terça-feira, 21 de junho de 2011

Ingmar Bergman - O cinema humanista







A obra de Ingmar Bergman compõe um dos mais abastados e essenciais capítulos da história do cinema. Como poucos, o diretor se apropriou da linguagem para realizar um conjunto expressivo que transcende a própria experiência cinematográfica. Abordando temas essenciais à existência humana – como desejo, morte e religiosidade –, o cineasta rompeu as fronteiras do cinema sueco e atingiu a universalidade. A relação de Bergman com o cinema precede seu trabalho como profissional. Antes de iniciar na tela, já havia descoberto o cinema como forma de expressão e até de sobrevivência. Aos nove anos, no natal de 1927, não resistiu à tentação de ver o irmão presenteado com um projetor e sugeriu uma barganha definitiva para o futuro de sua vida: trocou um exército de chumbo pelo cinematógrafo. Filho de pastor luterano, sofreu uma criação rígida, fundamentada em conceitos relacionados ao pecado, confissão, castigo, perdão e indulgência. Em sua autobiografia, Lanterna mágica, Bergman faz relatos chocantes. Sempre que contava uma mentira recebia castigos constrangedores, como desfilar vestido de menina ou ser trancafiado num armário. É nesse período que vivencia sentimentos como vergonha ou humilhação, tão explorados em seus filmes. A iniciação profissional do diretor se deu através de um dos patriarcas do cinema sueco, Victor Sjostrom, homenageado no trabalho Morangos Silvestres, em que Sjostrom interpreta o ator principal que perde a noção da memória face à ameaça da morte. Do mestre, diretor do clássico O Vento, com Lilian Gish, Bergman herdou a compreensão da natureza como elemento de sustentação dramática. É o que ocorre, por exemplo, em Monika e o Desejo, onde o verão inunda a trama de sensualidade.Foi esse filme, por sinal, que despertou o interesse de Woody Allen pelo diretor sueco. Ainda que Bergman seja quase sempre lembrado por suas obsessões mais frequentes, como o passar do tempo, a morte e a impossibilidade de comunicação, presentes em filmes como Luz de inverno, O Silêncio, Persona, O Sétimo Selo e muitos outros, o conhecimento mais aprofundado de sua obra revela um autor de talentos múltiplos. O Olho do diabo, Sorrisos de uma noite de Amor e Para Não Falar de Todas Essas Mulheres são filmes de um bom-humor admirável, sobretudo quando se sabe que são filmes do mesmo autor de Vergonha, Face a face e Da Vida das Marionetes.
Com ampla experiência teatral, Bergman trabalhou em seus filmes com um grupo de atores que praticamente não se alterou. Harriet Andersson, Erland Josephson, Max Von Sydow, Ingrid Thulin, Liv Ullman e o insuperável Gunnar Bjornstrand são apenas alguns dos astros imortalizados pelo seu cinema. Sem eles, não existiria essa obra feita a base de faces, gritos, silêncios e sussurros. Apesar da fama mundial, Bergman não desfrutava da mesma glória na terra natal, a Suécia. Acusado de burlar o fisco, em meados da década de 70, caiu em desgraça. Desde então, viveu recolhido na ilha de Faro, de onde só saía para encenar suas peças teatrais ou realizar especiais para a tevê. Fanny e Alexander, Oscar de 1985, foi seu último trabalho para o cinema. O mundo perdeu este grande gênio em Julho de 2007 aos 86 anos, porém a sua obra o torna imortal.

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