segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Caché - um olhar sobre a imagem e seu efeito no homem







A indicação fílmica de hoje vem da França. Tive o prazer de assisti esse filme pela terceira vez e posso falar com certeza que a película não está incompleta, segundo muitos dizem. Requer um olhar mais apurado obre o homem moderno e o seu cotidiano. Este trabalho expressa muito sobre a imagem e seu efeito no homem hodierno. A princípio, esta parece uma significação simplista, mas quando o assunto é o cinema de Michael Haneke, nada costuma ser tão aberto assim. “Caché” (2005) é uma película que deixa bem claro o poder desestruturador da vigilância, porém vai mais longe ao questionar a natureza e o sentido das mídias audiovisuais, assim como o processo de criação delas. E como um bom artista que utiliza seu ofício para confrontar a realidade, Haneke não perde a ocasião para expor as relações confusas das classes socias, sempre partindo do ponto de vista do passado e da culpa. Georges Laurent (Daniel Auteuil) é apresentador de um programa de televisão sobre literatura, enquanto sua esposa Anne (Juliette Binoche) trabalha numa editora. O quadro familiar se completa com o filho adolescente, Pierrot (Lester Makedonsky). O casal é bastante erudito e possui amigos que frequentam a casa com constância. Essa vida normal e sossegada é sacudida pelo recebimento sucessivo de fitas de vídeo. No começo, elas parecem ter apenas a intenção de vigiar a entrada da residência dos Laurent, mas logo chegam embrulhadas com papéis desenhados que destacam o elemento sangue. Esse pormenor apavora Anne e o marido. Novas fitas surgem. Georges distingue lugares que dizem respeito à sua infância. Para ele, as imagens estão relacionadas com um passado de egoísmo e discriminação que sempre optou por esquecer. A lembrança de Majid (Maurice Bénichou) - um órfão argelino - se torna uma constante. Quando garoto, Georges aprontou para que Majid não crescesse ao seu lado. Seu plano deu certo e o pobre garoto argelino foi parar num orfanato. Mesmo nesse período, Georges já conhecia muito bem as diferenças sociais; o outro não poderia ter as mesmas oportunidades. Nesse momento, Haneke, como um alemão radicado na França, coloca o dedo na história política do país e exibe o eterno recalque causado pela independência da Argélia. Falando em história, volvamos a nossa memória para o filme do mesmo diretor, “Código Desconhecido”, com uma Paris sucumbida em racismo contra imigrantes africanos e do Leste Europeu. Uma seqüência de “Caché” não deixa nada a dever ao filme anterior. Georges sai delegacia e atravessa despreocupadamente a rua, quase sendo atropelado por um ciclista em alta velocidade. Irritado, ele vai para cima do rapaz. Este pede desculpas, mas logo também irritar-se quando percebe a fúria de Georges. A situação seria natural se não houvesse um pequeno detalhe: o ciclista também era um imigrante africano. Georges procura Majid para exigir esclarecimentos. Mas será este o culpado pela produção e envio dos vídeos? Ou será o filho do argelino, para vingar a infortúnio do pai? Ninguém está fora de suspeita, nem mesmo Georges e sua família. De qualquer forma, Haneke não tem interesse em apresentar esclarecimento algum - uma marca pessoal do diretor. O formidável em “Caché” não é a autoria e sim a consequência causada pelos vídeos e pelos desenhos. Se restam lacunas na história cabem a nós finalizá-la. Palavras do cineasta em entrevista: “O espectador tem que construir suas próprias cenas, e qualquer coisa que eu mostre significa enfraquecer a fantasia do espectador”.

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