sábado, 24 de novembro de 2012

As Mulheres do 6º Andar


Humanista; sim. Se pudesse resumir este filme em uma só palavra, seria esta. Incrível como a simplicidade é tão poderosa capaz de criar um tsunami em nossa essência. Fazer-nos tremer diante do bem-querer e a graça do espírito latino. Foram essas sensações que experimentei ao assistir esta linda película. O filme é ambientado no início dos anos ano de 1960, ocasião em que a França recebeu um grande número de imigrantes espanhol fugidos do sangrento regime autoritário do General Franco. Algumas destas mulheres ibéricas tentavam a vida em Paris como empregadas domésticas, ocupando normalmente o 6º andar dos prédios da cidade, vivendo em condições extremamente insalubres, sem água corrente, com apenas um pequeno sanitário e apertando-se em pequenos cubículos sem arejamento. Qualquer semelhança com alguma situação conhecida não é mera coincidência. Em um desses prédios mora o burguês Jean-Louis Joubert, que tem uma vida sem entraves financeiros. Casado com sua elegante e refinada esposa Suzanne, tem sua rotina organizada entre seu trabalho como corretor na bolsa de valores e seu apartamento de classe média-alta em Paris. Pai de dois meninos, Jean-Louis pode até não compreender, mas tem uma vidinha bem maçante. Sistemático, exige que seu ovo no café da manhã seja cozido no tempo exato, caso contrário sua refeição e seu dia serão péssimos de forma irreversível. Após a morte da mãe, Jean-Louis tem de suportar os caprichos da sua mulher, que enfim tem a oportunidade de se posicionar como a verdadeira dona da casa. Para mostrar quem realmente manda, sua primeira atitude é assediar moralmente a antiga empregada até que esta resolveu pedir demissão e contratar uma nova que possa fazer as coisas do seu jeito. É nesse exato momento que a jovem espanhola Maria entra na vida deste bonachão; não só ela, mas todas as outras empregadas espanholas que na verdade são um exemplo de perseverança e alegria, sempre bem-humoradas (mesmo quando são contrariadas) e com a inabalável esperança de um dia voltar ao seu país e àqueles que lá ficaram. Ao conhecer a nova empregada Maria, Jean-Louis fica automaticamente arrebatado com esse lado amável e irreverente das espanholas, um contraponto extremo à atitude virtualmente blasé de sua mulher e amigas. Não demora até que Jean-Louis decida-se por ajudar as domésticas – o que vai desde desentupir o banheiro grupal até consentir que uma delas ligue para a Espanha para saber como está o sobrinho bebê. Todo esse encanto acabará por transformar-se em uma curiosa paixão inexplicável pela bela e jovem Maria, o que irá acarretar uma série de problemas não só para Jean-Louis, mas para toda a sua família.
O que fica do filme é a história de Jean-Louis, cuja vida sofre uma mudança repentina ao envolver-se cada vez mais com as espanholas e suas tradições. E se essa mudança de comportamento de Jean-Louis pode até parecer um tanto precipitada, não é difícil entender o porquê de sua fascinação pelas espanholas e pela sensível Maria, que por questões pessoais de seu passado, mantém-se a uma distância segura por boa parte do filme, mas que, aos poucos, também vai se envolvendo com este seu novo e curioso patrão. E quando, ao fim do filme, trocamos os ambientes fechados dos apartamentos burocráticos e hábitos formais dos franceses pelo sol das terras espanholas, não há como negar que Jean-Louis estava mesmo fazendo a coisa certa.

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