sábado, 27 de novembro de 2010

Igreja, nazistas e judeus se confrontam em Amém


O drama gira em torno de Kurt Gerstein (Ulrich Tukur), figura que existiu na vida real e foi um homem complicado, para dizer o mínimo. Protestante profundamente religioso, mesmo assim Gerstein se tornou o maior especialista em higiene a serviço da SS. Foi nessa condição que ele entregou o gás Zyklon B aos campos de extermínio do leste europeu.
Apesar disso, é fato histórico que Gerstein passou anos tentando alertar o Vaticano e outras figuras religiosas sobre o massacre dos judeus.
Baseado na peça The Representative, escrita nos anos 60 por Rolf Hochhuth, o roteiro de Costa-Gavras e Jean-Claude Grumberg supõe que Gerstein acabou por participar do funcionamento dos campos de extermínio justamente para poder prestar testemunho de seu horror.
"Serei espião de Deus", ele declara quando é aconselhado a demitir-se de sua função. Em outros momentos, ele diz que, em lugar de deixar seu país, opta por ser "um alemão na Alemanha" que algum dia irá relatar suas experiências de guerra.
Gerstein fracassa em seus esforços clandestinos. Ele não consegue sabotar o transporte do gás Zyklon B e tampouco consegue convencer o Vaticano a assumir uma posição aberta sobre o massacre de judeus.
Depois de ser feito prisioneiro pelos Aliados, seu célebre Relatório Gerstein ajuda a documentar o Holocausto. Antes disso acontecer, porém, ele comete suicídio.
Falta coração aos personagensOutras figuras de destaque povoam o drama, entre elas duas fictícias. O padre jesuíta Ricardo Fontana (Mathieu Kassovitz) acredita no relato de Gerstein. Através de seus contatos no Vaticano, que chegam até o próprio papa Pio 12, ele transmite a denúncia de genocídio feita por Gerstein, mas é recebido com palavreado diplomático e retórica religiosa vazia.
Outro personagem, um médico dos campos de extermínio (Ulrich Muhe), é alguém que lembra Fausto: nunca se desvia do pacto que fechou com o diabo. Ele se orgulha de ter silenciado sua consciência, fato que o ajuda a promover a prosperidade da nação e da raça alemãs.
E há, também, o personagem chave de tudo: o próprio papa (Marcel Iures). Mais diplomata do que líder espiritual, Pio 12 representa um legado de anti-semitismo histórico e de manobras políticas que guardam pouca relação com a teologia. Ele personifica a religião destituída de ética.
Os atores representam seus papéis com tremenda sutileza e convicção. Mas nenhum dos personagens chaves emerge como indivíduo por inteiro.
Eles representam idéias, e por esse motivo Costa-Gavras e Grumberg se negam a lhes atribuir dúvidas ou complexidades adicionais. E isso acaba privando a história da ambivalência moral que seria capaz de proporcionar ao espectador um drama realmente profundo.
O tema do filme é a história, não as emoções humanas. Gerstein é analisado como homem apenas na medida em que é ator da história, não na condição de marido, pai ou amigo.
Durante toda sua carreira, Costa-Gavras sempre deixou seus personagens em segundo plano em relação à ação histórica. Em Amém, ele demonstra controle total sobre o desenho, a fotografia e o realismo histórico do filme. Mas o que falta a Amém, como à maioria de seus trabalhos, é o simples bater de um coração humano. Colorido DTS Dolby Digital Mathieu Kassovitz, Ulrich Tukur e Ulrich Muhe. Costa-Gavras.

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