sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

DEPOIS DO ENSAIO





“Depois do Ensaio”. Dirigido por Ingmar Bergman, com Erland Josephson, Ingrid Thulin, e Lena Olin. Acho que já fazia tempo que um filme não exigia tanto de mim, em todos os sentidos. Antes de tudo, é necessária a devida atenção a um Bergman; cada diálogo, cada frase é importante. É estranho ter que dizer isso, mas é preciso, nestes tempos em que os filmes não passam de “chiclete visual” (definição do Nelson Motta para os videoclips) - e mental. Há muito mais coisa não dita, subentendida, do que propriamente dita, explícita no roteiro. Não há muito de cinema, tecnicamente falando - é quase como se estivéssemos vendo uma peça de teatro filmada. Somente os três atores, durante todo o filme. Francamente, isso não faz diferença - talvez seja até melhor assim. O bom cinema é, antes de tudo, roteiro.Josephson faz Henrik Vogler, um diretor de teatro prestes a estrear sua montagem de "O sonho", de Strindberg. Em um de seus costumeiros cochilos, após o ensaio, é interrompido pela jovem Rakel, Lena, espetacular em seus vinte e poucos anos, que o procura, inventando a desculpa de que esquecera um bracelete . A jovem atriz, insegura com a magnitude de seu papel e o que sente pelo diretor, pede a ele que a ajude com trechos da peça. A partir daí, é a impressionante avalanche de sentimentos, as explosões do inconsciente que tipificam os diálogos de Bergman, que culminam com o velho diretor relembrando vivamente, através da jovem atriz, o relacionamento adúltero que tivera anos antes com a mãe dela, também dirigida por ele, e já devidamente morta pelo álcool. Atuação é direção, alguém já deve ter dito; e Bergman sempre nos deixa estarrecido - não há nada como um bom diretor para extrair o que um ator tem de melhor. Duvido que Lena Olin tenha tido algum desempenho sequer comparável em outro trabalho seu no cinema - em especial na cena em que encena Strindberg em frente ao espelho, sob a orientação do diretor – e Ingrid Thulin consegue colocar todo o exagero, na medida exata, que seu papel pede. Liv Ullman, “musa” e protagonista de tantos outros filmes de Bergman, também só atuou bem sob sua batuta.

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