Este foi mais um dos livros que conheci
primeiro como filme. O inesquecível diretor italiano Mario Monicelli adaptou
brilhantemente para o cinema e como gostei muito da película, corri atrás do
livro. Tenho esta mania: a de comparar o trabalho fílmico com o livro para ver
se a adaptação foi bem feita. E só depois de ter lido e me deslumbrado, fui
pesquisar a vida do autor e descobri a sua importância na literatura mundial,
sendo, inclusive, um ganhador do Prêmio Nobel de Literatura de 1934.
Engraçadíssima, a história se passa,
salvo às viagens pela Europa do nosso querido protagonista Mattia Pascal, na
Itália. Parte na cidade de Miragno e parte nas conhecidas cidades de Roma e
Veneza. Mattia Pascal é um homem inteligente, porém gostava da boa vida e,
quando todo o dinheiro que herdara do seu pai foi roubado pelo administrador de
seus bens, ele se viu como um homem pobre, sem ofício e sem perspectivas.
Uma das partes mais interessantes do
livro é na qual Mattia faz das tripas coração para se casar com quem queria.
Neste acontecimento, temos cinco personagens: Mattia; Romilda, a mulher com
quem Mattia queria se casar; a viúva Pescatore, futura sogra de Mattia e mãe de
Romilda; Malagna, o ladrão e administrador dos bens da família de Mattia e,
finalmente, Oliva, amiga de infância de Mattia e esposa de Malagna; este último
era estéril, porém seu maior sonho era ter um filho. Oliva era sua segunda
esposa, e assim como a primeira, não conseguia engravidar. Assim, Romilda que
já tinha um caso com Mattia engravidou e, convencida pela sua mãe, foi pedir
ajuda para Malagna, que era rico, diga-se por passagem, para assumir a
paternidade de seu filho. Convencido, Malagna disse para sua mulher, Oliva, que
a culpa era dela pelo fato de não engravidar e que ele não era estéril, por
isso, Romilda estava grávida dele e seria com ela com quem ele iria ficar.
Então Mattia, inteligente como é, engravidou rapidamente Oliva, que voltou para
Malagna dizendo que já estava grávida quando foi expulsa e exigia que assumisse
a paternidade do seu filho agora, supostamente, verdadeiro. Resumo da história:
com a sua mulher grávida, Malagna voltou para Oliva e Romilda, grávida e sem
marido, casou-se com o verdadeiro pai de seu filho, Mattia.
Isso é narrado logo no começo da
história, e as coisas mudam radicalmente. Mattia, como ele mesmo diz na
primeira página, é um homem que morrera duas vezes. Assim, rodeado por
infortúnios, sua sogra insuportável, sua mulher infeliz, pobre, ele decide
fugir por uns tempos e, sem querer, acaba ficando rico na jogatina. As mortes
sofridas por Mattia estão longe de serem físicas. Depois de ter enriquecido na
jogatina, decide voltar para casa e jogar na cara de sua mulher e sogra todo o
dinheiro que ganhara. Porém, no trem, pega um jornal para ler as notícias
durante a viagem, mas acaba lendo o informe de que seu corpo fora encontrado
depois de ter cometido suicídio.
Mattia então, se vê na oportunidade de
não precisar mais voltar para sua mísera vida em Miragno, cheio de novas
chances e, rico, ele decide assumir uma nova identidade e viver uma nova vida.
A partir daí, o livro fica mais denso. A solidão do protagonista, a
impossibilidade de se fixar em algum lugar ou de ter uma amizade sincera,
leva-o a questionar se sua morte realmente valera a pena.
É um livro
muito gostoso de ler, recomendadíssimo à quem gosta de dar risadas lendo e para
quem gosta de se questionar sobre o que é identidade. Quanto Mattia morreu e
assumiu uma nova identidade – um novo nome, uma nova história, seus problemas
não foram resolvidos, apenas a eles se acrescentaram outros, de natureza ainda
maior.