quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Um Dia Muito Especial



















"Um Dia Muito Especial" foi o penúltimo e o melhor filme da dupla de atores mais famosa da Itália, Sophia Loren e Marcello Mastroianni; ela envelhecida, e ele afeminado.Foi o único trabalho de Sophia com o diretor Ettore Scola. Mastroianni trabalhou com ele diversas vezes ("Ciúme à Italiana", "Casanova e a Revolução", "Che Ora É"). Ganhou o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro e foi indicado ao Oscar na mesma categoria. O texto adaptado para teatro foi montado no Brasil com Tarcísio Meira e Glória Menezes.Para o povo italiano, 8 de maio de 1938 foi um dia especial, feito de paradas e celebrações para comemorar a visita de Hitler a Roma. É o pretexto para Scola fazer uma das mais belas histórias de amor dos últimos anos, um encontro de duas solidões, vítimas da ditadura: Antonieta, uma dona de casa mãe de seis filhos e Gabriele, um locutor de rádio gay que aguarda sua deportação para um campo de prisioneiros.Os dois se conhecem na parada por acaso e se entendem, apesar de suas aparentes diferenças. Na verdade são ambos marginalizados pela sociedade fascista, a mãe de família e o homossexual, que é apontado como dissidente e subversivo. São os mal-amados que têm um momento fugidio de compreensão. A excelência de um dia muito especial está principalmente na sinceridade com que são colocados os protagonistas. Talvez a história pudesse se passar nos dias atuais. A intenção inicial de Scola foi mostrar os diversos pontos de contato entre as condições femininas e homossexual. Mas depois ele viu que essa "denúncia" seria muito mais exemplar e mais útil se esses isolamento e repressão não fossem apenas psicológicos, sutis, subterrâneos como nos anos 70 (época do lançamento do filme), mas se evidenciasse de uma maneira aberta. "Uma ditadura", afirmou Scola, "tem instrumentos de repressão mais diretos e imediatos, mas com a mesma matriz e poder de imaginação atuais". Scola tinha seis anos no dia da parada e foi um dos membros da organização Filhos da Loba que desfilou nas comemorações. Por isso há um terceiro personagem importante: o rádio, que narra os detalhes grandiloqüentes desse dia imortal para os fascistas, é o contraponto para aquela espécie de gaiola, onde Antonieta e Gabriele foram deixados.Em Antonieta está sintetizada a mulher italiana que está preparada para ter seu sétimo filho e assim ganhar uma medalha do governo, que sublima sua sexualidade na figura de Mussolini, o primeiro macho da Itália. A figura humana de Antonieta está perfeitamente traçada por Sophia Loren desde "Duas Mulheres", que lhe deu Oscar, embora mais surpreendente seja Mastroianni num papel que vai contra o tipo "latin lover" e que ele desempenha com excepcional habilidade. "Um Dia muito Especial" é um show de interpretação de uma das duplas mais famosas do cinema, resultado do excelente trabalho de direção. Esta é uma comédia triste, de ritmo lento, por vezes até exasperante. Há um clima de delação naquele prédio monumental, uma sutil precisão no tratamento dos personagens (o gay não se "reforma" depois do encontro amoroso) e uma utilização exemplar de cenas de arquivos da época. No entanto, o fator mais expressivo é a fotografia do Pasqualino De Santis. Ele procurou simular branco e preto em cores, dessaturando as cores fortes e dando ao filme uma tonalidade semelhante às das revistas dos anos 30, como se fossem coloridas à mão. É o tom perfeito para esse filme muito especial.


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