segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Casablanca - Cena Final


No domingo assisti a um belíssimo filme do Woody Allen (já escrevi sobre ele aqui no blog), porém ocultei propositadamente um detalhe; o fato de que o protagonista (assim como eu) é apaixonado pelo filme Casablanca, principalmente a cena final. Sonha em repetir o diálogo entre Rick e Ilsa um dia, com uma mulher pela qual se apaixonasse (já este sonho eu não tenho). Já escrevi sobre o filme em si, sobre a minha cena predileta, e até postei um vídeo da cena e graças a grande sacada o Allen pude refletir sobre o filme mais uma vez, me detendo principalmente na cena final. É impressionante o fato de Casablanca já ter completado 70 anos de produzido este ano e ainda sim continuar emocionando. Isso porque os modelos de filmes românticos já mudaram tanto com o passar do tempo que fica complicado entender porque este filme continua magnífico. Curioso que, como toda grande produção, esta fita passou por numerosas dificuldades antes de ser concluído. Era um roteiro que chegava diferente todos os dias nas mãos dos atores sempre apressados para terminar suas participações para, assim, trabalharem em outras películas (durante as filmagens era considerado um filme sem grandes pretensões), e por aí vai, em uma lista quase interminável de confusões.

No final, não é que deu certo? O resultado é um romantismo de primeira; uma madame acorrentada ao passado, mas que não consegue deixar de olhar para o futuro. Uma das mais marcantes interpretações da história do cinema, mesmo que Ingrid tratasse esse filme apenas como mais um - ironias a parte, justamente aquele que as pessoas mais lembram nos dias de hoje. Toda vez que tinha uma parada, durante as filmagens, segundo depoimento da imprensa da época, Ingrid Bergman corria para o telefone para saber como estariam as negociações de sua participação em “Por Quem os Sinos Dobram”, que hoje é muito menos popular que Casablanca.

Muitas gerações discutiram sobre a pergunta que não quer calar: por que Rick deixou Ilsa partir, assim perdendo a mulher que amava pela segunda vez? Alguns engraçadinhos argumentam que "só em filme alguém deixaria Ingrid Bergman ir embora". Outros sugerem indícios de homossexualidade entre Rick e o chefe de polícia, por conta da última fala do filme ("Louie, acho esse é o início de uma bela amizade"). Brincadeiras à parte, todo amante da sétima arte parece ter uma suposição para o desfecho de Casablanca. Em minha opinião, Rick sente-se tão envergonhado e diminuído diante de seu rival que não tem coragem de tirar-lhe a esposa. E talvez essa seja a grande ousadia de Casablanca, no final das contas: o herói do filme não é Rick e sim, Victor Laszlo. Não vamos confundir herói com ator principal. Rick é petulante, aborrecido e, em certa medida, tornou-se um fraco após seu desapontamento amoroso. Sem contar que ele trata as mulheres como estorvo, punindo tolamente o mundo pelo mal que ele acha que Ilsa lhe acarretou. Já Laszlo é a personificação da retidão: bravo, astuto e, como se não bastasse, profundamente apaixonado pela companheira. E o que posso dizer da cena final, que é justamente o principal motivo desta postagem (apesar de não parecer)? Memorável. A soberba cena em que ele se levanta e, desafiando os abusados oficiais nazistas, insufla os frequentadores do bar a cantarem a Marselhesa (hino francês) com ele. Rick, no fundo de seu coração, compreende que se Ilsa ficar com ele um dia virá a comparação. E que ele não é indicado para um herói. Apreensão que ele deixa manifestar no final, quando diz à amada que ela se arrependeria "talvez não hoje, nem amanhã, mas logo e pelo resto de sua vida". Compreender este episódio acaba sendo a salvação de Rick, que finalmente toma consciência de que o mundo vai além de seu próprio umbigo. Embora seja sem dúvida um belo filme de amor, Casablanca fala, acima de tudo, de redenção. Redenção de um homem e uma mulher que enfrentam suas assombrações e têm força de seguir em frente. De fazer o que é preciso. O encontro com Ilsa "salva" Rick e retira-o de sua confortável e enfadonha condição de espectador da vida. Ele desperta. Se envolve, se compromete. Enfim, volta a ser uma peça no tabuleiro. Depois do comentário é hora de curtir a cena... Até!

PS: A trilha sonora é uma atração à parte... Escreverei sobre ela em outra ocasião.
 

 

 

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