sábado, 31 de dezembro de 2011

Minhas Tardes com Margueritte









Duas situações um pouco desconcertantes me acertaram em cheio quando na quinta-feira, fui assistir esta bela película na sala de Cinema do Museu, aqui em Salvador. A primeira se trata do fato de as empresas responsáveis por editar e traduzir os filmes insistirem em dar cor branca e extrema luminosidade às legendas. Fica complicado ler em alguns momentos, comprometendo a compreensão do filme. A segunda situação é mais de âmbito pessoal. Ao ver Gérard Depardieu em cena me assustei profundamente. Nossa senhora, como este homem está gordo! Nem parece aquele galã do filme "1900" de Bertolucci, ou o esbelto administrador da trama "A Mulher do Lado", de Truffaut. Na verdade o que me deixa incomodado é o fato de que com mais alguns quilinhos estarei muito parecido com ele. Mas vamos deixar de conversa fiada e passar para a análise deste belo e tocante filme. Sabe aquele tipo de história que vai envolvendo o espectador aos poucos e quando a gente se dá conta, está totalmente entrelaçado, chegando às lágrimas de tanta emoção? É o que aconteceu comigo ao assistir esse filme francês “Minhas Tardes com Margueritte”, dirigido por Jean Becker e estrelado por Gérard Depardieu, que vive o cinquentão Germain, um homem aparentemente grosseiro e abrutalhado.
No entanto, a vida de Germain sempre foi recheada de intolerância e o que hoje conhecemos como bulling desde pequeno: como era gordinho e alto, ele era achincalhado constantemente no colégio, tanto pelos companheiros como pelo educador. E em casa era a mesma cena, pois a mãe (interpretada por Claire Maurier) nunca o aceitou por ter sido fruto de um relacionamento passageiro (o nosso bom grandão nunca conheceu o seu pai), e as brigas eram constantes. Por não reagir, ele se fechava e até à vida adulta sofre gozação dos amigos e é agredido pela mãe. Porém, a vida do vendedor Germain se transforma quando num belo dia ele decide comer seu lanche na praça e conhece Margueritte (Gisèle Casadesus), uma anciã de 95 anos que, para distrair-se do lar de idosos, onde mora lê seus livros no banco dessa pracinha. De forma polida, Margueritte pergunta se ele não quer ouvir a história que ela está lendo; ele aceita e surpreende a velhinha, com sua memória auditiva. A partir desse dia, pontualmente eles se encontram para a leitura e aos poucos ela o traz para o mundo das palavras (mais uma vez a literatura mudando vidas). É sua redenção! Germain reluta, mas seu interesse pelos livros é tanto que, ao saber que Margueritte sofre de problemas de visão e pode ficar cega, ele passa a ler as histórias para ela!
A modo como o diretor conta a história do rude Germain é que provoca o envolvimento do espectador. O vendedor de legumes não só vende as verduras como cultiva tudo em sua pequena propriedade. Sua relação com a namorada é de extraordinária amabilidade e, a partir de sua relação com Margueritte, entendemos como Germain é sensível, amoroso e fraterno. Ele que cuida da mãe, que continua mal-humorada até a morte. É ele que, nos momentos de dificuldade, conforta e dá amparo aos amigos.
O grandão na verdade é um homem gentil e solidário. Esse diamante quem lapidou foi Margueritte, com a palavra, com a literatura. A palavra trouxe aquele garoto acuado para a realidade, de um mundo obscuro e introspectivo para a luz e o amor. Como no final o diretor optou por colocar apenas a voz de Germain contando a história, fiquei com a impressão de que Germain é o autor do livro que lê para aquela, que passou a ser sua verdadeira mãe, Margueritte. Confesso a minha emoção. Emoção pelo simples, que faz o diferencial em nossa vida. Emoção pelas palavras e ensinamentos que surgem desta arte chamada cinema, e que fazem a vida mais colorida e com mais sentido. O sentido do deslumbramento. Quero continuar a me emocionar, ler grandes livros e passar deliciosas tardes com Margueritte.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

