Nota de Rodapé. A história de uma competição acadêmica alucinada, uma dicotomia entre o arrebatamento e a cobiça por uma pessoa e a intricada relação entre pai e filho...
Textos sobre literatura, música, cinema e filosofia - e sobre o que mais vier.

A indicação literária de hoje é o romance
histórico do escritor baiano Aydano Roriz intitulado O Fundador. Li esta
maravilha já faz alguns anos; indicação do apresentador Mário Kertész em um dos
seus programas diários e inclusive neste dia ele entrevistou o autor. Nesta
obra Roriz narra de forma leve e romanceada As venturas e desventuras de Tomé
de Sousa, Caramuru e Garcia d'Ávila para fundar, na Bahia, a primeira capital
do Brasil. Os originais do livro foram finalizados em 1999, e renderam várias
edições no Brasil e em Portugal. Após 12 anos e muita pesquisa de campo, uma
nova edição totalmente revisada, ou até reescrita, é lançada para contar com
ainda mais precisão esta fascinante história, que, apesar de sua extrema
importância, ainda é pouco conhecida pela maioria das pessoas.
Já faz algum tempo que não indico nenhum trabalho
do gênio Simenon, principalmente as obras protagonizadas pelo magistral Jules Maigret.
Mas hoje o nosso bom comissário parisiense chega em grande estilo
protagonizando mais uma de suas grandes histórias; trata-se do livro Maigret Hesita. Nesta obra, Maigret
começa recebendo uma carta anônima lhe avisando que um crime será cometido.
Quando ele investiga a família do advogado Parendon, nada parece estar fora de
ordem, exceto pelo fato de o casal não se dar muito bem. Três dias depois,
Maigret se repreende por não ter sido capaz de prevenir um assassinato. É claro
que eu não contarei o final para vocês, só direi que uma das coisas que mais me
fascinou nesta obra é o fato de evocar Paris durante a primavera, talvez uma
das estações em que a cidade fica ainda mais bela, mais encantadora e as
pessoas sejam mais felizes além de descrever a história de um amor infeliz.
Fica a dica.
Acho
que vocês gostarão de ler este pequeno livro. Ele contém uma história
emocionante e inspiradora. E mais; é verídica, tudo aconteceu mesmo e vem
narrando sobre os quatro séculos de aventuras e heroísmo que começam por volta
de 1170, com Pedro Valdo, um homem rico, que se converte ao cristianismo,
distribui toda a sua riqueza aos pobres e passa a pregar um modo simples e
honesto de viver. Os Valdenses, como foram chamados os seus seguidores,
formaram o grupo mais conhecido entre os vários outros que surgiram no século
XII, resistindo à crescente degradação da igreja dominante na época. Na verdade
o que eles desejavam era manter a fidelidade aos ensinos da bíblia; adorar e
prestar culto a Deus conforme os ditames das suas consciências. Mas, por volta
de 1230, passaram a sofrer grande perseguição. A partir daí, os Valdenses não
tiveram mais sossego: quando não estavam sendo perseguidos, estavam se preparando
para enfrentar a próxima batalha.
Ontem no final da noite assisti ao filme Trapaceiros, de Woody Allen. Na
película, Allen interpreta o ex-presidiário e atual lavador de pratos Ray, que
tem um grande plano: alugar uma loja ao lado do banco e utilizá-la como fachada
para construir um túnel subterrâneo para assaltá-lo. Para tanto Ray logo
consegue a ajuda de seus companheiros Danny e Tommy, que aceitam dividir os
gastos com o aluguel da loja, mas enfrenta a resistência de Frenchy, sua
esposa, que se recusa a ajudá-lo em mais um plano. Após muita insistência
Frenchy é convencida e passa a cuidar do funcionamento normal da loja,
preparando biscoitos e os vendendo ao público enquanto Ray, Tommy, Danny e
ainda Benny, um antigo companheiro de Ray que coincidentemente alugara a loja
pouco antes do trio, se dedicam à construção do túnel. Entretanto, as vendas
dos biscoitos vão de vento em popa, atraindo a atenção do público e da mídia ao
mais novo fenômeno da culinária nova-iorquina, transformando o casal Ray e
Frenchy em novos ricos pra lá de cafonas, toda a alta sociedade olha para o casal com
desdém. Frenchy começa a
ter aulas de etiqueta e inglês com um professor muito suspeito, o bon-vivant
David, enquanto Ray, incansável, planeja outro roubo mirabolante. Filme ótimo
com todas as letras! Mas uma vez Woody Allen provou que é um grande talento
tanto como ator como diretor. Sei que esse não é o melhor trabalho realizado
por ele, mas me garantiu momentos de puro prazer (a alegria, o prazer e boas
risadas são essenciais na vida do ser humano não?). Lembrou-me filmes antigos,
do Monicelli, do De Sica, do Totó, enfim. Recomendo
Eis uma bela história;
daquelas que conseguem tocar bem no fundo da alma. Foi uma surpresa esse livro
em minha vida e tenho a certeza que ele tocará os corações de todos aqueles que
cultivam o amor ao próximo, coisa muito difícil nos dias de hoje. E Então,
Paulette nos leva ao encontro de pessoas que em determinado momento de suas
vidas compreenderam que laços sanguíneos não são fator determinante para viver
e amar em família. Começamos com a história de Ferdinand, um ancião que sofre
por conta da solidão. Após ficar viúvo e depois de seu filho mais novo se mudar
com a mulher e os seus dois netinhos para a cidade, a fazenda em que vive
produz apenas saudade e recordações. Sua vida tranquila e solitária, no
entanto, está prestes a ser transformada. Após uma grande tempestade, Ferdinand
descobre que a casa de sua vizinha Marceline, mulher que sofre pela morte de suas
filhas há muitos anos, está condenada e praticamente inabitável. Incentivado
pelos netos, Ludo e Luzinho, Ferdinand convida Marceline – e sua cadela, seu
burro e seu gato – para morar com ele. Pouco tempo depois, seu amigo de
décadas, Guy, perde a companheira tão amada, Gaby, e dá a impressão de estar,
aos poucos, abdicando de viver. A solução parece ser a vida partilhada na
fazenda, que, assim, ganha mais um morador, com novos hábitos e habilidades.
Então chegam as irmãs Lumière, duas senhoras simpaticíssimas com suas manias e
histórias. Alguns meses depois chegam também os jovens Muriel e Kim. Quando
menos se esperava, fazenda volta a se encher de amor, fraternidade,
cumplicidade, possibilidades e expectativas. E, enfim, quando todos pensavam
que a alegria havia chegado ao seu ápice, eis que chega Paulette. Esta parte da
história será uma surpresa que só aqueles que lerem o livro saberão. Boa
leitura a todos.

Ontem,
para fechar a anoite com chave de ouro, assisti ao filme do gênio Woody Allen, Um Misterioso Assassinato em Manhattan.
Dei muitas risadas com este belo e divertido trabalho deste que é um dos
maiores cineastas estadunidenses de todos os tempos. Na película,
Allen também atua. Faz o personagem Larry Lipton, que trabalha como editor de
livros. Lipton e sua esposa Carol encontram no elevador do prédio deles em uma
noite qualquer, um casal simpático de velhinhos, senhor e senhora House, que se
identificam como seus vizinhos. No outro dia descobrem que a idosa morreu
vítima de um infarto fulminante, porém, Carol não acredita, levando em conta o
comportamento do viúvo nos dias que se seguem depois da morte. Carol arruma um
pretexto e arrasta Lipton para uma nova visita ao apartamento dos Velhinhos. Ela
descobre uma urna funerária cheia de cinzas na cozinha, e deduz se tratar das
cinzas da falecida. Isso aumenta mais as suas suspeitas, pois na visita
anterior Lilian lhe contara que ela e seu marido haviam comprado um túmulo em
conjunto e gostariam que fossem enterrados juntos. Incentivada pelo imaginativo
Ted, dramaturgo apaixonado perdidamente por Carol e amigo do casal, Carol
começa a investigar Paul, invadindo seu apartamento e seguindo-o pela cidade.
Lipton acha que ela está louca e tenta de todas as formas demover sua esposa da
investigação, mas acaba concordando que alguma coisa está errada, quando ele e
Carol avistam a senhora Lilian viva e andando de ônibus pela cidade. Incrível a
capacidade de Woody Allen em nos fazer levitar em situações das mais esdrúxulas.
A fotografia de Nova York é sensacional, mais um atrativo pra este belo
trabalho. Confira o trailer.

Minha indicação hoje é sobre literatura. Um dos
livros mais interessantes que li nesses últimos dias é o maravilhoso Impressionismo,
trabalho que faz parte da coleção Encyclopaedia da editora LPM. O livro vem
resgatar a história desse movimento artístico que teve origem no século XIX na França.
Para mim é o mais poético de todos. Tudo começou quando os principais artistas
do movimento estavam inconformados com a recusa de suas obras pelo Salão
oficial francês. Alguns desses pintores reuniram suas telas no que ficou
conhecido como o Salão dos Recusados. Esse caráter de contestação está presente
nos primórdios deste, movimento revolucionário que iniciou a arte moderna e
teve como mestres Manet, Degas, Monet e Renoir. Deixando de lado as cenas
religiosas e mitológicas, além de outras convenções tradicionais da pintura, o
impressionismo deu cor a cenas da vida diária a partir das mudanças de luz e do
movimento e influenciou outros gênios, como Toulouse-Lautrec, Gauguin, Cézanne
e Van Gogh, a desbravarem novos caminhos para a arte. Vale a pena ler.