domingo, 10 de fevereiro de 2013

Liv Ullmann e suas Mutações


“Eu desejava acomodar-me dentro do bolso de alguém e poder pular para dentro e para fora, quando me conviesse. Agora ando por aí ouvindo as queixas de mulheres que, segundo imagino, estão presas nos bolsos de outros”.
Liv Ullmann.


Esse é um dos vários trechos do sincero livro de Liv Ullmann, Mutações. Em 218 páginas, Liv descreve com sensibilidade e inspiração fatos importantes do seu cotidiano, conduzindo o leitor rumo aos bastidores do mundo glamourizado do cinema do qual faz parte há muitos anos. Liv é reconhecida por ter sido companheira e musa do renomado diretor Ingmar Bergman. No entanto, cabe destacar que seu talento ultrapassa a mera alcunha de "musa norueguesa". Também nada tem a ver com "diva", "sex symbol".
Não; Liv nada tem de musa; não lembra o encanto natural e quase infantil de Audrey Hepburn, tampouco possui o sex appeal de Greta Garbo. Liv é uma mulher a qual podemos classificar como "normal": hesitante, solitária, afetuosa, carente. Poderíamos aqui estar falando, de acordo com essa descrição, de qualquer mulher contemporânea, poderia até estar falando de alguém que de repente esteja lendo essas despretensiosas linhas. Ao contrário do que possa parecer para muitos, não é intenção desta grande atriz fazer de Mutações uma mera autobiografia, também não me parece que o livro penda para o que poderíamos chamar de "expiação de culpa" ou mesmo que possa ser classificado como um best-seller. Sem dúvidas haverá os interessados, fãs do cinema sueco de Bergman (e eu sou um deles), admiradores da atriz e diretora, mas , não creio que estes leitores sejam tantos a ponto de fazer o livro tornar-se o que o Brasil convencionou chamar de best seller, nos moldes de um Paulo Coelho.
O livro é simples e belo em sua singeleza. Não existe nele nada do que não possamos saber com o passar dos anos dessa vida que vamos vivendo, assim, um dia após o outro. Também não se fala de viagens interplanetárias, nem lições de vida de pessoas bem sucedidas profissionalmente. Não; o livro também não narra a história romanceada de ninguém, conta apenas a história de vida de Liv, a mulher, por trás da máscara da atriz, à qual a mesma tanto se refere. Por isso, o leitor é convidado a invadir os bastidores de Hollywood e entender que o luxo e o glamour escondem coisas das quais duvidam nossa vã filosofia, vai também conhecer o universo dos romances de Liv, especialmente o romance com Bergman, do qual Linn é fruto, compreender o jogo de egos e a relação conturbada que vivia ela, a atriz submetida ao diretor, mas, primeiro de tudo, ela, mulher, ele, homem. E isso já dá muito pano pra manga ou página de livro. Digo a vocês, nem precisava estar aqui falando de Liv Ullmann e Ingmar Bergman.
Ao ler Mutações, deparei-me com o universo da construção dos personagens, com o mundo que se apresenta a Liv e que se faz presente no seu modo de interpretar, dizer verdades mentindo. Em Mutações o leitor encontrará tudo isso, talvez possa se identificar em diversos momentos, talvez venha até a enternecer-se e a sentir uma espécie de empatia por Liv que conseguiu escrever um livro com a alma. Ah, e por acaso ela também era atriz. E que atriz.
 

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