"As canções que Morricone fez pra mim"

Hoje pela manhã acordei cantarolando uma música muito bonita, porém não sabia dizer qual era a sua origem. Isso me intrigou um pouco. Depois de alguns minutos, como que de repente lembrei do filme "Malena", de Tornatore. Vi o filme (na verdeda revi domingo), e a bela canção ficou guardada no subconsciente. Que melodia extraordinária! Tão bonita que a emoção é espontânea. Cada vez que ouço as canções compostas por Enio Morricone, chego a pensar pretenciosamente que foram feitas sob medida para mim. Vão ao encontro do meus sentimentos, da minha saudade. Ouça a trilha sonora de "Malena", e vê se não tenho razão.

domingo, 25 de dezembro de 2011

Chaplin para sempre



Há exatos 34 anos, o mundo perdia um dos seus maiores gênios. Desde os promórdios do cinema, lá pelo final do século XIX, ainda não se teve notícia de um homem que usou essa forma de cultura de maneira tão inteligente, tão humanista quanto Charles Spencer Chaplin. Gênio, fenômeno, fora de série. Creio que nem ele mesmo um dia pensou que um pobre garoto do suburbio de Londres viria a se tornar uma lenda do cinema mundial. Seus trabalhos influenciaram diversas gerações, e ainda hoje continuam a influenciar outras tantas. Seu principal personagem, o vagabundo Carlitos, conquistou o coração de todo o mundo por sua humildade, seu lado humanista, sua preocupação em sempre ajudar seus amigos e sua luta com a sociedade que o desprezava. Não devo me esquecer de outros tantos personagens como Henry Verdoux, Calvero, o barbeiro judeu e muitos outros. A morte de Chaplin não foi o fim, e sim o começo da imortalidade de um gênio; afinal artistas não morrem, pois suas obra os tornam imortais. Chaplin eternamente!

sábado, 24 de dezembro de 2011

Um olhar tocante em um filme sobre a Primeira Guerra que possui um foco diferente do padrão.



O estudo cinematográfico pertinente às duas grandes guerras do século passado gira, normalmente, dentro de um molde. Na imensa maioria dos títulos, mostram-se homens de um dos lados da batalha sofrendo os efeitos – físicos e psicológicos – derivados do cenário de barbárie. Feliz Natal, produção indicada ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2006, investe em um enfoque diferente, aproveitando-se de uma fantástica história real sucedida nas trincheiras, no Natal de 1914. Na França durante a Primeira Guerra Mundial, franceses e escoceses tentavam evitar o avanço do exército alemão. Em meio à batalha, os soldados dos três exércitos encontraram momentos para celebrar o Natal. No lado escocês, um padre chamado Palmer principiou uma cantoria de músicas típicas com seus homens. A resposta alemã foi à altura, com o tenor – agora soldado – Sprink cantando músicas natalinas. Em pouco tempo, os dirigentes dos três exércitos concordaram com um cessar-fogo para a noite de Natal, originando a confraternização entre os soldados. Feliz Natal é uma película edificante sobre o melhor lado da natureza humana. É formidável e, a certo ponto, reconfortante saber que os fatos descritos no filme ocorreram em não apenas uma, mas em diversos locais dos campos de batalha naquela noite. É encantador acompanhar essa expressão única de altruísmo. Neste sentido, o diretor do filme acerta ao não interferir demais ou tornar as cenas forçosamente dramáticas, deixando a força da história falar por si. Cenas como a da missa, na qual homens que deviam estar tirando as vidas uns dos outros se sentam lado a lado para ouvir uma canção, não necessitam de artifícios dramáticos para emocionar. O espectador sente-se atingido emocionalmente pela simples compreensão de que aquilo realmente aconteceu, de que tais instantes de generosidade foram encontrados em meio à brutalidade. Os soldados veem-se em dilemas nos quais não haviam entrado até então. Como continuar a guerra após descobrir que o inimigo é idêntico do ponto de vista humano? Como avançar assassinando quando se tem a noção de que não existem monstros do outro lado, mas seres humanos com aspirações e quimeras? E, talvez até mais importante, com o mesmo medo da guerra e igual saudade de casa? São estes pontos que levam o comandante francês responder a um superior quando é confrontado sobre a maneira de agir da sua tropa: “Morrer amanhã é ainda mais absurdo que ontem”.
Escrito e dirigido pelo francês Christian Carion, Feliz Natal é uma obra universal, capaz de atingir a todos por sua mensagem de esperança e solidariedade.
Bem dirigido e interpretado, o filme recompensa ser visto por sua mensagem de alento e esperança. Mesmo nos momentos mais difíceis, basta um pouco de boa vontade para que o ser humano consiga encontrar seu lado bom. Como fizeram estes homens naquela fria noite de Natal.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Eternamente "Amarcord"





