Textos sobre literatura, música, cinema e filosofia - e sobre o que mais vier.
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013
A MÚSICA FRANCESA DURANTE A OCUPAÇÃO NAZISTA
Ah, os franceses! É fácil ver
por aí as pessoas dizendo que a França é o país da arte, do charme e da boemia,
com razão. Tal fama não se perdeu nem quando os nazistas ocuparam a Paris da
Belle Époque entre 1940 e 1944, originando grandes clássicos musicais e
cantores que eternizaram o drama francês.
A França já foi o país mais
efervescente do mundo e isso todo mundo sabe. Muito da atual fama que rodeia a
nação francesa se deve ao seu passado cheio de cabarés, de produções artísticas
que mudaram o cenário mundial, da belle époque que perdeu um pouco a graça
depois da Primeira Guerra Mundial (3,5% da população, na maioria homens em
idade produtiva, morreram nas trincheiras), mas que voltou com tudo na década
de 20 como em "Paris é uma
Festa", de Hemingway e de vários outros motivos - isso contando
apenas a virada do século XIX até o começo do XX. Aqui eu vou tratar de um
período específico: de 1940 até 1944, ou mais precisamente, durante a ocupação
nazista. E tentarei me focar apenas (difícil) no que surgiu na música francesa.
Mas enfim, eu vim aqui falar de
música...
Os cabarés abrigavam grandes cantores.
Para a tristeza de alguns, Josephine Baker -- uma das maiores estrelas do
cabaré francês nessa época - parou sua carreira na França para se apresentar em
outros países. Ruim por um lado, bom para o outro porque outra artista famosa,
Mistinguett, apareceu para divertir os alemães. Saindo dos cabarés e indo pra
outro palco, apareceu Charles Trenet, o le fou chantant. O cantor era do tipo
"gente boa", autor de clássicos como "La Mer" e costumava
agradar bastante o público.
Cantava com nostalgia sobre o
passado feliz em "Que reste-t-il de nos amours?", mas isso não o
livrou de ser perseguido. Os nazistas diziam que ele era judeu porque, segundo
eles, Trenet era um anagrama de "Netter", sobrenome típico. Não, ele
não era judeu, mas era homossexual e sentiu-se obrigado a viajar para a
Alemanha com a finalidade de cantar aos prisioneiros de guerra franceses.
Da mesma forma que ele, Edith
Piaf também teve que ir até a Alemanha com o mesmo propósito (um bom motivo
convenhamos). Antes disso, a cantora se apresentou em quase todas as casas de shows
de Paris! Os alemães a assistiam e a recriminavam. Uma das canções que sofreram
isso foi "Mon légionnaire" e isso não a atemorizava. Dedicava músicas
aos prisioneiros e chegou até a esconder três amigos judeus!
Outro que passou a adolescência
vivenciando a ocupação nazista não na França, mas na Bélgica, foi Jacques Brel.
Racionamentos, deportações e censuras fizeram do jovem Brel um insurgente que
anos depois se tornaria um exemplo de sentimentalismo acentuado através de canções,
com interpretações emocionantes.
Foi neste amplo e vívido painel
que se descortinou percebe-se que “A festa continuou”. Cabarés, teatros
cinemas, casas de shows sempre lotados, bem como os salões da elite e o campo
das artes.
REFERENCIA
RIDING, Alan. Paris a Festa
continuou. Companhia das Letras 2010, São Paulo.
CARACALLA, Jean-Paul. Os
Exilados de Montparnasse. Record, 2009, Rio de Janeiro.
Wiser, William. Os Anos Loucos
Paris na Década de 20. José Olímpio, 1991, Rio de Janeiro.
HEMINGWAY, Ernest. Paris é Uma
Festa. Bertrand Brasil, 8ª ed. 2006, Rio de Janeiro.
Sempre fui amante de filmes e um leitor voraz, desde que me entendo por gente. Nunca deixei de achar fascinante o fato de que há histórias maravilhosas dentro de livros e de telas luminosas . Portanto, este blog é uma espécie de extensão do meu hábito de leitura e cinema. Aqui, comento sobre as obras que leio, os filmes que vejo e os comentários geralmente são mais de caráter pessoal do que técnico. A intenção deste espaço é servir de guia para os outros que, como eu, não conseguem ficar afastados de um bom livro ou de um filme espetacular. Ocasionalmente, teço opiniões sobre algum assunto de importância pública. Sejam bem-vindos!
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