar suas próprias fronteiras internas. Filme que indico com entusiasmo!

Confira o trailer!
 

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Aura e a força do reencontro com Carlos Fuentes...


Um livro que cabe na palma da mão, praticamente um conto.
Terceiro trabalho de Carlos Fuentes que leio. Gostei muito da história, comecei a ler numa noite em casa e terminei no outro dia. A narrativa é envolvente e ia virando uma página atrás da outra. Devorei o pequeno livrinho como se estivesse em transe, dominado pela magia de seu enredo. O reencontro com Fuentes foi de espanto e hesitação. Tudo nele foi um choque para mim. O livro narra a história de Felipe Montero, um professor de história de vinte e poucos anos que lê um anúncio mais ou menos assim no jornal: “Procura-se jovem historiador, organizado, cuidadoso, que saiba francês para executar funções de secretário. O pagamento é ótimo e ainda há cama e comida”. Quando ele lê o anúncio pela primeira vez, não se candidata, pois acha que alguém já foi contratado, mas na segunda vez em que vê o anúncio no mesmo jornal, dirige-se ao endereço indicado, um casarão velho e decadente, onde é recebido por uma senhora que, pelas suas contas, deve ter mais de cem anos. Sua tarefa consiste em ler e corrigir os diários de seu falecido esposo. Ele é conduzido ao seu quarto pela sobrinha da velha, Aura, uma jovem de olhos verdes pela qual logo se apaixona. Daí em diante, coisas estranhas começam a acontecer naquele lugar onde a noção de tempo e realidade perde-se em cômodos eternamente escuros e opressivos. Aura, esse anjo-demônio, pessoa-fantasma, criava uma perturbadora questão de identidade e de realidade que me fascinou. O relato escabroso de Fuentes me dominou por completo. O livro teve em mim, o efeito parecido, em alguns trechos de Marina, de Carlos Ruiz Zafón. Imediatamente me lembrei de ter tido a mesma sensação ao ler A Sombra do Vento, também de Zafón. Neste último, aquela garota cega e linda, Clara, encanta Daniel desde a primeira vez que lhe aparece “como um anjo esculpido em brumas”. Aura, Marina e Clara têm em comum o fato de viverem em casas sombrias, na qual fazem companhia a um familiar mais velho e possuem um poder de sedução extraordinário. São metáforas do amor inalcançável, embora tão próximas, ao alcance da mão. Aura é, das três, a mais etérea, surreal, fantasmagórica. Esse meu terceiro encontro com Carlos Fuentes, por intermédio de Aura, foi desses marcantes e inesquecíveis. Por isso escolhi falar dele, para celebrar a memória de Fuentes. Vale a pena ler.