Como estou de férias da faculdade, me sobrou muito tempo para fazer o que eu mais gosto nas folgas que é assistir a bons filmes. Ontem à noite resolvi rever (tenho feito isto há semanas), um filme que vi há dois anos. “Amarcord” (no dialeto da cidade do diretor do filme, “Amarcord” significa, eu me lembro), produzido e dirigido por Federico Fellini em 1973. Este é um filme tão primoroso, tão comovente, tão formidável, que de algum modo, ajudou a mudar a vida de muitas pessoas, que viam o cinema como algo afastado, inalcançável, escrito com aquelas letras brancas e gigantescas de Hollyood, e que agora podiam vê-lo como um simples desfilar de lembranças de um italiano tão biruta quanto genial. Para mim foi um achado mesmo que tardio. Não tive o prazer de assistir a essa bela película em uma sala de cinema, pois a minha geração, que é a geração do multiplex nos shoppings, não experimentou estas grandes sensações, ao contrário; tivemos a tristeza de ver grandes salas de cinema ser fechadas por falta de plateia. Então, assisti a "Amarcord" na sala da minha casa, antes mesmo de ter assistido a "A doce vida", "Oito e meio", "Noites de Cabíria", "Julieta dos espíritos" e aos demais filmes de Fellini, que só vim a assisti anos depois. E pior: se me perguntassem, há uns quinze anos atrás, o que era neorrealismo italiano, eu não teria a menor idéia. Rosselini? Visconti? Vittorio de Sica? Alberto Lattuada? Quem eram esses caras? Dá pra garantir que, "Amarcord", funcionou como uma centelha repentina, como uma luz viva, que me obrigou a contrair as pupilas e enxergar o cinema com outro olhar. Mas o que "Amarcord" tem de tão fantástico? Primeiro é preciso dizer o que não tem. Porque, apesar de naquela época (lá pelos anos 1997), ser um adolescente um pouco “distraído das ideias”, já tinha intimidade com a narrativa cinematográfica, já sabia, por exemplo, que um bom filme tinha que ter artistas talentosos que caíssem na simpatia do público, quase sempre formosos, muitas vezes deuses e deusas que desciam do paraíso apenas para filmar nos estúdios; uma história com começo, meio e fim, capaz de emocionar ao espectador segundo uma progressão cuidadosamente planejada; personagens fortes, divididos entre "mocinhos" (para quem torcíamos) e "bandidos" (a quem odiávamos). "Amarcord" não tem atores distintos. Mais do que isso: tem vários não atores, gente comum, escolhida na rua pelo seu tipo físico. "Amarcord" não tem história com princípio, meio e fim: além de fragmentada, a narrativa nem sempre é realista, pois está baseada em lembranças esparsas, imaginações, sonhos do seu diretor. "Amarcord" não tem mocinhos nem bandidos. O personagem principal, um adolescente chamado Titta, não está envolvido em nenhuma guerra espetacular, a não ser que consideremos sua incursão entre os seios enormes da balconista do armazém uma guerra espetacular. "Amarcord" não segue o padrão do cinema americano. Segue o padrão de Fellini. Em contrapartida, "Amarcord" tem uma coleção completa de signos cinematográficos da mais alta qualidade. Tem um roteiro que "amarra" a trajetória de Titta com total segurança, criando nexos entre as cenas e dando a cada novo personagem (e são muitos) uma significação única e sempre forte. A mulher mais gostosa da cidade ("La Gradisca"), o vendedor ambulante, o acordeonista cego, a imensa charuteira, a freira anã, todos eles, mesmo com pouco tempo na tela, estão vivos, palpitantes, verdadeiros. Os roteiristas Tonino Guerra e Fellini sabiam que simplesmente "listar" lembranças não seria satisfatório: era preciso criar uma correlação lógica, em que a passagem do transatlântico funciona como um ápice, um orgasmo coletivo dos habitantes do pequeno povoado costeiro. "Amarcord" também tem uma das mais belas trilhas da história do cinema. Não estou falando de uma música, de um momento específico do filme. Estou falando da trilha original inteira, criada por Nino Rota. Todas as músicas, além de apoiarem a imagem com total eficiência, funcionam independentes do filme. E isso é muito raro, quase inexistente. "Amarcord" também tem fotografia inspirada, montagem sensível, direção de arte irrepreensível. "Amarcord" é, à primeira vista, um filme simples, quase bucólico, mas, na verdade, é um concerto, em que cada um dos instrumentos cumpre com humildade seu papel. É a soma de todos esses tons que fornece a essência quimérica do produto final. Finalmente, não dá pra esquecer que "Amarcord", ao mesmo tempo em que é um filme intimista, sobre um garoto que descobre a si mesmo, também é um filme político, sobre o fascismo na Itália, sobre a alienação de um povo, sobre a preguiça latina, sobre a acomodação dos seres humanos a normas imbecis, estabelecidas por homens igualmente imbecis, porém muito influentes capazes de criar os eficientes signos fascistas e gerar líderes déspotas, monstruosos e nefastos como Mussolini. "Amarcord" não será esquecido jamais, nunca sairá de moda, nunca parecerá velho. Eu me lembro de "Amarcord". Eu me lembro daquela sessão que improvisei na sala da minha casa. Eu lembro que os seres humanos são capazes de criar emoção com uma tela branca e um projetor. E gerar artistas capazes de influenciar gerações por vários séculos como Fellini.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

A qualidade da literatura de Simenon - Um Crime na Holanda



Simenon sem sombra de dúvidas é um dos melhores autores do gênero policial no mundo. De todos os seus trabalhos a série protagonizada pelo comissário Maigret é a mais popular. Tive o prazer de ler o livro "Um Crime na Holanda". Nesse romance, Maigret chega à típica e respeitável vila de Delfzjil, na Holanda, para averiguar a morte do professor Conrad Popinga. De imediato, lhe é apresentada uma planta da casa da vítima, bem como duas pistas: um gorro de marinheiro numa banheira e a ponta de um charuto no carpete da sala de jantar. Os implicados: uma jovem atiradiça, filha de um agricultor; uma advogada raivosa; um decorador gatuno; um cadete assustado; e um criminologista presunçoso na posse de uma arma. Por seu lado, Maigret está preocupado com um trilho suspeito iluminado por um farol, que o faz pensar se este não será o gênero de lugar onde os amantes secretos poderão ser surpreendidos… Em O Crime na Holanda, Simenon narra a história de pessoas, com os seus apetites, que estão encerradas, até não aguentarem mais, no colete-de-forças da respeitabilidade de uma pequena vila.

Quelqu'un M'a Dit

Trago para vocês a bela canção interpretada por Carla Bruni, Quelqu'un M'a Dit. A primeira dama francesa tem mais talento do que muitos imaginam. Não se limita apenas em dar aquele sorriso amarelo quando está ao lado do marido em algum compromisso público. Vale a pena comferir esta canção (com legenda). Fantástica!!!

Revendo grandes cenas

Acabei de assistir pela... Deixa para lá, pois até eu já perdi a conta de vezes que vi o belo filme "Casablanca". Num dos momentos mais sublimes da sétima arte, numa de suas mais belas manifestações (Casablanca, de 1942), enquanto soldados nazistas começam a entoar um hino patriótico alemão, um dos líderes da resistência tcheca, presente no café do Ricks, enfurecidamente corre aos músicos e pede que toquem a Marselhesa.Por não mais que alguns segundos, aquilo que poderia ser uma voz solitária se converte em um fervor coletivo, num assalto passional que leva todos os exilados, expatriados e amantes sedentos da liberdade a seguirem em estrondoso coro, que majestosamente emudece a horda hitleriana. Já fiz comentários sobre esta película em outra ocasião, e faço novamente, desta vez apresentando um vídeo com a cena que narrei.

domingo, 18 de dezembro de 2011

Vale a pena ver de novo - "O Pasror das Almas"





Ontem resolvi fazer uma seção nostalgia, começando pelo maravilhoso filme "O pastor das almas", de Charles Chaplin. Foram tantos risos que deu até pra chorar. História simples e bem contada, sobre as aventuras do Carlitos. Desta vez ele é um fugitivo da prisão, que para se disfarçar, veste trajes de um pastor protestante e evade em um trem. A aflição começou a tomar conta do pobre vagabundo, pois achava que os passageiros estivessem desconfiando dele. Isso fez com que ele desembarcasse na próxima estação. Por coincidência, na cidade onde ele desceu, a comunidade protestante está esperando o novo pastor chegar, e quando o veem vestido com trajes de reverendo fazem a maior festa com sua presença, achando que se trata do novo líder religioso. Todos, muito felizes com a aparência do novo pastor, levam-no a igreja para que ele possa fazer o seu primeiro sermão. Como Carlitos não conhece muito da bíblia acaba interpretando teatralmente a história de Davi e Golias. O pastor vagabundo é levado para uma festa, onde há um garoto “endiabrado”. Durante os seus périplos pela cidadezinha, acabou sendo reconhecido por um antigo colega de cela, que invade a casa onda acontecia a festa dos crentes e decide roubar a casa. O vagabundo então decide tirar o seu “colega” ladrão da festa de qualquer maneira, porém o xerife desconfia e o prende. Edna, uma jovem que se sente encantada com a simpatia do “pastor”, o defende, e o xerife acaba convencido de que ele é mesmo inocente. Decide facilitar sua fuga pela fronteira do México, mas o pastor não entende. A cena em que o xerife praticamente obriga Carlitos a fugir tornou-se um marco na história do cinema. Ele simplesmente não entende a ideia, que é a que ele escape, e fica retornando. Acaba com o xerife perdendo a paciência e jogando-o para o outro país. O problema é que surgem bandidos no lado do México e o final é simplesmente fantástico: o vagabundo correndo entre um país e outro. “O Pastor de Almas”, foi uma das maiores obras de Chaplin, porém não foi muito bem recebido pelo público que não estava ainda preparado para as sátiras envolvendo a igreja protestante, que sempre teve maioria da população estadunidense e o governo. Em alguns Estados do país o filme chegou a ser proibido. Este filme marcou também o final da dupla Chaplin-Edna Purviance.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

O Burgomestre de Furnes



Georges Simenon vendeu aproximadamente 500 milhões de livros. Trata-se de um extraordinário caso de sucesso popular e de crítica. Durante toda a sua vida, os leitores e editores pediram-lhe um grande conto através do qual o autor pudesse ser apresentado. A resposta era sempre a mesma: Minha grande obra é o mosaico formado por meus pequenos romances. Grosso modo, podemos dividir sua obra em duas partes: os romances policiais com ou sem o célebre detetive Maigret e os duros romances psicológicos que lhe valeram o apelido “Balzac de Liége”, recebido de ninguém menos que André Gide. A popularidade destes livros não deixa de impressionar, pois são escritos em tom menor, são nada solares, sendo antes cheios de personagens deprimentes e deprimidos. Com suas ações quase sempre em cidades pequenas, Simenon envolve-nos numa triste realidade provinciana, onde o mal comanda.

Acabo de ler O Burgomestre de Furnes, um formidável estudo sobre o embrutecimento, o ódio e a mesquinhez. Joris Terlink é o burgomestre uma espécie de prefeito), que governa a população, a economia e os conselheiros da pequena cidade. Todos o temem e ele é consultado para tudo. Sua vida pessoal está ligada a diversas tragédias recentes e antigas: uma filha doente mental que é mantida presa em seu quarto sob o pretexto de que não haveria um lugar melhor para ela, o câncer da mulher, os vários filhos fora do casamento – o quais ele nunca quis assumir – e a própria gestão da cidadezinha de Furnes, cuja falta de solidariedade produz um suicídio no início da história. Há algo menos sedutor? Terlink é um monstro absoluto, rodeado de idiotas que têm dificuldade de viver sem ele, mas a segurança com que Simenon leva sua narrativa não é menos monstruosa e sem compaixão. Depois de ter lido todos os romances psicológicos deste grande escritor belga, posso admitir que Simenon está entre os grandes autores de todos os tempos.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Finalmente; Meia Noite em Paris







Sensacional, fantástico, fenomenal. É por filmes como este que tenho certeza de ter me apaixonado pelo cinema. Woody Allen conseguiu colocar em pouco mais de duas horas de filme tudo o que eu consigo sentir sobre a bela Paris. Por diversas vezes durante o filme, estive na pele do Gil (o personagem principal). O filme conta a história dos noivos Gil (Owen Wilson) e Inez (Rachel McAdams) que decidem passar as férias na cidade luz. Mesmo díspares um do outro, eles mantém uma relação visivelmente estável. Ele é um roteirista de filmes hollywoodianos que agora tenta escrever seu primeiro romance com o intento de dar um novo rumo à carreira, além de ser completamente deslumbrado pela Paris dos anos 20. Ela, uma mulher individualista e que pouco liga para as aspirações do noivo, só quer saber de seus próprios prazeres e de aprender um pouco mais com Paul (Michael Sheen), um velho amigo. Certa noite, ao fugir de mais um encontro besta com Paul, Gil resolve caminhar pelas ruas de Paris e acaba aceitando uma “carona” que o conduz magicamente no tempo, fazendo com que ele tenha a chance de conhecer e tornar-se amigo de seus artistas prediletos do passado.
F. Scott Fitzgerald (Tom Hiddleston), Ernest Hemingway (Corey Stoll), Gertrude Stein (Kathy Bates), T.S. Eliot (David Lowe) e até mesmo Pablo Picasso (Marcial Di Fonzo Bo), Luis Buñuel (Adrien de Van) e Salvador Dalí (Adrien Brody) são astros com quem ele tem a oportunidade de trocar algumas opiniões. A película vai se revezando entre o arrebatamento de Gil pelas estrelas do passado, por sua decepção com a falta de apoio de Inez em relação a seu livro e pela descoberta de novos amores. Primeiro filme do diretor rodado na França percebe-se a sua vontade de exibir o encanto de Paris. As imagens seguidas de cartão postal que iniciam o filme funcionam como uma maneira de apresentar a cidade ao espectador, mostrando que o cenário não é mais a corriqueira Nova York, nem mesmo Londres, lugar que tem despertado a atenção de Allen recentemente. Aqui, Paris aparece como fonte de inspiração justamente pelos seus cafés, pelas suas encantadoras ruas e principalmente pelo seu passado.
Como na maioria de seus filmes, Woody Allen constrói o protagonista baseado em si mesmo. Gil é inseguro, reservado, usa a camisa pra dentro da calça e anda sempre com as mãos no bolso, exatamente como o diretor. O próprio personagem do livro de Gil é igual ao personagem de Allen. Ambos são apegados ao passado e utilizam artifícios para não se desvencilhar dele.
A direção de Woody Allen surpreendeu, já que a expectativa era baixa após o fraquíssimo “Você vai conhecer o homem de seus sonhos” do ano passado. O tom fantasioso já visto em “A Rosa Púrpura do Cairo”, por exemplo, retorna neste seu trabalho. Assim como na produção de 1985, o diretor não se preocupa em explicar como o protagonista se desloca no tempo, mostrando que o que importa mesmo é a jornada do personagem e não os artifícios que existem por trás dela. “Meia noite em Paris” é uma declaração de amor. Uma declaração de amor à cidade, às artes e às noites chuvosas. Mas, disfarçado no charme de Paris, o filme, na verdade, quer nos mostrar que viver em função do passado só causa frustração. O passado serve apenas como base para a construção do que somos hoje. Porém, a verdade é que ninguém nunca está plenamente satisfeito com seu próprio presente.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011



Chegou às livrarias brasileiras o romance inédito do escritor português José Saramago. Ontem tive o prazer de terminar de ler esta maravilhosa obra de arte. Trata-se do livro Claraboia, uma publicação póstuma e talvez uma das últimas novidade do autor no mundo literário. Claraboia foi escrito no início dos anos 50. A editora na qual o autor enviou os originais nunca respondeu ou mesmo devolveu o texto. Na época, Saramago não era um escritor consagrado e "imortal", como é hoje. Possuia apenas um único romance publicado, então nada pôde fazer.
Na década de 80 os mesmos editores procuraram o autor já com bastante prestígio internacional. Tinham encontrado o romance até então perdido e interessaram-se em publicar o livro. A mágoa pela falta de resposta na juventude levou o escritor português a declarar que não desejaria ver o romance editado em vida, deixando para seus herdeiros a decisão sobre o que fazer com o livro. Após a morte de Saramago e a constatação da qualidade literária do romance, decidiram em consenso com os familiares trazê-lo a público. Claraboia é um romance que conta as experiências de moradores de um prédio em uma rua não muito nobre de Lisboa, Portugal. A história se passa no ano de 1952. Dramas diários vividos por residentes como Lídia, uma belíssima mulher sustentada por um homem misterioso, e Abel, um jovem que procura um sentido para a sua vida, se objeta ao duro dia-a-dia dos outros moradores. Não perca tempo e vá correndo conhecer esse novo “velho” trabalho de José Saramago.





terça-feira, 6 de dezembro de 2011

"Salvador onde você anda?"

Hoje num buzu lotado em pleno rush (engarrafamento "normal" pelas bandas do bairro da paralela lá pelas 17 hrs) fui brindado com a apresentação de Felipe Mago, que mencionou muito tambem o Zé da Mala, declamando uma poesia em homenagem a nossa Salvador. E eu e mais toda a galera do carrão aplaudimos calorosamente essa grande figura (e ajudamos também, claro). Quero aproveitar mais esse canal pra agradecer muito pela injeção de cultura nesse povo carente de saber!

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Noites Brancas - o ponto alto do cinema de Luchino Visconti





