quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Sideways leva amigos por rota do vinho na Califórnia





















Se os críticos de cinema utilizassem uma tabela de 0 a 100 para classificar os filmes, como fazem alguns críticos de vinhos, Sideways - Entre Umas e Outras receberia nota 98, mais ou menos.
O filme é uma comédia histericamente engraçada, mas ao mesmo tempo melancólica, sobre dois amigos que passeiam pela região produtora de vinho do sul da Califórnia.
A história possui uma estrutura bela, um aroma animador de romances arriscados, um equilíbrio delicado entre sua seqüência de acontecimentos aparentemente solta e um controle rígido sobre o subtexto dramático, toques sutis que remetem aos grandes filmes dos anos 1970 sobre personagens originais. O final é delicado, porém forte, que enche o espectador de esperança com relação a seus personagens desamparados.
Em suma, o diretor Alexander Payne e seu parceiro roteirista Jim Taylor (As Confissões de Schmidt) acertaram novamente. Eles se superaram.
A escolha de Paul Giamatti para atuar ao lado de Thomas Haden Church revela ser um toque de gênio. Poderíamos passar horas e horas assistindo aos dois pisando na bola seguidas vezes, sem nos cansarmos.
Paul Giamatti é Miles, um professor de segundo grau e escritor fracassado que ainda não superou seu divórcio, acontecido há dois anos. Church é Jack, um ator de TV também fracassado que está prestes a se casar.
Entusiasta de vinhos que gosta especialmente de um Pinot Noir, Miles leva Jack para uma viagem de despedida de solteiro: uma semana passada no vale de Santa Ynez, numa turnê pelos melhores restaurantes, vinícolas e salas de degustação de vinhos.
Os dois amigos dos tempos da faculdade são totalmente diferentes um do outro, mas formam uma parceria intranquila à qual Miles contribui com seu senso de responsabilidade e gosto pelo vinho, enquanto o tolo Jack traz seu gosto irreprimível pela aventura.
Uma sombra escurece a semana que vão passar juntos: será que Miles vai exagerar na degustação e descambar para seu "lado sombrio"? Será que Jack vai perseguir a vida - em outras palavras, as mulheres - tão loucamente que colocará em risco sua chance de felicidade conjugal?
Os dois conhecem uma garçonete entendida em vinhos, Maya (Virginia Madsen), e a beldade Stephanie (Sandra Oh). Jack se "esquece" de falar a Stephanie que vai se casar na próxima semana, de modo que os dois caem na cama com paixão desenfreada.
Enquanto isso, Miles reage tão mal à notícia de que sua ex se casou de novo que mal consegue prestar atenção a Maya, que está ansiosa para esquecer seu próprio divórcio.
O roteiro de Payne e Taylor, baseado num romance de Rex Pickett, é um belo exemplo de escrita feita em dois níveis simultâneos. Boa parte dos comentários sobre os vinhos na realidade dizem respeito a questões emocionais mais profundas dos personagens.
Quando Miles fala que ama o Pinot porque é "sensível e temperamental... e precisa de cuidado e atenção constantes", fica claro por que ele se identifica com essa uva. Já Maya, ao falar com eloquência da evolução do vinho, na realidade está falando das vicissitudes da vida, seus picos e seus vales.
Como nas melhores comédias de Billy Wilder ou Blake Edwards, as risadas nascem da dor, tanto emocional quanto física. Por um lado, o sofrimento não é nada engraçado - mas por outro é divertidíssimo.

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