quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Batismo de Sangue: coragem de mostrar a tortura

Delação é uma palavra infame em qualquer contexto. Traidor, covarde, Judas são termos que acompanham pela vida inteira qualquer militante político que tenha colaborado com a repressão e delatado seus companheiros.

Com muita coragem, o diretor Helvécio Ratton, no filme Batismo de Sangue, põe o dedo na ferida e mostra as torturas que sofreram os frades dominicanos, que davam retaguarda à Aliança Libertadora Nacional, liderada por Carlos Marighela. (Os frades dominicanos, foram expressão da mudança de rumos da Igreja Católica na América Latina, na década de 60, cujos padres e bispos em número crescente, contestavam a cumplicidade da alta hierarquia com as oligarquias e se posicionavam ao lado dos explorados). Com cenas hiper-realistas de sessões de tortura, comandadas pelo delegado Fleury, nos porões da ditadura militar, as confissões dos frades vão aparecendo como consequência de sofrimentos insuportáveis para um ser humano que o levam ao pleno aniquilamento físico e psíquico.


Um dos protagonistas do filme, o frei Tito(interpretado maravilhosamente pelo autor Caio Blat), sofreu de maneira mais cruel as consequências das torturas, levando-o inclusive a distúrbios psíquicos e, finalmente ao suicídio num seminário na França. A demonstração do profundo sentimento cristão que movia os frades dominicanos para ajudar a revolução e para a solidariedade com os companheiros de prisão, faz desse filme um marco no cinema político no brasil.

Há ainda, no filme, referências a outros fatos políticos que envolveram a esquerda na época, como o frustrado e mal organizado congresso da UNE, em 1968, em Ibiúna (SP), e como consequência, a prisão de centenas de estudantes, pouco antes da edição do AI-5, que instalou o regime de terror no estado do Brasil. O filme também faz alusão aos sequéstros do embaixador americano, no Rio de Janeiro, e do cônsul da Suíça , em São Paulo, por grupos guerrilheiros, que exigiram e conseguiram a libertação de presos políticos em troca da soutura dos diplomatas.

Seguindo a trilha do excelente filme Zuzu Angel, de Sérgio Rezende, Ratton não poupa setores da Igreja Católica que, como Pilatos lavaram as mãos diante do sofrimento dos presos políticos torturados, nem faz qualquer concessão aos militares e civis que participaram de repressão, financiada por grandes grupos empresariais nacionais e estrangeiros, nem apresenta supostas crises de consciência dos torturadores (crise explicitada, por exemplo, no filme O que É isso, Companheiro?, de Bruno Barreto, baseado no livro homônimo de Fernando Gabeira); pelo contrário, eles são mostrados como fiéis cumpridores de suas funções certos de sua impunidade.

Nesses tempos sombrios em que vivemos, as alucinações de frei Tito, no seu exílio na França, tendo visões macabras do delegado Fleury perseguindo-o em todos os lugares, não paracem tão irreais, pois pequenos, mais não menos tenebrosos Fleurys continuam torturando suspeitos nas delegacias de polícia do país, acobertados pelas oligarquias políticas e econômicas que nos governam(algumas até deram sustentação a ditadura militar ). Enfim,todos nós experimentamos, com maior ou menor grau de lucidez, o horror que é viver nesta fase do capitalismo, Fonte: CMI Brasil.

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