Neste fim de semana, resolvi ir mais a fundo na obra do grande diretor de cinema italiano Luchino Visconti. Até então só conhecia as obras da sua fase neo realista, mais o filme Rocco e Seus Irmãos. O Marcos da Vintage me apresentou a este grande filme e agradeço muito pois é fantástico. O filme narra a história de Mario, um homem tímido e recém-chegado à Veneza, para onde foi transferido, encontra uma jovem a chorar numa pequena ponte. Ela chama-se Natalia, é de origem eslava e vive com a avó, uma senhora quase cega. Tentando ajudá-la, procura saber o que está se passando com ela. Embora não queira se abrir com um estranho, Natalia concorda que ele a acompanhe até sua casa, onde promete voltar a vê-lo na noite seguinte. Mal ele se afasta, ela volta sozinha à ponte onde se encontrava. No novo encontro com Mario, conforme combinado, ela lhe conta que, para ajudar nas despesas da família, sua avó costumava alugar um dos quartos de sua casa. Um ano atrás, ao ver um belo homem ser aceito como o novo inquilino de sua avó, ela se sentiu fortemente atraída por ele. Certo dia, ele convidou a família para acompanhá-lo ao teatro, a fim de assistirem a uma apresentação da ópera "O Barbeiro de Sevilha", ocasião em que a atração que sentia por ele transformou-se numa forte paixão. Na manhã seguinte, através de sua avó, soube que ele desistira da locação do quarto e que estaria indo embora. Desesperada, ela o procurou para confessar-lhe seu amor por ele. Na ocasião, ele lhe disse que não tinha condições de esposá-la por ter grandes problemas a resolver, mas que voltaria para se encontrar com ela, exatamente um ano depois , na ponte onde os dois se conheceram. Mario estranha que ela não saiba nenhum detalhe da vida do tal inquilino, para onde o mesmo viajou e, principalmente, o fato dele não ter dado qualquer notícia ao longo de tanto tempo. No dia seguinte, ela comenta que o tão esperado homem voltou à cidade, mas não a procurou. Mario sugere que ela lhe mande um bilhete, marcando um encontro, a fim de decidirem sobre sua situação. A pedido dela, ele aceita ser o portador do tal bilhete. Entretanto, de posse do mesmo, decide rasgá-lo. Sem qualquer remorso, pela decisão tomada, Mario resolve divertir-se. Na rua, encontra-se com Natalia. Os dois vão a um restaurante onde dançam alegremente e ele declara o amor que sente por ela. Esta sai correndo, mas é alcançada por ele, ocasião em que lhe diz que, enquanto os dois continuarem a se encontrar, o inquilino não se aproximará dela. Em um novo encontro com Natalia, Mario confessa-lhe que não entregou o bilhete ao desconhecido, por amá-la. Ela mostra-se contente por ele não o ter entregue, evitando que ela viesse a sofrer algum tipo de constrangimento. Os dois continuam a sair juntos até que, depois de algum tempo, ela confessa-lhe que o ama. Felizes, passam a fazer planos para o futuro. Certa noite, entretanto, quando caminham juntos pelas ruas da cidade, Natalia avista de longe um homem parado na ponte onde se conheceram. Ela larga tudo e corre ao encontro dele. Minutos depois, volta até Mario, a quem diz que lhe enganou e a si própria, ao acreditar por um momento que os dois poderiam ser felizes. Pedindo-lhe perdão e afirmando-lhe que lhe será infinitamente grata, ela se despede e volta para os braços do antigo inquilino. Baseado num pequeno conto do famoso escritor russo, Fiódor Mikhailovich Dostoiévski, "Noites Brancas" é mais um ótimo filme do cineasta italiano, Luchino Visconti. No inteligente e bem estruturado roteiro, Visconti transporta para a cidade de Veneza, o desenvolvimento da trama. A história original deu-se no século XIX na cidade russa de São Petersburgo, apelidada como a "Veneza do Norte"."Noites Claras" constitui o período do ano em que as noites em São Petersburgo são muito curtas. Por outro lado, durante o último encontro entre os dois principais personagens, a neve começa a cair e a deixar todas as ruas cobertas de branco.Inteiramente rodado num Estúdio, o filme tem no brilhante trabalho de câmera um de seus pontos altos. A música vai do clássico ao rock dos anos 50, passando pela brasileira "Mulher Rendeira", de Zé do Norte.O filme apresenta ótimos pequenos momentos, como as seqüências de dança, em que o tímido personagem vivido por Mastroianni transforma-se completamente, ou aquelas que correspondem aos cinco minutos finais.No elenco, três grandes atores: o italiano Marcello Mastroianni, a austríaca Maria Schell, irmã do ator Maximilian Schell, e o francês Jean Marais, este último com uma pequena participação.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Uma bela canção por quem nunca teve voz alguma

Faz uma semana que vi na televisão a gravação da canção "Carinho de Verdade", interpretada por grandes nomes da nossa música. Eles se uniram para gravar a música-tema da campanha, num gesto de solidariedadeàs vítimas (crianças), de exploração sexual e de protesto pelo silêncio de tantos diante de uma das piores formas de violação de direitos. Assista oclipe abaixo ou acesse: carinhodeverdade.org.br


sábado, 3 de dezembro de 2011

E Deus criou a mulher...