domingo, 14 de agosto de 2011

O Céu de Lisboa



Essa película me fascinou desde o primeiro minuto de exibição. Tive o prazer de assistir pela primeira vez em 2006, porém não me saiu da cabeça. Belo trabalho de um diretor que em muitos momentos de sua carreira teve o seu trabalho criticado pela tal "imprensa especializada", só que na minha opinião as críticas foram todas injustas feitas por pessoas sem um pingo de sensibilidade. O filme prossegue na mesma linha dos outros trabalhos de Wenders sobre a vulgarização das imagens, mas é um belo – embora propositadamente lento e sem qualquer ação, mas cheio de monólogos – manifesto de amor ao cinema no ano do seu centenário, à Europa unificada, à interligação entre culturas diferentes.
Manoel de Oliveira, o veteraníssimo diretor português, faz um monólogo sobre imagem e vida, e depois imita Carlitos numa ladeira de Lisboa. Um sósia de Fernando Pessoa aparece sem que o cineasta e seu atrapalhado mas competente engenheiro de som percebam. Há longas leituras de textos de Pessoa, e cenas inteiras dedicadas à beleza da música do Madredeus e de sua solista, Teresa Salgueiro. Wenders se apaixonou pelo Madredeus e o lançou para o mundo, esse conjunto extraordinário que canta nesta língua bárbara.
E essa arrebatadora conexão com a trilha sonora não é inovação na obra de quem pegou todos os mais importantes conjuntos de rock/pop para tentar entender qual será o som no final da década e do milênio em Até o Fim do Mundo. Portugal também não é novidade na sua obra, pois esteve presente em O Estado das Coisas e no próprio Até o Fim do Mundo.
O alemão que recusa o passado nazista do conceito de raça superior faz o elogio da cultura do país mais pobre da nova Europa. E termina com uma moral otimista: não interessa que a imagem tenha sido banalizada, é preciso procurar a bela imagem no meio de tanta asneira produzida pela indústria cultural.

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial