segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Padre Amaro suscita polêmica sobre Igreja Católica







Sensação de bilheteria no México, onde o fato de ter sido condenado pela Igreja Católica serviu apenas para atrair um público ainda maior, O Crime do Padre Amaro, transpõe para um ambiente moderno o romance original de Eça de Queiroz lançado em 1875.
Apesar da direção respeitável, que evita excessos, o filme não deixa de ser um pouco "mundo cão" no acúmulo que faz de circunstâncias eróticas, violentas e desonestas que atormentam as consciências dos religiosos contemporâneos.
O fato de em alguns momentos mais lembrar uma telenovela do que um filme comum não vai afastar o público para o qual o catolicismo e a corrupção formam uma dupla que suscita fascínio.
Abençoado com um rosto angelical que esconde suas ambições, o recém-ordenado Padre Amaro (o ator mexicano Gael Garcia Bernal, de E tua mãe também) já foi escolhido pelo bispo da diocese (Ernesto Gomez Cruz) para ter uma carreira nobre, mas primeiro terá que fazer sua lição de casa.
Assim, ele é enviado para a cidade interiorana de Los Reyes, cuja catedral impressionante é sede da paróquia dirigida há muitos anos pelo Padre Benito (Sancho Gracia).
Este mantém um romance escondido com a proprietária de restaurante Sanjuanera (Angelica Aragon) e lava dinheiro para o comandante do narcotráfico da região - sem problemas morais, pois acha que tudo isso é um mal lamentável, mas necessário, já que as doações generosas do traficante financiam a construção de um moderno hospital/orfanato/asilo para idosos da igreja.
O Padre Amaro vê tudo isso com desdém, embora admita acreditar que a Igreja "evitaria muitos problemas" se deixasse o celibato dos padres ser optativo. Mas não demora a mergulhar em problemas, ele próprio, especialmente por começar a namorar a beldade Amélia (Ana Claudia Talancon), filha de Sanjuanera.
Amélia imediatamente larga seu namorado, o candidato a jornalista Ruben (Andreas Montiel). Em retaliação, este desenterra uma série de escândalos envolvendo os padres, a começar por uma foto que expõe as ligações do Padre Benito com o crime organizado.
O furor público provoca a ira do bispo. Para salvar sua própria pele, Padre Benito tenta fazer de bode expiatório o Padre Natálio (Damian Alcazar), cujos esforços para travar contato com os camponeses da região montanhosa lhe valeram a acusação de entrar em conluio com guerrilheiros.
Enquanto isso, as manobras cada vez mais maquiavélicas de Padre Amaro chegam a um impasse quando Amélia lhe comunica que está grávida.
O clímax da história traz um aborto em más condições para somar-se a uma narrativa já mergulhada em pecados ligados a sexo, mentiras, álcool, chantagem, assassinato e exploração de doentes mentais.
A direção de Carlos Carrera e o roteiro de Vicente Lenero (baseado no original de Eça de Queiroz) abordam o acúmulo de elementos sórdidos da história de maneira bastante direta e digna de crédito, se bem que as ironias e hipocrisias às vezes parecem exageradas.
Embora em alguns momentos se aproxime do clima de telenovela, o filme possui convicção e moderação em doses suficientes para evitar o sensacionalismo puro.

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