segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Vai Passar e o Chico Político

a música Vai passar, foi escrita em parceria com Francis Hime em 1984. Este extenso samba-enredo contém versos libertários que comentam, de forma alegórica, o fim da ditadura. Não se sabe se Chico Buarque não punha muita fé no seu samba ou no próprio fim da ditadura, mas a verdade é que o samba só foi concluído no estúdio às vésperas da gravação.
Vai passarNessa avenida um samba popular
Metáfora usada para a transição do governo militar da ditadura para o governo civil.
Cada paralelepípedo da vela cidadeEssa noite vai se arrepiarAo lembrar que aqui passaram sambas imortaisQue aqui sangraram pelos nossos pésQue aqui sambaram nossos ancestrais
Ilustram as incertezas e as angústias vividas durante a longa noite negra que durou 21 anos, excluindo direitos, instaurando a censura, enterrando sonhos e pessoas.
Num tempoPágina infeliz da nossa história
Referência aos trágicos acontecimentos do pós-64.Passagem desbotada na memóriaDas nossas novas gerações
Desconhecimento que a nova geração tem dos problemas vividos durante a ditadura.
DormiaA nossa pátria mãe tão distraídaSem perceber que era subtraídaEm tenebrosas transações. Grupos dominantes – latifundiários, multinacionais e militares – que realizavam uma intensa exploração econômica do país. Nos remete ao Hino Nacional.
Seus filhosErravam cegos pelo continenteLevavam pedras feito penitentesErguendo estreitas catedrais. Metáfora para o trabalho “escravo” do povo brasileiro que, imbuído pela ideologia do desenvolvimento (trabalho e progresso) não percebia o quanto estava sendo explorado.
E um dia, afinalTinham direito a uma alegria fugazUma ofegante epidemiaQue se chamava carnaval, o carnaval, o carnaval
O carnaval ou “um tempo-espaço” em que a comunidade liberta todas as suas repressões, assumindo, nas máscaras e nos disfarces, a sua verdadeira identidade.
Palmas pra ala dos barões famintosO bloco dos Napoleões retintosE os pigmeus do bulevarMeus Deus, vem olharVem ver de perto uma cidade a cantarA evolução da liberdadeAté o dia clarear.
Outra metáfora para a transição do governo da ditadura para o governo civil.
Ai que vida boa, olerêAi que vida boa, olará! O estandarte do sanatório geral vai passarAi que vida boa, olerêAi que vida boa, olará! O estandarte do sanatório geral Vai passarEsperança de mudança com o fim deste “carnaval” comandado pelo “sanatório geral” que iria passar, isto é, acabaria e seria substituído pelo “carnaval popular”.
Não pretendemos negar a possibilidade das letras trabalhadas neste texto serem interpretadas sem o conhecimento de determinados elementos da situação comunicativa em que elas foram produzidas. Fazer isso é o mesmo que dizer que nelas não há poesia, não há polissemia nem suas próprias noções de coerência. Entretanto, se o leitor não souber o contexto em que se deu a produção a crítica ideológica buscada pelo poeta-reporter Chico Buarque de Hollanda pode ficar obscurecida.
Referências Bibliográficas:
BOLLE, Adélia Bezerra de Meneses. Chico Buarque de Hollanda: literatura comentada. São Paulo: Abril Educação, 1980.
MENEZES, Adélia Bezerra. Desenho mágico: poesia e política em Chico Buarque. São Paulo: Ateliê Editorial, 2002.

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