domingo, 10 de abril de 2011

Luz de Inverno






" Luz de Inverno" é o segundo filme da chamada "Trilogia do Silêncio", do diretor sueco Igmar Bergma. Porém hoje, em entrevistas recentes, ele nega que os filmes "Através de um Espelho", este e "O Silêncio" formem uma trilogia sobre o "Silêncio de Deus" e que só disse isso na época porque fazer trilogias estava na moda. Mas parece estar errado. Ainda que de forma inconsciente, a temática entre os filmes é semelhante, mesmo que se diferenciem na forma e no estilo. Dos três filmes, "A Luz de Inverno" é o mais seco, o mais distanciado, e o mais difícil de ver. Para começar, Bergman não usa trilha musical, apenas umas poucas músicas incidentais aqui e ali. Como sempre, a fotografia é do seu iluminador habitual, o grande Sven Nykvist, que em poucos exteriores consegue passar o clima opressivo do inferno. O filme é construído em três atos, ou grandes cenas. O primeiro no interior da igreja (também sem adornos), o segundo na casa da amante Ingrid Thulin (onde de forma crua e até chocante ele disse que não suporta aquela mulher que há dois anos o persegue e mima, na esperança de se casar com ele) e o terceiro na sacristia de outra igreja (e começa e termina com atos litúrgicos). O filme é bastante claro e apresenta seu protagonista, o pastor Tomas (o que equivalente a Tomé, o apóstolo que precisava ver para crer), cada vez mais descrente em Deus _a crise começou quando perdeu a mulher que amava até demais, dizem seus amigos. Quando um pescador (Von Sydow) vem lhe procurar, com relutância, porque está em crise existencial, porque tem medo da situação mundial, porque a China vai criar a bomba atômica e o mundo pode ser destruído, Tomas não consegue ajudá-lo. Logo depois, o pescador se mata, e sua mulher, excelente presença de outra musa de Bergman, Gunnell Lindblom, aceita tudo com complacência. Mas isso não lhe provoca remorsos ou maiores reflexões _como em "Através de um Espelho", ele fala em Deus como uma aranha. O momento mais marcante e famoso talvez seja a conversa com o sacristão, quando ele discute a Paixão de Cristo e afirma que ele não deve ter sofrido tanto ao ser torturado, porque tudo teria durado quatro horas, mas pelo fato de se sentir sozinho e abandonado por todos e até mesmo pelo seu Pai divino. Embora curto, não é um filme fácil e acessível aos que ainda não estão familiarizados com Bergman (que teria se inspirado em "O Diário de um Pároco de Aldeia", de Bresson, diz a capinha). Edição em DVD vem com trailer americano de cinema, texto sobre vida e obra do diretor, galeria de fotos.

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