Retratos do Domingo - A última foto de John Lennon cinco horas antes de seu assassinato...
© Foto de Annie Leibovitz. John Lennon abraçado a Yoko Ono em Nova York, cinco horas antes de seu assassinato em 8 de dezembro de 1980.
Textos sobre literatura, música, cinema e filosofia - e sobre o que mais vier.
Minha indicação literária de hoje é o interessantíssimo livro
do jornalista César Tralli, Olhar Crônico.
Este trabalho, o primeiro do repórter da Rede Globo, traz um gostoso painel de
crônicas que têm como pano de fundo as mais diferentes paragens da Europa,
Leste Europeu e Oriente Médio. Da Ucrânia a Londres, de Paris ao Líbano somos levados
através das páginas para vários locais do planeta. Isso
se dá da melhor forma possível, através de uma linguagem simples e de fatos
vivenciados pelo autor. Por meio de seu aguçado olhar de repórter, Tralli nos presenteia
em sua estreia literária com histórias especiais e únicas que viveu nos anos em
que foi correspondente da Rede Globo de Televisão em Londres. Colocando de lado
a tão proclamada "objetividade" jornalística, Tralli deixa vir à tona
emoções e sentimentos que ficam à margem durante o intenso trabalho de
correspondente internacional da maior rede de televisão do país. Assim, o que
vemos ao longo das páginas desse saboroso livro são as lágrimas, o entusiasmo,
o medo e as amarguras da vida de um jovem que então com vinte e quatro anos
começou a se enveredar pelos encantos e vicissitudes do amplo mundo em que
vivemos. Vale a pena ler.
Hoje eu assisti junto da minha “afilhada”
Giovana ao belo filme de animação Ratatouille. Acho que o sentimento de
paternidade já chegou mais forte do que eu imaginava, por isso, Em determinados
momentos do filme, o sorriso de Gigi me fascinava. Perceber o quanto foi maravilhoso ter assistido um filme ao lado de uma criança me deixou comovido. O filme narra a história de Remy,
um ratinho do campo que sonha em se tornar um grande chef francês, mesmo contra
os desejos de sua família e do evidente problema de ser um rato em uma
profissão totalmente inapropriada para roedores. Quando o destino o leva aos
esgotos de Paris, Remy se vê na ocasião ideal, bem embaixo do famoso
restaurante de seu herói culinário, Auguste Gusteau. Apesar dos aparentes
perigos de ser um impróprio – e certamente indesejado – visitante na cozinha de
um fino restaurante francês, a paixão de Remy pela arte da gastronomia não
demora a colocar em marcha acelerada uma engraçadíssima e eletrizante corrida
de ratos que invade o mundo da culinária parisiense. Remy então se sente
dividido entre sua vocação e a obrigação de voltar para sempre à sua prévia
existência de rato. Ele aprende a verdade sobre amizade, família e entende que
sua única opção é a de aceitar quem ele é realmente: um rato que deseja ser
chef de cozinha. Uma bela animação com um roteiro inteligente, divertido e
emocionante. Com personagens carismáticos e uma grande história, esse é com
certeza mais uma grande obra prima da Disney.
Este sim é um livro que
não deve faltar na estante de ninguém; e deve ser lido pelo menos uma vez na
vida. Contado sob o ponto de vista do personagem principal, Humilhados e Ofendidos, de Fiódor
Dostoiévski, tem o caráter psicológico e ético das grandes concepções do autor,
e reconhecido como uma das contribuições mais vivas e densas para a literatura contemporânea.
