quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Trinta Anos Esta Noite, É ainda hoje um grande filme, feito com imenso talento...


Até ontem eu nunca tinha visto, mas sempre tinha amado Trinta Anos Esta Noite/Le Feu Follet, um dos primeiros filmes de Louis Malle, protagonizado por Maurice Ronet como o belo homem que numa manhã, às vésperas de seus 30 anos, anuncia para si mesmo que vai se matar. O longa mostra a luta de Alain, o atormentado protagonista, contra seu maior inimigo:  ele mesmo. Inspirado no romance de Pierre Drieu La Rochele, Le Feu Follet (fogo fátuo), o filme é um resumo das principais reflexões do movimento existencialista.  A angústia diante da finitude do ser, a amargura com o conformismo burguês, a desprazer sexual e a necessidade da ação como antídoto contra o tédio são temas recorrentes ao longo dos 108 minutos de absoluta densidade filosófica e cinematográfica.
Alain (Maurice Ronet) é um homem que chega em frangalhos à meia idade. Alcoólatra, está há quatro meses internado numa clínica de repouso em Versalhes. No seu quarto, vivencia o drama da ansiedade perpétua encarando obsessivamente o cano de uma pistola.  "A vida não passa tão rápido para mim, por isso quero acelerá-la", reflete. Incentivado pelo médico, Alain arrisca um retorno à vida social, mesmo sem se sentir preparado.  Em Paris, reencontra amigos e acirra os conflitos mais íntimos ao fazer um balanço de sua vida.  O resultado é desastroso e irreversível. Trinta Anos Esta Noite,  espelha o retrato de um homem sem fé, incapaz de conectar-se ao mundo, seja através da arte, da política ou da religião.  É quase um documentário das aflições filosóficas da geração pós-segunda guerra e pré-rebelião estudantil, que tinha em Sartre, Marcuse, Reich e Erich Fromm alguns dos seus principais mentores. 
Balada da desesperança, Trinta Anos Esta Noite aborda sem concessões o suicídio, resumindo-o a uma derrota do conhecimento, da crença e da vontade.  Um filme que deixa na alma uma marca inapagável.


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