segunda-feira, 24 de março de 2014

O Retrato da Mãe de Hitler é um livro soberbo; além do entretenimento, traça ricos detalhes da sociedade portuguesa do pós-guerra...



O Retrato da Mãe de Hitler de Domingos Amaral em Lisboa

Antes de qualquer coisa, gostaria de pedir sinceras desculpas aos leitores deste blog pelo tempo exageradamente longo que passei sem publicar uma única resenha. O aconteceu é que FELIZMENTE tive que ocupar todo o meu tempo com importantes tarefas paternais, já que Elisângela retornou da licença maternidade e as tarefas aqui em casa, principalmente no que concerne a Duda, precisam ser executadas pelos dois. É claro que isso não me deixou sem tempo por completo, principalmente durante a noite. Li alguma coisa, assisti a bons filmes e isso é o que importa. Hoje, por exemplo, estou aqui para comentar sobre um belo livro que li recentemente e do qual guardo saborosas impressões. Trata-se de “O Retrato da Mãe de Hitler”, do escritor português Domingos Amaral. Esta obra é a continuação do magnífico "Enquanto o Ditador Dormia", já comentado aqui no blog (clique no link) http://www.expressocultural-jeferson.blogspot.com.br/2010/09/mais-um-grande-trabalho-historico.html. Foi um prazer regressar, com O Retrato da Mãe de Hitler (uma edição Casa das Letras), a este mundo da espionagem, ainda para mais centrado em Lisboa, que geralmente fica fora do roteiro da literatura relativa a este período tão importante e cativante da história. É que se em termos bélicos a guerra não passou por Portugal, já em termos de informação, segredos e espionagem, Portugal, e principalmente Lisboa, foi palco de importantes movimentações.

Mas se em Enquanto o Ditador Dormia a ação decorria em plena guerra, este O Retrato da Mãe de Hitler passa-se no pós-guerra e baseia-se na questão dos tesouros nazistas que estes, os nazistas que escaparam, tentavam vender pelo caminho para financiar uma nova vida longe dos seus perseguidores, principalmente na América do Sul.
Em O Retrato da Mãe de Hitler, Domingos Amaral recorreu, basicamente, aos mesmos personagens de Enquanto o Ditador Dormia, aproveitando até para atar algumas pontas que tinham ficado “soltas”. Terá desta vez mais romance e menos espionagem, mas mantém as características de um genuíno page-turner, sem momentos mortos e com uma escrita clara cinematográfica, capaz de prender o leitor. (A cena final, num hidroavião clipper decolando do Tejo, em Lisboa, é o melhor exemplo da cinematografia deste livro).
O protagonismo é de novo entregue a Jack Gil que tem de lidar, desta vez, com mais um oponente terrível, o seu pai. Ao mesmo tempo tem de lidar com a sua antiga paixão, a arrebatadora, surpreendente e reaparecida Alice, sempre dúbia nos seus comportamentos e nas suas alianças e motivações. Enquanto se “entretém” com ela, com o pai e com as pretensões deste em apoderar-se de tesouros nazistas em trânsito por Portugal, Jack Gil tenta organizar a sua vida, unindo-se a Luisinha, irmã da sua falecida noiva e a quem aprende a amar, depois de uma vida de orgia que por vezes tem dificuldade em deixar para trás.

 Este romance apresenta uma série de pormenores curiosos sobre a sociedade portuguesa da época, retratando o modo de vida daquele país nos tempos de Salazar, onde as liberdades eram muito limitadas. Basta ver, por exemplo, como era a difícil relação com o cinema de Hollywood, aqui bem retratada por via da paixão da personagem Luisinha pela sétima arte. É, portanto, um bom retrato de uma época, numa profunda investigação por parte de Domingos Amaral, que soube passar para o papel, bem misturado com a animada ficção que criou, as informações recolhidas em arquivos e documentos.

 

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial