Costumo ser um grande aficionado
de filmes que conseguem ser intensos com muito pouco. Não precisam de efeitos
especiais bombásticos, nem mesmo de belos cenários. Na verdade, são filmes onde
a imagem é menos importante, espécie de teatros filmados, filmes feitos em uma
locação.
Há em filmes deste estilo uma
dificuldade maior de cativar o espectador. No entanto, há também espaço para
maiores relações e reflexões. Parece não haver relação lógica, mas eu explico.
Em geral, esses filmes, como é o caso de Ensaio
de Orquestra, se torna único por analogia representativa. Ou seja, em um
pequeno grupo de músicos e maestro vemos o mundo. Mais, vemos muitos mundos,
vemos quantos mundos quisermos.
Em um estilo de falso
documentário, Fellini apresenta seus personagens como se fossem os próprios
instrumentos, os entrevistando. Cada um apaixonado por seu pequeno quadrado, acreditando
ser sempre o seu o mais admirável, o que inspira o que comanda. Não enxergam a
orquestra. O maestro aparece como ponto de conflito, querendo reger sob a rígida
batuta.
A orquestra se rebela e expulsa o
maestro; os jovens com ânimos acirrados, os mais velhos sem saber o que fazer.
Torna-se rapidamente uma zona de ninguém, comandados pelo metrônomo ou cada um
por si? Rapidamente os conflitos se espalham entre todos e a falta de coordenação
gera a desordem. O maestro espera pacientemente e, quando já estão perdidos,
calados por uma bola gigante que invade a sala, os músicos voltam os olhos para
seu antigo líder, esperando por um caminho. Ele se levanta e volta a regê-los
como antes, mas com mais poder e legitimidade.
Este breve resumo permite muitas
analogias e é isso que deixa o filme mais atraente. O maestro pode ser
Napoleão, que foi tirado de seu trono de imperador e pouco tempo depois, com a
baderna francesa, foi eleito novamente pelo povo. Ou a orquestra pode ser a
Alemanha que, desesperada, olha para uma liderança que os coloque na linha. Ou
o comunismo, que não conseguiu se organizar coletivamente, dependendo de um
líder.
Permitindo muitas interpretações,
o filme é ainda perfeito porque, tratando-se de um filme de Fellini, os
personagens são excelentes, com suas expressões fortes e apropriadas, com seus
pequenos trejeitos, com seus traços exagerados e reais ao mesmo tempo. Eles
falam com a câmera, falam sobre música e sobre suas vidas. O filme é perfeito,
pois é grandioso e ao mesmo tempo íntimo, é único e ao mesmo tempo universal.
Pouco se fala desta obra prima de Fellini,
injustamente. Recomendo.
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