Vânia (esse é o nome do cara), o protagonista, é um homem sensível, um escritor
que relata em tom cerimonial e, paradoxalmente, confessional e comovido os fatos
vividos por uma família pobre e sofrida de uma grande cidade. Em contraponto
está o príncipe Valkóvski, viúvo, aristocrata, que enricou através de artifícios,
obscuros e um egoísta no mais íntimo do seu ser. Se todos os seus pensamentos
verdadeiros pudessem aflorar, seria tão repugnante que "traria um grande
mau cheiro" - nas palavras do próprio Dostoiévski. Com certeza estamos
diante de um presságio daquela personalidade, daquele tipo que mais tarde se
denominaria "o homem de subsolo", reiteradamente presente na obra do
escritor, e que representa uma sinopse difícil do individualismo, da vaidade,
da indiferença ao sofrimento alheio e da maldade presentes na alma humana. A narrativa de Humilhados e
Ofendidos envolve o leitor definitivamente. A ligação da ação, a dramaticidade
dos acontecimentos e as personagens são um retrato contundente e expressivo dos
despossuídos em todo seu sofrimento e humilhação. Porém, a grandiosidade da
obra de Dostoiévski não está unicamente em retratar a condição de abandono e
submissão daqueles que estão distantes do poder e dos bens materiais. Sua
grandiosidade está em atribuir a essa representação um caráter moral, que
supera as circunstâncias e se torna permanente.
Só quem
leu Cem Anos de Solidão para saber o
que é sentir nostalgia da Macondo – cidade fictícia e extraordinária criada por
Gabriel García Márquez – quando escreveu a saga da família Buendía. Mas, pense
em alguém que retorna à terra natal e a encontra diferente, mostrando que nela
a vida continuou sem ele, e pense mais além, e se esse alguém pudesse voltar no
tempo e conhecer a cidade antes de ter passado por ela. Explicando essa viagem
toda: será que já existia Macondo antes de Cem Anos de Solidão? A
resposta clara, e que eu nem sequer desconfiava é sim; Macondo já foi tema do
primeiro livro de Gabo, A Revoada: O Enterro do Diabo. Só que neste
pré-adendo, o foco é em outra família, mais especificamente o intricado funeral
de um personagem que é odiado por toda a cidade. O livro revela que Gabo era
grande já no seu primeiro trabalho, utilizando bem algumas técnicas, como as da
mudança de narradores (um velho, uma viúva e um garoto) e repetição (num
interessante efeito de bailarina de corda). O livro foi publicado em 1955 e seu
título original é La Hojarasca que significa, literalmente, a folharada.
Recomendo com entusiasmo.
Ontem revi com muita emoção
este belo filme do Truffaut chamado Jules
e Jim – Uma mulher Para Dois, baseado no romance do septuagenário Henri-Pierre
Roché (apesar da idade este foi o seu primeiro romance). O próprio Truffaut
contaria mais tarde que descobriu meio que por acaso o livro do Roché em um
sebo, desses escondidinhos por trás de uma portinha discreta em pleno Quartier
Latin. Sentou-se um pouco, leu, gostou e vislumbrou ali um excelente roteiro
para um filme, se fosse bem trabalhado. Pronto; nascia então um dos grandes longas-metragens
da Nouvelle Vague de todos os tempos. A história se passa em Paris, no início
do século XX. O alemão Jules e o francês Jim são grandes amigos. Na
efervescente capital francesa, eles se apaixonam pela mesma mulher, a explosiva
Catherine (Jeanne Moreau, em atuação inesquecível). Logo, os três boêmios se
tornam um trio inseparável que busca aproveitar os prazeres da vida. Tem início
um libertário triângulo amoroso que se estende por décadas. Neste trabalho, Truffaut
faz seu "hino à vida", falando sobre o amor e a amizade. Pense no
furor que esta película causou nos conturbados anos 60, mais precisamente em
1962? Taí uma obra-prima para se ver e rever muitas vezes.
Trago uma excelente dica
literária para esta semana. Trata-se do livro O Dia em Que a Poesia Derrotou um Ditador. Sou suspeito para falar
deste escritor chileno chamado Antonio Skármeta, pois tenho tudo que ele
escreveu e o leio com uma voracidade descomunal; adoro escritores latinos.
Falam da nossa essência. E quando se trata do autor de obras como O carteiro e o Poeta e Não Foi Nada, tenho que ser mesmo
parcial. Com o livro O Dia em Que a
Poesia Derrotou um Ditador, Skármeta ganhou o Prêmio Ibero-americano de
Narrativa. O tom libertário, incorporado a uma escrita compassada e uma
linguagem simples, justifica a comenda. Afinal, no romance, o autor coloca em
ordem o drama e a esperança daqueles tempos obscuros para o povo chileno.